Noite De Pesca

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As luzes dependuravam-se de grossas toras de madeira, as mesas circulares exibiam-se timões desenhados sobre elas, acompanhadas de quatro cadeiras. Todo o local estava vazio, menos o balcão, no qual, um pescador mantinha-se bebendo sobre ele.

"Ah, que bela pescaria tivemos."

"Sim, mas chega por hoje, Tedris" - disse o taverneiro com uma toalha sobre o ombro direito.

"Nem terminei essa daqui ainda. " - comentou Tedris com a voz mole levantando o copo com seu grosso bigode acompanhado de uma espessa barba e de barriga volumosa.

"Termine lá fora então. " - continuou o taverneiro conduzindo-o.

"Está bem, está bem. " - disse Tedris. "Eu sei o caminho, não precisa me acompanhar. " - apontando o copo na direção da porta. Os últimos botões da camisa não tinham mais forças de segurarem a barriga lotada de cerveja.

Tedris trançou as pernas, mas conseguiu sair da taverna. A maresia de Sanin batia em seu rosto. Levou o copo a boca e deu dois goles, limpando o bigode com as costas da mão esquerda. Desceu uma rua de paralelepípedos, num estreito corredor. Mais um gole de cerveja, mas desta vez, veio acompanhado de uma imagem que ocultava-se das lamparinas nos muros.

"Opa! Vamos beber? " - oferecendo seu copo. "Não tem muito, mas dá pra se divertir. Há! " - dando mais um gole e aproximando-se da fisionomia para poder vê-la um pouco melhor.

"Eu lembro de vocês. " - disse uma voz rouca.

"Mas quem é...Kahur? É você? - questionou Tedris dando mais um gole e passando suas mãos diante dos olhos.

Saindo das sombras, a imagem revelou-se um homem de cabelos encharcados sobre a face pálida, um polvo abraçado no peito e ao ombro esquerdo, grossos dentes pontiagudos em sua boca, corpo levemente inclinado a frente por causa do pesado braço de caranguejo e um arpão de ossos na mão esquerda.

"Vocês me abandonaram. "

"Não, não... Pensamos que... " - disse Tedris.

"Pensou errado. " - indo ao encontro dele, mas sendo interrompido pelo copo de cerveja que Tedris jogara, no qual, bateu-se no volumoso braço de caranguejo quando Kahur o colocara a frente.

Tedris escorregou, mas conseguiu ficar de pé ao terceiro passo. Suas mãos derrubaram alguns barris que vinham em sua frente numa tentativa de proteger-se, mas foi em vão.

"Gosto quando os peixes ficam agitados. " - lançando seu arpão de ossos, furando as costas do pescador e o trazendo para si. "Tomara que ninguém tenha assumido meu lugar. " - olhando nos olhos de Tedris enquanto segurava-o entre suas pinças.

As pernas do pescador debateram-se sobre o copo e a cerveja espalhada ao chão. Poucos segundos depois, seu corpo despencou-se, imóvel, e por sobre ele, uma moeda que Kahur deixara, refletiu-se na luz das luminárias.

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