Queimada

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Ao final do estreito corredor, uma praça quase que retangular. Seu perímetro era feito pelas paredes das casas que a cercavam. Não era grande, de destaque. Era uma praça pequena.... Relativamente simples comparada com as outras de Dunsan. Mas era perfeita para brincar. Brincar de queimada.

As crianças estavam todas agitadas com a ideia proposta por Araau. Os olhares das janelas e das ruas próximas, divertiam-se com elas e com suas pequenas discussões nas escolhas dos integrantes dos times. Mesmo sendo uma brincadeira, queriam levar isso muito a sério... Crianças, né.

Os dois times estabeleceram-se sobre o local. A bola de pano feita por uma das vizinhas era lançada de um lado para o outro, na tentativa de acertar alguém.

"Queima ele! Queima ele! " –as crianças gritavam.

Uma esquivada pra cá. Uma desviada de corpo pra lá...

"Não deixa escapar! Acerta ela! Acerta ela! " – o outro time soltou a voz.

Pés acelerados... Pulos...

"Queimou! " – soou no meio deles.

Poucos segundos depois...

"Queimou! Queimou! "

Assim seguiu. Uma a uma, as crianças foram sendo queimadas e ficando atrás da linha.... Até restar apenas duas crianças de cada lado, sendo aquela que eles acreditavam que seria a primeira a ser queimada, por conta do objeto volumoso que carregava em suas costas.

Um escudo.

Araau carregava aquele escudo para todo o lugar que fosse. Tinha o martelo também, o grande martelo. Mas o escudo era muito mais fácil, mesmo de aparência pesada, era extremamente leve.

"Vocês não me pegam! Lá, lá, lá, lá, lá, lá, " – gesticulou com as mãos na bochecha.

"Queima ele! Queima! " – gritou o time adversário.

"Araau! Araau! Araau! " – exclamou o seu time em apoio.

Araau desviava muito bem do ataque inimigo. A criança em sua frente também não ficava para trás, bloqueava todas as investidas com as mãos.

Ficou assim por alguns minutos...

Até que veio o momento decisivo.

O momento que mudou tudo.

A bola de pano chegou na mão do time inimigo. Araau correu, mas acabou sendo atingido em suas costas, sem perceber.

"Queimou! " – gritou o menino que lançara a bola.

Porém, ele não esperava a consequência de sua ação. Ninguém esperava.

A bola foi ricochetada pelo escudo de volta a ele de uma maneira brutal, pegando em seu peito e o jogando contra a parede, fazendo-o cair no chão logo em seguida.

"Eu ainda estou aqui! " – zoou Araau em brincadeira quando virou-se.

Todos assustaram-se. O silencio pairou sobre aquele local. Os olhos foram para ele, o filho de Baldur, o ferreiro, no meio do campo.

Os que estavam perto do menino, foram ver se estava tudo bem com ele. As outras crianças do time do Araau, passou por ele lentamente, olhando em seus olhos.

"O que foi? O que aconteceu? " – questionou.

"É apenas uma brincadeira" – disse a menina ajoelhada ao lado do menino que estava gemendo de dor.

"O que eu fiz? " – questionou em direção ao grupo.

"Sai daqui" – disse ela.

"O que...? "

"Você não sabe brincar? " – questionou outro.

"Mas..."

"Sai! " – ordenou um terceiro com mais firmeza na voz.

"Eu não fiz nada..." – a tristeza saiu dos seus lábios.

"Vai embora! " – ordenou outra criança, empurrando ele, e fazendo-o cair.

Lágrimas quentes escorreram sobre suas bochechas...

Araau levantou-se, e saiu.

A brincadeira que ele mesmo tinha começado, ironicamente, ele mesmo terminou.

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