A Sobrevivente

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As tendas espalhavam-se por todo o vale. Algumas compridas, outras estreitas e até algumas meio arredondadas, mas todas com a mesma proposta: proteger das altas temperaturas do deserto. Lar temporário da jovem Míhah, lábios grossos, cabelos trançados a frente e volumosos atrás, e seu povo nômade que vagam sobre as dunas, entre os desfiladeiros de Ahnatnom, em busca de recursos para sobrevivência.

As bacias d'água, raras por sinal, atraem todos os tipos de habitantes do deserto, e com eles não foi diferente. Míhah e sua família encontrou esse pequeno oásis, buscando aproveitar tudo o que ele pode oferecer.

Míhah diverte-se apenas com seu melhor amigo; um primata de couro enrijecido, no qual, ela passou a chama-lo de Cascalho, por sua semelhança com as montanhas, que encontrara ainda filhote numas das viagens. Míhah não sabia, mas seu animal se tornaria um enorme e fiel gorila. Algumas crianças, jovens e adultos, não viam de bons olhos seu companheiro, medo dele causar problemas ao grupo.

As viagens noturnas traziam um grande alívio em meio ao calor escaldante de Ahnatnom e também, livramento das criaturas das areias, dentre elas, Acohnim, o terrível ser que rasteja sob as dunas, devorando tudo que estiver em seu caminho. Mas, o véu da noite também traz seus desafios, sendo um deles com um chifre proeminente, dois grandes braços serrilhados, espinhos ao final do corpo esguio e uma carapaça resistente sobre a cabeça, na qual, saem de suas aberturas dois enormes leques que captam qualquer vibração no ar, por menor que seja. Conhecido como Vermesouro.

Adaptar-se em um ambiente, tem suas dificuldades. Complica-se mais ainda quando não vai ficar por muito tempo em um determinado lugar e esse tempo chegou. O tempo da bacia d'água. O recurso mais valioso não estava mais suprindo as necessidades do povo. A família de Míhah teve que mudar-se, mais uma vez.

Mão e pés agitaram-se sobre as areias, desmontando e empilhando, claro, tudo com muito cuidado para não fazer barulho.

Míhah tinha saído atrás de Cascalho. Procurou nas proximidades onde morava. Sussurros e sussurros, mas nada.

O sol encontrou-se com o horizonte. Restaram poucas tendas para serem desmontadas, mas quando desfizeram uma que estava encostada a parede do desfiladeiro, não tomaram os devidos cuidados necessários. Tudo veio ao chão.

A preocupação estampou-se nos olhos de todos.

Nada aconteceu por entre aquelas paredes arenosas. Continuaram, mas a pressa e o medo vieram sobre eles e aquilo que era para ser cuidadoso, tornou-se desordenado.

Míhah encontrou Cascalho comendo algumas raízes. Ouviu os barulhos e decidiu voltar.

Os pés das pessoas não obedeciam e no meio da desordem, chifres emergiram das entranhas da terra. Vários Vermesouros começaram a atacar um por um que passavam em sua frente.

Míhah presenciou e agarrou firme ao seu amigo. Temeu. Correu na direção oposta, fugindo.

Meses passaram-se. O deserto muda a todos e com Míhah, também não foi diferente. Luvas de couros com ossos pontiagudos, um bumerangue de madeira em suas costas e uma rede presa na cintura.

Cascalho também mudara, não era mais tão pequeno assim, era grande, bem grande.

Enquanto vaga sobre as dunas, entre os desfiladeiros, ou por cidades perdidas, Míhah, juntamente com Cascalho, mantem a esperança viva de um dia encontrar sua família, se possível com vida.

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