Provar

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A cama descansava seu corpo. Couros cobriam-no. Faixas foram envolvidas em seus braços e entorno de suas costas. Uma infusão foi preparada para ele; suas substancias ajudariam na recuperação.

Depois de alguns dias, Morin conseguiu levantar as pálpebras dos seus olhos. E a primeira imagem que viu foi um deleite para ele. Era sua mulher.

Ele tentou levantar-se, mas ela o conteve dizendo que não estava totalmente recuperado ainda.

Morin esboçou falar alguma coisa, mas tossiu. Sua mulher pegou-o pela mão esquerda e disse que foi muito arriscado o que ele fez. Mesmo em recuperação, falou que alguma coisa tinha que ser feita. Ela entendeu. Sua esposa ainda comentou que ele poderia ter levado alguns homens para ajudar. Morin, então, respondeu a ela que ninguém acreditaria nele.

A líder da tribo ouviu e fez um breve silêncio. Logo em seguida, segurou mais uma vez a mão de Morin, e falou que ela estava ao lado dele.

Morin sorriu em alívio.

"Ele está ferido"

A esposa, então, chamou um dos guerreiros que estava do lado de fora da tenda.

"Junte os melhores homens e vão atrás do Espírito da Noite"

"Mas...senhora" – comentou o guerreiro sem acreditar.

"É uma ordem"

O guerreiro, por sua vez, fez um sinal de positivo com a cabeça e saiu.

"Obrigado" – agradeceu Morin.

Sua esposa sorriu e pediu para ele descansar.

~~

Passou seus pés entre as várias tendas, até que parou diante de uma. Era a tenda de seu filho. Descortinou a entrada.

"Oi" – cumprimentou mãe.

"Oi" – respondeu Empereur assustado.

"Tudo bem? – aproximou sua mãe e observou que ele estava colocando faixas nas costelas.

"Sim"

"O que houve? Fiquei sabendo que a caçada não foi fácil. Se machucou?" – questionou sua mãe.

"Não foi nada" – respondeu ele numa clara tentativa de amenizar o que tinha ocorrido.

"Como que não? Eu sei que você sempre se envolvia em rolos... Mas nunca se machucou em uma caçada" – aproximou-se para ver melhor.

"Talvez eu tenha me distraído" – comentou. "Ai" – gemeu depois que sua mãe sentou-se ao lado dele e ajudou-o com as ataduras.

"É seu pai, não é?" – perguntou ela.

"Ah, sei lá" – respondeu ele.

"Que tal você conversar..." – começou ela.

"Não, mãe. Isso não" – levantou-se.

"É, filho. Eu sei. Não é fácil. Depois do que ele fez. E agora ele está aqui. De novo. Foi difícil relembrar tudo pelo o que a gente passou"

Ele olha para ela.

"Olha lá fora" – ela descortina a entrada junto com ele. "Pode parecer que não, mas sou julgada a todo momento. Tanto por minha posição, como por ter aceitado ele novamente"

"Eu sei. Mas eu não faria isso" – voltou para a tenda.

"Eu sei, filho. Mas...talvez ele teve seus motivos" – colocou sua mão no ombro de Empereur de costas para ela.

"Mas que motivos alguém teria para deixar a família?" – afastou-se dela irritado.

"Proteção" – respondeu ela.

"Proteção?" – olhou bravo para sua mãe.

"Talvez ele tenha feito isso para nos proteger, assim como você nos protege"

"Você só protege quem ama estando perto"

"E tem razão"

"Não sou como ele. Eu não dou as costas para a família"

"Sei que não. Mas você puxou muito o seu pai" – afirmou sua mãe.

"Como?" – questionou bravo.

"Seu pai não é muito de falar. Suas palavras são poucas. Ouve-se mais o seu silêncio, assim como você" – aproximou do filho. "Você convive com todos, mas habita mais em seu mundo, no qual criou" – passou a mão em seus cabelos negros. "Você se expressa muito bem através dos seus machados, mas poderia usar uma outra arma, mais poderosa"

"Arma? Que arma?"

"A fala. Eu sei que uma metade sua não o aceita. Eu entendo. Mas sei que a outra sente saudade. Converse com ele. Dê esse voto de confiança"

"Não sei, mãe" – afastou-se um pouco dela.

"Só uma chance" – pediu ela.

"Sei lá"

"Por favor" – foi em direção a saída.

"Posso tentar. Mas não garanto nada"

"Obrigada" – virou-se. "Ah" – retornou. "Reuni alguns homens para irem atrás da criatura"

"Você acredita nisso?" – deu uma risada em deboche.

"O seu pai acredita"

Empereur olhou para ela por alguns segundos.

"Só achei que você deveria saber" – saiu.

Segundos depois, Empereur virou-se e ficou olhando para o vazio.

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