Justiça

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As picaretas dos trabalhadores de Ahnatnom não cessavam no interior dos longos e escuros corredores das montanhas. O fogo nas paredes amenizava a escuridão sobre os olhos.

O pai de Bill trabalhava numa dessas minas para trazer o sustento em casa. Saindo de manhã, antes mesmo do sol nascer, sobre os Cruzadores. Embarcações de longas velas que lembravam asas, na qual, faziam voos sobre as areias do extenso deserto. Voltando só quando a lua surgisse.

As várias horas de trabalho resultava apenas em poucas moedas.

Certa vez o pai de Bill saiu para trabalhar como de costume, beijando sua mulher e ele, mas daquele dia em diante, não se teve mais notícias dele.

Sem o pai, sua mãe assumiu esse papel. Tendo agora que trazer a comida para dentro de casa. Em desespero e não sabendo o que fazer, ela tomou medias desesperadas. Sua classe social não ajudava na renda, por isso teve que fazer o que não era certo, mas o que era preciso. Seu filho tinha que comer. Eles tinham que viver. Mesmo vivendo num reino, no qual, as armaduras são douradas, precisariam batalhar por um pouco de vida.

Seu trabalho não era como os outros. Ela trazia o sustendo saciando os prazeres dos homens.

Bill passava a maior parte da noite sozinho em casa brincando com seu barquinho de asas sobre o tapete da sala, movimentando-o em ondulações no ar, como se estivesse navegando sobre as areias do deserto, fazendo sons com sua boca.

Em uma dessas noites, sua mãe saiu com um homem. No caminho para onde ele a levava, ela presenciou a imagem de uma mãe acalentando o choro do filho por uma janela entreaberta. Naquele instante viu a imagem de Bill na sua mente, sem ela ao lado dele. Rapidamente desistiu de sair com o rapaz. Vendo a mulher deixa-lo, o homem não aceitou e pegou-a pelo braço dizendo que ela iria sim, pois ele estava pagando. Mas ela negou no mesmo instante. Os dois discutiram. Ela desvencilhou dos braços dele e conseguiu fugir.

Chegando em casa, seus braços envolveram-se no filho. Seus olhos molharam, mas não foram capazes de tocar no coração do seu agressor que a bateu ferozmente depois de a persegui-la.

Bill não conseguiu fazer nada. Seus olhos desaguaram no rosto de sua mãe ao chão e seu barquinho afundara sob suas tristezas.

Trinta e sete anos se passaram navegando sobre as dunas de Ahnatnom com os Piratas-da-areia e seus Cruzadores.

No meio desses anos, Bill presenciou o contrabando de armas que tinha entre Nidon e Ahnatnom e também os inúmeros roubos que faziam contra os trabalhadores das minas quando voltavam para casa depois que recebiam as suas moedas.

Isso tudo o fez voltar naquela noite quando seu pai não retornou mais, pois percebera que tinha sido morto por não entregar o seu pagamento aos ladrões e também entendeu qual era o passatempo dos capitães dos cruzados, quando os mesmos eram rodeados por mulheres e o que eles faziam quando elas não os obedeciam.

Sua mente trouxe sua mãe aos prantos e aquele homem batendo-a e ele sem poder fazer nada.

Ahnatnom não sabia, mas estava em dívida e tinha acabado de criar o seu cobrador. Aquele que cobraria por justiça.

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