Um A Um

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Confrontaram seus invasores. Lutaram bravamente. Mesmo com os olhos cheios d'água e o corpo coberto pela raiva, Empereur abatia seus inimigos. No meio da batalha avistou Morin, quando ficou com os olhos totalmente azuis e uma forte rajada de vento gélido saia do seu corpo, congelando todos que estavam ao seu redor.

Sim, não foi fácil. Mas conseguiram defender a tribo, derrubar os invasores e manter de pé o pouco que restou dela.

Era o momento de juntar os tecidos. Momento de reerguer-se de novo. As moradias estavam todas destruídas. Algumas fagulhas teimavam em ficar acesas sobre os olhos molhados dos seus moradores. Grupos foram separados para ajudar as famílias; tratar dos feridos e voltar a montar as tendas novamente.

Morin e sua mulher, a líder da tribo, passavam boa parte do tempo juntos na tenda dos curativos. Ele até que tentava falar com ela, falar tudo o que ele estava sentindo, tudo o que tinha passado, mas era uma tarefa difícil. Ela ficava sempre ocupada dando ordens aos seus guerreiros sobre os próximos passos para reestruturação de toda a tribo. Outrora, ouvia as famílias, sentindo suas perdas e tentando de alguma maneira confortar seus corações em meio àquela tormenta.

Nessas cenas, Morin sentia orgulho da mulher que estava em sua frente, da líder que ela tinha se formado. Mas por outro lado, a tristeza congelava seu coração, porque não esteve junto a ela para acompanhar seu crescimento; ouvindo-a, protegendo-a, aquecendo-a em seus braços nos momentos difíceis.

Sua estadia ali não estava sendo nada fácil. O povo mais antigo lembrava dele, e não aceitavam sua presença entre eles, mas por meio das palavras de sua líder, compreenderam que a ajuda amenizou os danos, daquilo que poderia ter sido ainda pior.

~~

Alguns inimigos que sobreviveram ergueram acampamento quilômetros adiante, antes de seguirem viagem de volta para suas casas.

A fogueira estalava no meio deles e exibia feridas em seus rostos.

Em meio aos pensamentos que circulavam entre eles, de como ela conseguiu sair de tribo fraca para uma tribo forte, e de como eles nãos sentiam tanta a falta de alimentos como as outras... um som rompeu suas atenções.

"Fomos seguidos. " – falou um com os olhos em volta do acampamento.

"Não. " – disse outro. "Não viriam atrás de nós. Acreditam que estamos mortos. "

"Preza-de-Gelo? " – questionou um que estava próximo ao fogo.

"Acho que não" – respondeu aquele que estava à direita do fogo. "Eles não desceriam tanto aqui para o sul. "

"Lebres, talvez? " – argumentou outro ao fundo.

"Pode ser" – respondeu aquele próximo a tenda.

O que estava à frente do grupo olhou para trás, e um membro tinha sumido. Os outros que estavam de machados, espadas, escudos, atentaram-se, com medo.

Outro companheiro tinha sumido.

Olharam em volta, nada.

Mais um deixou de existir entre eles.

Outro... Outro... E mais outro.

Apenas um restou. Espada e escudo em mãos. Ele olhou para os lados. Somente a escuridão da noite o cercava. Segurou mais firme em seu escudo. Travou seus dedos no cabo da sua espada. Então, percebeu que sua sombra sobre o chão cresceu e tomou outra forma. Virou-se rapidamente, mas dentes pontiagudos foram sua última lembrança.

A fogueira apagou-se. Silenciou seus estalos. Ficou fria como toda aquela terra.

~~

A líder de Uren, saiu da tenda onde encontravam-se os feridos, e esbarrou com Empereur, seu filho.

"Onde estava? Precisamos da ajuda de todos. E você é meu filho, deve dar o exemplo. "

Empereur olhou para ela e avistou seu pai ao fundo cuidando de alguns enfermos.

"Eu precisava ficar um pouco sozinho, " – respondeu.

Sua mãe o seguiu com os olhos, até ele sumir no meio dos outros.

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