Inevitável

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A fogueira estalava. Minúsculos pontos luminosos subiam cortando o ar gélido no Norte de Hurander. Pedaços de carnes entorno da fogueira. A gordura pingava sobre a neve. Enquanto isso, Frida dilacerava um pedaço entre seus lábios carnudos. Sua fome recompensava-se após três dias no encalço de sua caça: o Preza-de-gelo. Travou-se uma luta árdua. Mas a Fúria do Norte prevalecera diante a fera colossal.

Alimentar-se nesta região não é fácil, por isso, deve-se prevalecer diante as dificuldades.

Nas costas da guerreira, uma cadeia de pedras formava sua fortaleza e a sua frente, um pequeno curso d'água, ziguezagueava no extremo frio, correndo livremente.

Frida deu mais uma mordida no suculento pedaço de carne. A floresta que a cercava, obstruía sua visão, mas seus ouvidos estavam bem atentos a tudo que a rodeava. Sabia que sua caçada chamaria atenção, ainda mais no extremo norte, onde seus moradores territorialistas não gostam de receber pessoas que não foram convidadas.

Outra mordida. Rasgou a carne de forma selvagem tirando-a do osso. Logo em seguida, limpou seus lábios com as costas da mão esquerda.

Tudo ao redor misturava-se. As nuvens cinzas convergiam com a palidez do chão, deixando apenas o destaque marrom dos troncos das árvores.

Foi o quebrar de um galho ou terá sido o som do pisar nas folhas que ecoara no ar? Não importava. Mais uma vez o som repetiu-se. Os lábios da guerreira esticaram-se, mostrando um sorriso de canto.

Num movimento rápido, a Fúria do Norte girou em seu eixo, acertando bem nas costelas do seu inimigo com sua espada, fazendo-o cair, quando ele saltou sobre ela. Outros com grossas camadas de pelos que revestiam seu corpos e pesados chifres em seus ombros e pescoços, apareceram logo em seguida.

Frida possuiu seu grande escudo para proteger-se de outro que atacou. A espada da guerreira foi ao encontro do inimigo, mas o guerreiro desviou-se. Mais um golpe, outra jogada de corpo. Ele atacou-a novamente, mas ela parou-o com o enorme touro de bronze.

Rapidamente outro guerreiro com o que parecia ser um martelo em mãos, atacou pela direita. Frida deslizou-se para o lado, defendendo-se, mas a espada do outro oponente feriu sua perna, ainda assim, conseguiu revidar, derrubando-o.

Contornou a fogueira para ganhar terreno, mas continuou cercada por seus perseguidores. Avaliaram-se por alguns segundos.

Mais uma vez a luta iniciou-se.

O homem do martelo veio novamente ao encontro da guerreira. Frida com um movimento de corpo, saiu do seu caminho. Bateu com seu escudo no que estava logo atrás, levando-o ao chão. Girou mais uma vez em seu eixo, atacando o terceiro com sua espada. Fez o que estava com dois machados-gêmeos bater com as costas nas pedras, depois de lança-lo com seu escudo. Porém, quando foi atacar outro ali em volta, surpreendeu-se pelo quebrar de sua espada na arma do inimigo; um imponente machado, possuído por um gancho oposto a lamina.

Num piscar de olhos, Frida defendeu-se colocando seu escudo de touro a frente, depois de receber o pesado golpe do guerreiro.

O som do impacto ecoou por entre as árvores brancas e fez a Fúria do Norte deslizar-se alguns metros para trás. O guerreiro de braços fortes apontou o imponente machado para ela. Frida levantou e segurou firmemente em seu escudo. Fixou os olhos no inimigo e caminhou de forma soberana ao encontro dele.

O guerreiro atacou pesadamente com o machado. Frida defendeu-se com o escudo. Outro golpe veio logo em seguida debaixo para cima, outra defesa da guerreira. Seu oponente estava levando-a para trás com sua investida.

Outro golpe e mais outro. No terceiro ataque, o guerreiro firmou as duas mãos no machado e atacou pesadamente. Frida inclinou-se atrás do escudo segurando a raiva do inimigo.

A Fúria do Norte serrou os dentes e empurrou o guerreiro para trás, fazendo-o cambalear por alguns metros. O guerreiro se recompôs rápido e foi mais uma vez por sobre aquela que invadiu seu território, mas ali já tinha selado o seu fim.

Frida colocou seu grande escudo diante de si e fez sair dele sua maior força: o touro de bronze. O animal saiu daquela estrutura retangular batendo seus cascos sobre a neve e indo na direção do inimigo com seus imponentes chifres a frente.

Foi inevitável.

O guerreiro foi lançado a vários metros, batendo em inúmeras árvores, caindo logo em seguida, silenciado.

Frida ajoelhou-se, ofegante. Sua respiração pesada saia dos seus lábios, enrolava-se diante sua face e dissipava-se no ar gelado daquelas terras brancas. As dores envolviam-na, mas nada que viesse abala-la.

Levantou-se depois de alguns segundos. Deu alguns passos à frente e pegou o imponente machado-gancho daquele que a enfrentara. Avaliou-o. Levou-o para junto de si e sentou-se sobre a pedra diante o fogo. Ali, mesmo sob os incansáveis flocos brancos que caiam do céu, envolveu-se com o calor das chamas.

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