O Rastreador

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Tendas espalhadas para todos os lados. Passos sobre areia levantava a poeira. Vozes. Comerciantes anunciando seus produtos, clientes negociando os valores deles.

Nesse pequeno povoado de Ragir, situado ao extremo leste das areias de Ahnatnom, Connor tentava ajudar sua família tecelã na esperança de vender seus tecidos. Todos os dias passava seu carrinho por entre as tendas, nas ruas de areia, no meio do povo.

Tecidos de várias cores, estampados, de renda, exibia aos olhos dos clientes, não era fácil, tinha que lutar para isso, por isso que ele não gostava de ficar na tenda com seus pais para vender. Colocava os pés nas ruas e ia de encontro aos clientes.

Os tecidos chamavam atenção. Cores vivas, acabamento impecável. Sim, tinham uma certa fama, mas não significava necessariamente sucesso garantido. Seus pais não queriam que isso perpetuasse sobre o filho, queria que ele tivesse uma vida mais estável.

Alguns desentendimentos surgiam, mas não perdiam a esperança de convencer o filho em buscar algo melhor.

Esse ensinamento o deserto pregava todos os dias: Esperança.

Numa noite fria, estrelada, forasteiros invadiram Ragir levando tudo, conhecidos como os Irmãos-do-Deserto. O medo fizera-o esconder-se, mas não o impediu de presenciar as agressões sofridas pelos moradores do povoado e principalmente contra seus pais. Nunca tinha vivenciado algo parecido em sua vida.

Eles não conseguiram pensar em outra coisa além de fugir com um grupo de moradores. Juntaram tudo o que tinham, ou neste caso, o que restou. Deixaram Ragir. Deixaram tudo o que construíram, seu lar. Vagaram no deserto.

Dunas, desfiladeiros... Os lábios grudavam. As passadas largas, rápidas, ficavam curtas e lentas.

Água escassa.

Eles olhavam para o céu, para a imensidão azul, desejando apenas uma parte, uma minúscula parte em suas bocas.

Não bastava ter perdido os pais pelo agravamento dos ferimentos na travessia, tinha o castigo do sol sobre sua cabeça. Mesmo assim, Connor decidiu manter-se de passos firmes, não sobre as dunas que vão e vem, mas na esperança.

Conseguiram fugir para Kaphia, uma cidade sob os domínios recentes de Nidon, um pouco além das areias de Ahnatnom. Nidon ofereceu segurança para eles. Connor abraçou essa oportunidade de unhas e dentes.

Recebeu a proposta de alistar-se para o exército nidoniano, claro que o barulho das moedas falou mais alto. Ele aceitou.

Seu treinamento chamou atenção dos seus companheiros, mas foi a habilidade de atirar que ganhou destaque. Seu comportamento seguiu o mesmo caminho, mas não o que agradava. Sempre era chamado atenção pelos seus superiores por conta dos descumprimentos das ordens que lhes era designada, quando se infiltrava nas missões que não lhe dizia respeito.

Cidades como Dubor e Tuel agitaram-se por conta de grupos rebeldes que se levantaram contra o reino. Soldados foram convocados para trazer a ordem novamente.

Muitas foram as advertências sobre Connor, mas se não fosse por ele nos rastreamentos dos rebeldes fugidos, o colapso desmoronaria toda a ordem estabelecida pelo reino, sem contar os vários soldados resgatados por ele no meio do caos.

Missões e mais missões eram-lhe concedidas. Os resultados não poderiam ser diferentes. Sempre positivos. Nidon prevalecia sobre os confrontos.

Connor abraçou a cultura daquele povo, daquele reino, e ficou conhecido como O Rastreador.

Canecas de cerveja erguiam-se diante dele, mulheres nos braços.

Nidon exaltava-o. 

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