Eu Sou A Alcateia

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O vento gélido batia no rosto daquele grupo. Os pinheiros farfalhavam suas folhas e seus troncos pareciam brincar diante deles, confundindo-os. A pelagem por sobre seus corpos protegiam contra o agir implacável da natureza de Hurander.

Seus olhos vasculhavam tudo aos arredores, procurando a ameaça que os assombravam.

A neve que caía, cobria um pouco o Vale-das-pedras e aquela que não conseguia permanecer em sua superfície, despencava-se rente aquelas altas e largas estruturas negras e frias.

Alguns pinheiros secos rodeavam-na.

Um som de rastros no interior dos arbustos diante deles eclodiu em seus ouvidos.

As armas movimentaram nas suas mãos.

Olhos em alerta.

Mais uma vez o som fez-se presente, ziguezagueando entre os pinheiros, aumentando seu volume quando aproximava-se.

Mais alto, mais alto, mais alto, até que...

"Buuu! " – disse um de cabelos trançados tocando o que estava ao seu lado, levando-o a assustar-se.

"Ah, seu..."

"O que foi? Está com medo? " – questionou. "É só uma Lebre-do-vale-das-pedras. " – continuou.

A lebre de cor acinzentada quase puxando para um branco, orelhas grandes que lhe proporcionava voar pequenas distancias, pousou no pé daquele que ainda estava recuperando-se do susto que levara.

"Relaxa..."

"Se acha que estou com medo? " – questionou levantando sua espada e colocando-a sobre o ombro.

Todos riram.

"Não estou. " – continuou com mais firmeza na voz.

"Calma! Tudo bem! É um sinal que você está em alerta. " – continuou o de cabelos trançados colocando a mão no ombro do amigo. "Vamos! Já vai anoitecer e temos que procurar um local para acamparmos. " – olhando para o grupo. "Ah, você tinha que ver sua cara, foi a melhor. " – sorrindo.

"Sem graça. " – girando sobre seus calcanhares.

Um tempo depois, chegaram a uma baixada, na qual, foram recepcionados por uma alta e longa parede meia circular de grandes rochas negras que destacava a extensa queda d'água cristalizada por conta da forte neve que a congelara.

"Alí. " – apontou um com sua lança para abertura ao lado da cachoeira.

Por sobre a queda d'água, um lobo observou a movimentação do grupo, retirando-se para trás do rochedo logo em seguida.

A caverna revestia-se de pedra, mas grande parte de suas paredes constituía-se de Gelo-puro, com algumas aberturas por onde a luminosidade da lua passava, não deixando assim o local totalmente no escuro.

O fogo consumia a madeira, estalando-a, envolvendo também a carne que girava sobre ele.

"Eu vou acabar com ele! A recompensa será minha. " – disse o de cabelos trançados.

"Não dará tempo, já estará morto em minhas mãos! " – disse outro em volta da fogueira com uma camada de pelos sobre os ombros.

"Tolos! " – disse aquele de braços nus. "Esse machado nunca perdeu uma luta e não será dessa vez. " – dando um golpe sobre o chão branco, mostrando o poderio de sua arma e claro, sua força.

Riram.

"E o medo? Já passou? " – questionou o de tranças nos cabelos.

"Eu já disse que não estou com medo! " – respondeu segurando em sua espada e olhando para aquele que fizera a pergunta.

"Mas... Alguém já viu essa 'coisa' ou esse 'alguém'? " – questionou o da lança.

"E isso importa? Sabemos que mata! " – disse um ao fundo sentado sobre uma pedra, com seus dedos cruzados diante a face e olhos fixos no chão frio. "Pra mim já é o suficiente" - seus Machados-gêmeos descansavam em sua cintura.

Uma leve brisa adentrou onde eles estavam, até então, nada a reclamar, mas ela foi aumentando gradualmente sua intensidade, mais, mais e mais.

A fogueira apagou-se e seu calor deixou de existir.

O vento fazia as fendas da caverna uivarem ao redor deles.

"Ah, mas tá de brincadeira. " – disse o de cabelos trançados, colocando a mão diante os olhos.

Todos olharem-se.

"Pega sua arma! " – ordenou o de braços nus para ele.

"Por que? É só mais uma daquelas nevascas. "

"Nevascas não uivam! " – respondeu o que estava afastado do grupo segurando seus dois machados.

Por de trás das rochas, grandes lobos brancos foram descendo, um a um.

"Fantasmas! " – disse o portados dos Machados-gêmeos.

Os lobos cercaram o grupo.

Lanças, machados, espadas e escudos mediram forças contra as grandiosas patas e afiados dentes.

Um dos lobos pulou sobre o guerreiro da lança, mas este conseguiu defender-se, colocando sua arma diante de si, jogando o grande lobo para o lado, mas que infelizmente não surtiu tanto efeito, pois outro pulou sobre seus ombros, derrubando-o.

Outro guerreiro tentava ferir o lobo que o atacava, mas o forte animal desviava-se das suas investidas. Num rápido movimento de corpo, conseguira acertar a fera, mas acabou sendo surpreendido por outro que veio logo em seguida, cravando afiados dentes em suas costas.

A neve trazida pelo vento dificultava a visão.

O que foi motivo de risos por conta do susto que levara, defendia-se do ataque frontal que sofrera, empurrando o grande lobo contra uma das paredes da caverna, cortando sua mandíbula com a lâmina de sua espada.

"HAAA! " – gritando.

Outro pulou em seu ombro, mas conseguiu joga-lo ao chão, desferindo a espada na sua cabeça, mas que infelizmente não conseguiu escapar do ataque de outro puxando seu pé, fazendo-o cair e abocanhado logo em seguida.

O de cabelos trançados tirou a cabeça de um com seu machado de uma mão.

"Seus miseráveis! "

Aquele de braços nus, portador do pesado machado, rasgou o peito de outro.

"Eu disse que esse machado nunca perdeu uma luta! "

Já o guerreiro, possuidor dos Machados-gêmeos, rasgou as costas de outros dois.

Uma silhueta começou a erguer-se no meio da nevasca. A sombra aproximou-se dos guerreiros, no qual, puderam ver melhor sua imagem.

Uma mulher com uma longa trança em seus cabelos castanhos escuros. Uma grossa pelagem sobre os ombros, revestindo também seus braços, cintura e pernas. Na sua mão direita, empunhava uma arma de Gelo-puro; um machado, no qual, o fio de sua lâmina era revestido de gelo, acompanhado de um bloco maciço de gelo também, lembrando um martelo, juntos presos a uma base metálica e amarrada a inúmeros pelos trançados, por fim, um grandioso lobo branco de olhos azuis, no qual, ela montava.

Os guerreiros olharam para ela.

O do pesado machado adiantou-se arrastando sua arma sobre o gélido chão.

"Quem é você? " – apontando com o dedo.

"Eu..." – a neve começou a movimentar-se em volta dela. "Sou..." – giros em espiral deram forma. "A alcateia. " – lobos surgiram no seu entorno e ela avançou sobre os guerreiros com eles, como se fossem uma avalanche, passando por cima de tudo em seu caminho. 

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