Escondida

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Lívia tirou o lençol dos olhos. Levantou-se de sua ampla cama de Dolomita, trajou suas roupas.  Empurrou a porta levemente. O corredor estava livre para ela. Um sorriso estampou em seus lábios. Deslizou ligeiramente seus passos, sempre de olhos atentos, pois não queria chamar atenção dos guardas e principalmente do rei Casclan, seu pai.

Portas e mais portas passaram por ela. Poucos segundos depois a escadaria branca, coberta por um tecido azul estendeu-se diante dela. Prontificou em deslizar seus pés, mas teve que contê-los, pois guardas estavam fazendo seus turnos. Escondeu-se atrás de um dos vários pilares. Acompanhou-os até virarem em outro corredor.

Girou em seus calcanhares e degrau após degrau desceu a longa escadaria de Dolomita. A euforia tomava conta do seu corpo.

Diante dos seus olhos, um amplo salão abria-se para ela. Lustres pendiam-se do teto. As várias janelas formavam uma espécie de portal por onde a estrela da manhã adentrava quando rasgava o céu, esbanjando beleza e poder. Os pilares estrategicamente espaçados sustentavam o teto abobadado.

Saindo do salão, Lívia atravessou outro corredor cercado por pilares também, num conceito aberto, mas rapidamente seus olhos avistaram dois guardas que aproximavam-se. Escondeu-se instantaneamente atrás de uma coluna a sua esquerda.

Os guardas dunsanianos encontraram-se com outros dois. Conversaram por poucos segundos. Dispersaram-se logo em seguida por caminhos opostos.

Lívia soltou o ar dos seus pulmões num claro sinal de alívio.

Deslizou seus pés até o amplo pátio. Auxiliada pelo manto da noite conseguiu chegar ao extenso jardim de arbustos e muros verdejantes, no qual, qualquer um desatento poderia ficar perdido nesse labirinto vivo, menos para ela, pois as curvas já estavam memorizadas em sua mente a muito tempo.

Girando seus calcanhares para a direita, chegou até o quartel do reino. Uma longa espada de Dolomita formava o portão da entrada. Mas é claro, antes de adentrar ao recinto, esperou para que os guardas que vigiavam o local fossem para outro lugar.

Depois do aguardo esperado, entrou. Um amplo pátio com grossas toras de madeira de um lado, no qual, os soldados fortaleciam seus músculos levantando-as ou arrastando-as, outras fincadas ao chão arenoso revestiam-se com placas metálicas, imitando os inimigos e ao fundo uma área coberta, longas mesas e nas paredes diversas armas penduravam-se, esperando para serem usadas. Os olhos de Lívia brilharam naquele instante. Rapidamente dirigiu-se aos fundos, suas mãos passaram por todas aquelas armas, parando em duas que mais lhe chamaram atenção: uma grandiosa espada-longa, na qual, uma asa de Dolomita saía da base e o fio de sua lâmina quase a metade de seu comprimento e a outra, uma arma de arremesso, com duas lâminas  saindo de um par de asas, opostas, lembrando um bumerangue.

Envolveu seus dedos as armas, tirando-as da parede e levando-as ao pátio. Treinou alguns golpes, baseando-se naquilo que ela conhecia dos soldados, observando-os. Não era preciso, mas seu esforço valia apena.

Isso era o que ela almejava, a adrenalina do combate. Golpes ascendente, descendentes, golpes na horizontal, arremessos cortantes e precisos. Ela queria isso: o coração batendo e não a monotonia das horas de chá ao final das tardes e aulas de etiqueta presa em uma sala. Seu pai nunca a deixaria pegar em uma arma, muito menos entrar em uma guerra, mas teus sonhos de defender o reino eram muito maiores do que os poderes do rei.

Assim Lívia treinou, batalhou sobre o pátio e sob a madrugada, mas antes mesmo do sol clarear toda a terra de Dunsan e trazer o Branco-puro das paredes do reino e os soldados adentrarem ao local para fazerem seus treinamentos matinais, voltara para seu quarto toda ofegante, suada, cansada, mas viva. 

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