Através Da Janela

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Lívia virou de um lado, depois para o outro. Pressionou os olhos... Mas nada. Nada do som parar. Nada do choro parar. O choro dela. O choro da Promessa.

Depois de tudo o que tinha acontecido com ela e com seu animal. Sua parceira. Amiga. Ambas ficaram aprisionadas; Lívia a quatro paredes e Promessa a cordas, sob o sol e sob a chuva.

O choro de Promessa era as lembranças sofridas que ela passou nas mãos daqueles soldados depois que tentaram doma-la.

Todos já sabiam da agressividade daquele animal. Mas já que estava entre eles, trazido pela filha do rei, escondido, porque não usufruir do seu potencial no exército do reino contra seus inimigos?

O soldado colocou a sela sobre ela, naquele pequeno espaço retangular de madeira. Promessa olhou para os lados. Muitos soldados a observavam. A mão de um deles abriu o brete e rapidamente ela saltou com grande energia dentro daquela arena.

Pulou para frente, para os lados, deu vários giros... E em fração de segundos, tirou o homem de suas costas.

Outro que estava sentado sobre a cerca veio logo em seguida. O brete foi aberto com o soldado sobre ela. Promessa ficou imóvel. Todos estranharam. Mas em poucos segundos ela direcionou seu olhar para aquele que estava montado sobre ela, e disparou-se no meio da arena. Foi rápido. Em poucos movimentos o soldado estava no chão.

O terceiro que mostrou-se disposto a enfrenta-la, doma-la, passou pela cerca. Em sua mão, um chicote para penaliza-la sobre qualquer atitude de rebeldia.

Montou-a. O brete foi aberto. Mas bastou um único pulo e o soldado já estava no chão. Depois veio outro, e outro, e mais outro. Mas nenhum conseguiu ficar sobre ela.

Promessa correu beirando a cerca e mostrou os dentes para os soldados, num claro sinal de que ninguém mandaria nela. Entretanto, quando ficou de frente com Vanrror que já a observava por algum tempo, mostrou toda sua fúria elevando-se sobre suas patas traseiras.

O Major-dos-Royal não saiu do lugar.

Ambos encararam-se por alguns segundos. Nenhum dos dois lados cedeu. Permaneceram firmes em suas posições.

Vanrror pediu seu chicote e esporas. Montou na Promessa. Ela correu. Pulou. Correu novamente. O chicote estralava nas suas coxas. Vanrror puxava ainda mais as cordas.

Dois, três saltos... Mas ele não caia. Ela olhou para os lados e observou que todos estavam torcendo pela vitória do Major e a derrota dela.

Ceder não era uma opção.

Ela lutou mais uma vez sob os açoites de Vanrror. Olhou para a cerca em sua frente e foi em direção a ela. Bateu a perna do Major naquelas madeiras. Mas ele não se entregou. Parecia que não tinha sentido nada.

Levou-o para o outro lado da arena e bateu a perna esquerda dele na cerca. Sem sucesso. Ele continuou sobre ela.

Outra vez o chicote estralou. Promessa saltou. Jogou-se ao chão... Nada. Vanrror permaneceu firme sobre suas costas. Ela olhou para os lados, buscando alguma alternativa. Mas qual? Tudo que podia ser feito, foi feito.

Promessa parou no meio da arena. Seus pulmões cresciam e diminuíam-se rapidamente. Suas pernas tremiam. A exaustam bateu muito mais forte do que os vários açoites que ela tinha recebido.

Vanrror também respirava ofegante.

Tudo em volta estava em silencio. Um clímax de tenção pairava em cada soldado. Mas segundos depois, Vanrror recompôs-se. Endireitou o corpo e mostrou para os homens ali presentes seu controle sobre aquele animal.

"Vamos, Promessa" – o Major, então, bateu suas botas em suas costelas, e desfilou diante os soldados, ensinando-lhes o que deveriam ter feito para doma-la.

Contudo, no meio dos ensinamentos, ela parou...

"Promessa..." – disse Vanrror.

Rapidamente, Promessa movimentou seu pescoço e mordeu a corda, tirando-a das mãos de Vanrror, e ficando sobre suas patas traseiras. O Major segurou em sua longa crina. Promessa balançou de um lado, e para o outro. Vanrror não caia. Mas no terceiro balanço, Promessa jogou-se sobre a cerca, quebrando-a, lançando o Major para longe.

Sobre o chão. Ofegantes. Ambos encararam-se mais uma vez.

Vanrror encheu-se de fúria e penalizou-a com três dias presa. Sem água e sem comida.

Tudo isso rompia os vidros e invadia o coração de Lívia, fazendo-a vivenciar aquelas cenas novamente, todas as vezes que ouvia o choro e via Promessa lá embaixo, amarrada ao tronco, sozinha sob o sol e a chuva, olhando para ela através da janela.

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