A Menina E O Monstro II

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Uma colossal estrutura de pedra nos tons acinzentados do lado de fora e quase pretos do lado de dentro, com uma abertura bem no seu centro; uma parte fincada na areia e a outra no mar, tornou-se moradia para aquele homem, depois que regressara das águas. Ele não podia voltar a viver no meio da população, não aceitariam ele. Ele sabia disso. Algumas pessoas tinham medo, raiva das coisas que vinham das profundezas.

Para sua sobrevivência, passou a viver de pequenos furtos na calada da noite no interior da ilha. Alguns moradores, quando o avistavam, até que tentavam pega-lo, mas quando deparavam-se com o que viam, mesmo que só um deslumbre, hesitavam. Mas outros, acabavam investindo contra ele, e claro, machucavam-se. Ele tinha culpa disso? Será que merecia receber todo esse fardo que colocavam sobre ele? Ele só queria viver de novo, viver normalmente. Mas o obrigavam a agir assim, de forma mais violenta.

Então, refugiou-se nessa margem de Sanin, em uma gruta.

Nesses tempos escondidos, observou de longe uma menina que sempre visitava aquela região, sua forma enigmática despertava sua curiosidade. Até que certo dia, a curiosidade foi revelada. Era um animal, bem diferente dos outros. Metade um cavalo e a outra metade era de peixe. Para alguns, um temível ser. Mas para ela, um amigo. Ele sentiu todo o sentimento envolvido nela e no seu amigo. Gostava de ficar observando ela, e entristecia nas vezes que ela não aparecia.

Em um determinado dia que estava com os seus olhos pregados nela, observou que a pequena estava correndo em sua direção. Rapidamente escondeu-se ainda mais dentro da rocha. A menina entrou e começou a procurar por algo no chão, em volta das pedras. Olhou e olhou... Até que encontrou. Era algumas frutinhas vermelhas e um pouco de uma relva em tons esverdeados, virou-se. Mas quando adiantou seus pés, parou imediatamente devido ao som que escutara. Girou sobre seus calcanhares. Olhou ao redor e seguiu.

Percebendo que não tinha sido notado, suspirou de alívio e prontificou-se em sair de trás da pedra que estava escondido.

"Oi"

Rapidamente virou-se e foi para trás, mas não tinha como seguir. Ficou com as costas na parede. Ela estava em sua frente com as frutinhas e a relva em uma das mãos. Um bolsa de lado. Cabelos castanhos com mechas sobre as sobrancelhas e trançados sobre o ombro esquerdo.

Os olhos ficaram encarando-se um ao outro por alguns segundos. Ele observou que ela capturou cada detalhe seu; as algas, crustáceos, corais, conchas... Que revestiam todo o seu corpo, e claro, o canhão coberto por uma barreira de corais cravado em suas costas.

"Oi" – disse ele.

"Oi" – falou ela. "Você...."

"É. Eu sei" – comentou ele de cabeça baixa, porque sabia que ela estava referindo-se a sua aparência.

"Você vive aqui? "

"Sim" – respondeu ele.

"Por que? " – questionou ela.

"As pessoas não gostam de mim" – disse ele quando caminhou alguns passos e olhou para seu reflexo num pequeno curso d'água ali próximo. "Elas têm medo"

"Depois que minha irmã salvou a ilha, todos ficaram assim.

"Salvou? " Do que? "

"Nidon"

Ele levou seus olhos para a menina, numa clara tentativa de entender o acontecimento que ela tinha relatado. A mulher-peixe. Alguém tinha matado a grande serpente. Mas quem?

"Ela ainda continua nos protegendo sobre as águas" – apontou  a garotinha lá para fora.

"Ela é uma verdadeira defensora" - disse ele.

"Sim" – afirmou a menina.

"Será que um dia eu poderia conhece-la? " – esboçou um desejo.

"Talvez. Ela é muito ocupada" – disse a menina com os olhos sobre a frutinha mexendo entre os dedos.

"Heróis são assim mesmo" – falou ele quando percebeu a tristeza naquele olhar. "Estão sempre ocupados"

"É" – com os olhos ainda sobre a frutinha.

"Olha, é melhor você levar isso para o seu amigo" – disse ele depois de ouvir o relincho do animal ao longe.

"Verdade" – afirmou a menina com um sorriso e passos na direção da praia. Mas por um momento, parou. "Vem"

"Eu? " – aquilo pegou-o de surpresa. Como ele poderia ir? Um ser horrível do lado de uma menininha tão doce. Ele não poderia. "Não. Melhor não" – tirou os olhos dela e caminhou para mais fundo dentro da caverna. Mas quando deu três passos, sentiu um arrepio pelo corpo. Olhou para baixo, mais precisamente para sua mão esquerda. Estava envolvida, envolvida pela pequena mão da menininha. "Não tem medo de mim?

"Você quer que eu tenha? – questionou ela com seus olhos para cima.

Ele sentiu o amor.

Ela o conduziu para fora da caverna.

"Qual o seu nome? " – questionou ela.

"Mark" – ele respondeu. "E o seu? "

"Izzi" – respondeu ela com um sorriso. "Acho que o Glob vai gostar de você"

Assim, caminharam sobre areia lado a lado.

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