Dor

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Por sobre a copa de uma árvore, jovens juntaram-se próximo a um tronco e começaram a pisotear e chutar. Em um determinado momento, revezaram-se entre si. Minutos depois, abriram a roda para o outro membro passar. Este ajoelhou-se.

"Não esqueça da minha caça, pirralho" – disse o garoto segurando os cabelos marrons do menino caído. "Sacô? " – empurrando-o logo depois.

O grupo, então, deixou o menino. Cada um segurou nos vários cipós que pendiam dos galhos e saíram do local, balançando de árvore em árvore.

Depois de alguns minutos, Téo levantou-se com dificuldade. Todo o seu corpo doía. Colocou um passo à frente, mas seus olhos foram capturados por aquela que estava caída ao lado dele.

"Cristal..." – agachou-se. "Suas asas" – levou sua mão até as asas da Borboleta-esmeralda que estava quebrada, mas recuou. Segundos depois, pegou-a delicadamente e colocou-a dentro de um potinho e logo em seguida para o bolso.

Levou sua mão esquerda até suas costelas que doíam muito. Colocou seu arco de madeira nas costas. Segurou o cipó que estava do seu lado e foi embora.

~~

Horas mais tarde, encontrou-se com os jovens. Jogou a caça sobre o tronco. Asas curtas e pernas longas. Era semelhante a uma ave, mas não possuía a habilidade de voar.

"Muito bom, pirralho" – disse o jovem a frente do grupo.

Téo deixou as costas para eles, mas quando foi dar um passo para afastar-se da rodinha, foi ao chão. Um dos meninos colocara o pé para ele tropeçar. todos riram.

~~

Mais ao centro da Vila-suspensa, os garotos foram só elogios por parte de Gallyty e Coldy, ao contrário de Téo, que não foi recebido por bons olhos.

"Nada, Téo? " – questionou a Caçadora.

"Melhore da próxima vez" – pediu o Rebelde.

~~

Chegando em casa todo machucado e dolorido, não havia nada para comer e nem sua mãe estava em casa, como sempre.

Ela trabalhava na patrulha da Vila. Téo sentiu um alivio por estar sozinho, mas sua alegria durou pouco quando a vigilante colocou os pés atrás dele pegando-o de surpresa.

Não houve cortesia, mas sim, discussões. Ela cheirava a álcool.

Téo esboçou levantar um pouco seu tom de voz, mas rapidamente foi contido depois de levar um tapa de sua mãe. O silêncio pairou sobre eles. Téo permaneceu imóvel por alguns minutos. Não comentou sobre o que tinha acontecido com ele. Por que falaria? Será que ela se importaria?

"O que está esperando? " – questionou ela brava. "Eu estou com fome"

Téo girou sobre seus calcanhares. Pegou Cristal que estava dentro do potinho e fechou a porta de sua casa, deixando sua mãe dentro da fumaça de cigarro que ela expelia de sua boca.

Quase de noite, retornou com uma caça sobre os ombros. Mas sua mãe, como de costume, não estava em casa. Então, desceu a grande árvore. Depois de vários minutos e terrenos irregulares, chegou a um grande vale. Atravessou um riacho e entrou numa pequena abertura na parede. Jogou a caça ao chão, juntamente com um tufo de capim.

"Pé grande" – chamou. "Pé grande! " – chamou mais uma vez.

Poucos foram os segundos até o chamado ser atendido. Grandes orelhas, olhos pequenos e pelo fofinho vieram em sua direção lentamente. Lambe-o.

"Olha o que eu trouxe para você" – apontou para o capim. "Da melhor qualidade" – sorriu.

O enorme animal, semelhante a um coelho, comeu do lado dele.

"Só mais alguns dias para sua pata melhorar" – passou a mão na pata traseira do animal.

Segundos depois, algo foi rompendo a terra.

"Bolota! "

Era semelhante a um tatu. Sua carapaça era grossa e pontuda, como espinhos. E entre os espinhos, uma coloração azulada.

"Raízes para você" – continuou Téo diante o animal.

Logo em seguida, Téo pegou uma noz e jogou para o alto.

"Pensa rápido! " – alertou.

Rapidamente um esquilo saiu de uma pedra e pegou a noz no ar, caindo com ela do lado dele.

"Rápido como sempre, Ligeirinho" – elogiou.

~~

A noite caiu sobre o vale e juntamente com ela a chuva molhou Mar-verde. A madeira estalava consumida pelo fogo. A caça repousava sobre as chamas. Téo, aquecido pela luz que dançava a sua frente, colava os pedaços das asas de Cristal com uma seiva que ele pegara de uma árvore. Delicadamente foi juntando os cacos, um a um... até colar todos. Mesmo com dificuldades de bater suas asas que eram semelhantes a uma esmeralda, Cristal voou diante dele. Téo sorriu. Mas em meio a alegria, ele foi tomado por uma profunda tristeza e começou a chorar.

Chorar, chorar, chorar...

Pé grande, o Coelho-gigante, aproximou-se dele. Bolota, o tatu, também. Ligeirinho, o esquilo, não ficou longe. Por fim, Cristal, a Borboleta-esmeralda, pousou sobre seu ombro.

Téo abraçou o Pé grande e chorou por toda aquela noite.

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