Armadilha

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No amanhecer ou no entardecer, quando os Cruzadores partiam e chegavam, desaparecimentos estranhos aconteciam, misteriosamente. Mesmo que os relatos chegassem as autoridades, os soldados pouco ou nada se fazia.

Desconfiada dos acontecimentos e já tendo conhecimento de como era as ruas de areia de Ahnatnom, Sophi se prontificava em averiguar.

O sol surgindo por de trás das montanhas, ou ocultando-se pelos desfiladeiros, Sophi exercia o que seu pai tinha lhe instruído: lutar por aqueles que não podem. Descobrindo assim, que ficaria frente a frente contra aqueles que eram para trazer segurança à população, deixando sobre a pele os arranhões, mas isso não era nada comparado a satisfação de ver a justiça sendo feita.

Boatos começaram a circular sobre as ruas, no interior da cidade, até mesmo fora daqueles grandes muros. Boatos sobre alguém que estava indo contra os próprios soldados. Sophi sabia que estavam falando dela e ainda que seu pai tinha desaparecido, fazendo aquilo que tinha lhe ensinado, não teria como não falarem. Talvez suspeitassem dela. Era uma possibilidade.

Voltando de seus devaneios, continuou a observar os Cruzadores com suas velas abertas como asas de um enorme pássaro, deixando os trabalhadores das minas a descerem por uma rampa e se direcionarem entre as várias tendas próximas ao largo muro da cidade, por detrás de algumas pedras. Seus dedos movimentaram a lança na sua mão direita.

Dois, Três homens envolvidos em mantos, pareciam seguir um outro homem. Não dava para saber ao certo, todos estavam indo para a mesma direção e o manto era para amenizar o calor, mas de qualquer maneira, ela prestava atenção.

Os trabalhadores iam tomando seus rumos, o caminho para suas casas. Sophi seguia-os a certa distância, sempre de olhos atentos.

Alguns homens deixaram o grupo, deviam ser amigos, pela intimidade que mostravam nos olhos e nas conversas que soltavam dos lábios. Pensou em deixá-los seguir seus caminhos, tinha se confundido. Mas ao girar seus calcanhares para a direção oposta, foi surpreendida por um deslumbre de uma lamina dourada em sua pequena parte nas costas daquele trabalhador. Os outros que vinham atrás dele, conduziram-no. Por um momento pararam, Sophi escondeu-se rapidamente atrás de outra pedra, respirou fundo, mas eles logo seguiram.

Sophi continuou.

Conduziram-no fora da cidade, longe das tendas que contornavam os muros. As montanhas ficaram mais evidentes, ganharam forma. Sumiram por entre algumas rochas.

"Senhor, está tudo bem? " – questionou Sophi para o homem que estava de costas e ninguém ao lado dele.

O homem deixou o silêncio como resposta.

"Fique tranquilo, senhor. Está seguro agora. " – continuou Sophi indo na direção dele.

"Claro que estou, mas..." – girando para ela. "Você está? " – tirando o manto que envolvia-o por sobre sua armadura dourada.

Sophi olhou-o surpresa.

Rapidamente os soldados apareceram por de trás das pedras ao redor dela. Soldados do reino. O Exército-dourado.

Era uma armadilha.

Tirando o escudo sobre o manto branco de suas costas, Sophi posicionou-o diante de si expondo as dunas de areia, o sol atrás delas e as pontas das lanças desenhadas em torno dele, diante os soldados.

"Achou que não pegaríamos você, Sophi, filha de Epheus? " – questionou o soldado sob seu elmo dourado.

"Onde ele está? " – questionou ela.

"Ele não tinha que se envolver com coisas que não lhe pertenciam" – disse o soldado.

"Onde ele está? " – exclamou ela mais uma vez.

"Fora do nosso caminho. " – Respondeu o soldado por sobre o ombro.

"HAAA! " – Bradou Sophi indo para cima dele.

"Peguem-na. "

O grupo de soldados chocaram-se com ela.

Uma espada bateu contra o escudo de Sophi. Outro golpe veio logo em seguida, fazendo ela defender-se. Fincou sua lança contra o soldado, mas este conseguiu esquivar-se. Outro soldado apareceu instantaneamente, mas Sophi defendeu seu ataque e atacou em seguida ferindo-o em suas costelas, mas um rápido impacto de escudo a fizera ir contra rocha.

Uma espada veio descendente, mas Sophi defendeu-se, esquivando-se rapidamente queixando-se de dor.

Uma lança apareceu cortando o ar em sua direção, mas num rápido reflexo, Sophi conseguiu defender-se. Outro impacto a derrubara, mas, mais uma vez conseguiu defender-se.

Um soldado veio com sua espada ferozmente, Sophi erguera seu escudo sentindo o impacto da lamina sobre ele. Mais outro ataque. Outra defesa com o escudo.

Outra lança veio cortando o ar em sua esquerda, Sophi interceptou sua trajetória com o escudo, mas não conseguiu interferir no caminhar da lamina do soldado em sua frente quando a espada raspou seu elmo, riscando-o bem diante do seu olhou direito. O peso da lamina sobre o elmo fizera-a desequilibrar-se, sofrendo um chute bem no seu abdômen, indo ao chão. Sophi tentou levantar-se, mas foi impedida por mais uma batida brusca de escudo sobre ela, levando a bater mais uma vez na rocha. Antes que pudesse fazer alguma reação, um dos soldados bateu em seu queijo debaixo para cima com um escudo. O impacto arrancara o elmo de sua cabeça. Sophi caíra de costas ao chão, mais uma vez. Esboçou erguer seu escudo, mas o tiraram bruscamente do seu braço. A dor era insuportável. Movimentou a lança em seus dedos, mas foi tirada também.

"Foi apenas um aviso. " – disse o líder inclinando sobre ela e tirando seu elmo.

Sophi cuspiu um pouco de sangue sobre a areia.

"Não fique no nosso caminho. " – continuou ele elevando-se, colocando o elmo na cintura.

"Você... Não... Vai... Se safar..." – disse Sophi com o rosto ao chão.

"Você está no chão e eu estou de pé, filhinha de Epheus. " – disse o soldado colocando seu elmo de costas para ela.

O sol escondia-se atrás de Ahnatnom, deixando a noite cobrir seu horizonte.   

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