Huugo deixou Haman. O medo o conduziu para bem longe daquelas casas. Se ficasse, talvez não veria o sol novamente sobre as areias de Ahnatnom.
Huugo olhou para suas mãos. Envolveu-as em suas pernas para próximo do peito. Ficou sentado de modo fetal sob o domo de pedra que o cobria. Grandes espaços ligados por extensos corredores subterrâneos produzidos pelos enormes Acohnim.
Uma enorme carcaça destacava-se próxima a entrada do túnel. Suas colossais costelas fincadas na areia exibiam suas pontas sob o céu.
Os olhos de Huugo não eram mais os mesmos. Eram medrosos e alertas.
Os dias e as noites, principalmente as noites, eram longas. Piscar, dormir, não era uma opção. As semanas naquele lugar, noroeste ao reino de Ahnatnom, fizeram seu cabelo, barda, crescerem, deixando-o irreconhecível. Primitivo. Agressivo. Perturbado.
Gritos de ordens ecoavam por entre aquelas paredes. Acreditava que só assim podia livrar-se dos pesadelos que o cercavam.
"Sai daqui! "
Pedras eram lançadas para todas as direções, assim como chutes e socos atacavam o ar. Outrora, o choro compulsório tomava conta do lugar, molhando seu rosto consumido pela tristeza e encharcando a areia sob seus pés nus.
"Me desculpa! " - dizia Huugo muitas vezes.
Talvez as lágrimas lavassem sua alma pelo ato que cometera, matando Laudicéia, sua esposa e deixando Diana, a filha que acolhera, órfã de pai e mãe. Assim acreditava.
"Chega! Vai embora! " - gritou sob o domo. "Não aguento mais. " - continuou. "Por favor..." - rasgou sua veste e caiu no chão.
"Você tem uma dívida..." - ecoou uma voz.
"Que?!" - questionou Huugo.
"Hora de pagar. " - continuou a voz.
Huugo olhou em volta. Nada. Correu assustado.
"Sai! " - exclamou quando entrou a esquerda no túnel.
O fardo sobre seus ombros era sua condenação, assim pensava. Esse foi seu pagamento. Não havia mais dívida. Tudo estava sendo pago, acreditava ele.
"Olhe pra mim! Não há nada a se pagar! " - berrou.
"Todos pagam. Todos sempre pagam. " - falou a voz.
Huugo olhou para tras onde a voz vinha e seus olhos mostraram-lhe uma figura humana. Parecia ser humana aos seus olhos.
Pegou uma pedra próximo a ele e jogou na direção da imagem, mas nada aconteceu. A pedra passou pela fumaça, nuvem negra que envolvia aquele corpo, deixando apenas em amostra os dois faróis totalmente brancos dos olhos.
"Você tem uma dívida, hora de pagar. " - repetiu novamente a imagem.
Huugo correu. Correu o mais rápido possível dentro dos tuneis, passando entre alguns feixes de luz que mergulhavam das aberturas nas superfícies.
Olhou para trás. Caiu quando tentou seguir em frente. Escorregou numa tentativa de levantar-se. Conseguiu. Tropeçou, mas conseguiu seguir novamente. Mudou seus calcanhares de direção, para esquerda. Chegou numa câmara, mas não tinha saida. Virou-se. Seu perseguidor estava a poucos metros diante dele, com seus olhos brancos sob a larga aba do chapéu que o cobria.
"Você tem uma dívida, hora de pagar. " - falou novamente depois de girar o tambor de sua arma com as balas pontiagudas dentro dele.
Huugo gritou, colocando as mãos na cabeça, balançando-a de um lado para o outro.
"Deixe-me em paz! " - esbravejou e correu na direção do seu perseguidor.
Uma alucinação. Pesadelo. Era sua consciência maltratando-o pelo que tinha feito. Sim, só podia ser. Mas não era.
Passou pelo corpo daquele homem como se não fosse nada. Correu por alguns metros.
POW
Huugo arregalou os olhos. Seus pés encurtaram os passos. Os joelhos inclinaram-se e por fim, todo o seu corpo veio ao chão.
Bill abaixou sua mão e colocou a pistola no coldre. Caminhou até o corpo e passou lentamente por sobre ele. Seus calcanhares direcionaram numa entrada qualquer do túnel. O silencio ficou no seu lugar, mas foi rapidamente preenchido pelo ecoar do vento entre as fendas.
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The Guardians
FantasyO universo de "The Guardians" é repleto de fantasia, no qual, encontra-se bondade, maldade, companheirismo, individualismo. Por ironia, sorte ou azar, eles foram selecionados minuciosamente com habilidades distintas pelo destino. Explore esse unive...