Realidade Oculta(Êxodo)

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Passos acelerados na calada da noite espalharam-se pelas ruas do reino. Muitos trajavam roupas simples, mas outros destacavam-se por suas armaduras. Normalmente, estes não compartilhavam o mesmo caminho com os cidadãos da escala mais inferior, mas, desta vez, foi diferente.

Soldados e moradores armados ficaram lado a lado.

A lua avistou o grupo de pessoas invadirem inúmeros estabelecimentos, apedrejando todos que ousavam barra-los.

Num dos quarteis de Nidon, o impetuoso muro, negro como a noite sem lua, presenciou a fúria dos rebeldes. O largo portão foi ao chão rapidamente.

Sobre a cama de um dos dormitórios, várias crianças acordaram com o estrondo. Algumas assustaram-se por nunca achar que isso era possível: o ecoar de desmoronamento, juntamente com o som estridente de trombetas em sinal alerta. Mas outras, as que não tiveram opção de escolha para ficar ali e dedicar-se inteiramente a força do reino, ao futuro do reino, alegraram-se, pois, suas preces tinham sido ouvidas, não precisariam ficar por mais um dia naquele local.

A porta do espaçoso quarto rompeu-se. Homens, mulheres, adentraram chamando os jovens para saírem dali. Muitos de sorrisos nos rostos acompanharam, até mesmo alguns que não demonstravam nenhuma reação aceitou ao chamado, mas aqueles que tinham escolha, decidiram ficar. Decidiram lutar por seu reino, por seu rei, por sua casa.

Pedaços de pau, espadas, tochas de fogo, chocavam-se dentro daqueles muros.

Um dos vários soldados que ficaram ao lado dos rebeldes, guiados por Coldy, virou à esquerda, no corredor que dava acesso a outra ala dos dormitórios. Presenciou dois jovens brigando. Apesar das diferenças entre eles, nunca houve relatos de discórdia, mas bastou uma fagulha para tudo explodir.

Rapidamente foi ter com eles, mas sua visão foi impactada pelo jovem da direita, jogando o outro no chão. A pequena lâmina em suas mãos, sinalizava o que tinha feito.

O soldado partiu em direção ao garoto. O confronto foi inevitável. O embate foi rápido, mas não teve acordo. O jovem caiu aos pés do soldado nidoniano. A lâmina saiu de sua mão. A espada despescou-se dos dedos do rebelde. O joelho do soldado veio ao chão ao lado do garoto nidoniano.

"Vocês não sabem o que fazem. " – disse o soldado sobre o piso.

"Demos tudo a vocês e é assim que agradecem? " – questionou o jovem caído ao chão, olhando para o soldado.

Em uma das várias praças, o confronto persistia. Gritos, fogo para todos os lados, casas destruídas, vidros ao chão. Em meio as vozes de ordens, chegou aos conhecimentos de um pequeno grupo de jovens, da classe alta da cidade, que estavam ali confrontando os rebeldes, que aquela, na qual, eles admiravam, voltara-se contra o reino. Gallyty, a tão conhecida Manto Negro para alguns e Olhos de Jade para outros, já não mais defendia sua bandeira.

O sentimento de decepção, raiva, tomou conta deles.

"Como podem dizer que defendem o certo, se matam e destroem tudo ao seu redor? " – questionou um dos garotos com sigo mesmo, quase em sussurro. "Eu gostava de você, Gallyty..." – rasgando a multidão. "Mas tenho que defender meus amigos, minha família, meu reino. " – travando seus dedos na espada e indo na direção da arqueira.

Afastados da praça, um grupo de rebeldes conduzidos por Coldy, lutava contra os soldados do reino.

Espadas e armas rudimentares chocavam-se.

Numas das vielas, um soldado, fiel ao rei, defendia bravamente seu reino. Nunca aquele pai pensaria que lutaria ao lado do filho. O jovem garoto dentre suas escolhas, escolheu seguir os caminhos do pai. A pesar da pouca idade, suas habilidades no manuseia da espada, era para poucos. Ambos, lado a lado, num movimento quase que orquestrado, não temiam os rebeldes, derrubavam um a um.

Mas de maneira rápida e silenciosa, uma flecha acertou o peito daquele homem. O soldado cambaleou, mas não caiu.

"Pai! " – gritou o filho.

Duas flechas vieram logo em seguida. Também no peito.

TUM-TUM.

"Não! " – gritou mais uma vez o menino.

Os golpes precisos não eram mais os mesmos. A desorientação tinha tomado conta daquele soldado.

Rapidamente o jovem que estava relativamente próximo a seu pai, foi de encontro a ele. Segurou-o, mas não suportou o peso. Foram ao chão.

"Não, pai... por favor! " – implorou o garoto sob a chuva.

Seu pai tentava falar, mas as palavras não saiam.

"Eu estou aqui, pai. Eu estou aqui. " – arrastou-o com muita dificuldade para um rua estreita, longe da multidão. "Fica comigo. " – continuou o jovem sob as lágrimas.

O pai tentou levantar a espada duas vezes para dar ao filho, mas sem sucesso. Seus olhos foram ficando longe... Longe... Longe... até apagarem-se totalmente.

O filho com o pai nos braços gritou e seus gritos misturou-se com os estalos de algum fogo ardendo ali próximo, o tinir das espadas e o ecoar dos trovões.

Misturou-se a tudo, mas não ficou em oculto. 

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