Testando

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Mais um papel no chão, mais um de vários espalhados pelo quarto. Sobre a cama, mais rabiscos, esboços, alguns coloridos, outros apenas o preto e o branco. De pernas cruzadas e com uma prancheta sobre o colo, Araau observava um dos variados desenhos do seu pai enquanto degustava alguns biscoitos que sua mãe fizera.

"Hum, gotas de chocolate. Esses são os melhores." - afirmou Araau. "Ah, essas armaduras... Olha pra isso, parece um palito! Cadê o volume?" - questionou.

Olhou em volta do quarto procurando alguma coisa. Desceu da cama e foi a até sua mesa. Pequenos cavalos de ferro, miniaturas de escudos, espadas, mas nada. Nada daquilo que ele queria. Coçou a cabeça. Foi até seu armário. Algumas repartições com livros, brinquedos...

"Ah, olha! Mais um biscoito! Hum, que delícia... Aha! Aqui!"

Encontrou um pequeno caderno marrom de espiral com a letra "A" bem no centro.

"Quem o deixou lá? Não se pode deixar biscoitos assim..." - disse Araau. "Ah, verdade. Fui eu. Há Há. Hum, onde eu estava? Isso, o caderno." - continiu ele.

Voltou para cama e folheou alguns de seus rabiscos, até que parou em um das páginas...

"Aqui, ó! Tem que ter volume!" - batendo sobre a barriga.

Ele fizera um desenho já há algum tempo, mas será que daria certo? Rapidamente juntou todas as folhas de estudos do seu pai, desceu as escadas, passou pela sala cumprimentando a sua mãe de cabelos grisalhos amarrados em coque, óculos, avental, que por sua vez, estava tranquilamente fazendo seu costumeiro tricô.

"Oi, mãe. Tchau, mãe." - disse Araau rapidamente.

E com grande velocidade foi até o barracão do seu pai, um senhor já de idade avençada, com poucos cabelos, mas uma longa barba branca e muitos anos de experiência como ferreiro, um dos melhores ferreiros do reino de Dunsan.

Passando pela porta, deixou os papeis em cima da mesa e saíra num piscar de olhos, voltando para casa e pegando mais um biscoito de gotas de chocolate que percebera em cima da assadeira sobre a mesa.

"Tchau, mãe... De novo." - comentou ele rapidamente.

Sua mãe, sem tirar os olhos das agulhas que entravam e saiam, soltou um ligeiro sorriso de canto.

"Essas crianças."

Voltando para o barracão, pegou uma chapa de ferro e a aqueceu na fornalha. Logo em seguida pegou um martelo que estava em um dos vários armários e começou a martelar. Faíscas voavam.

Seu pai que já estava trabalhando por ali, olhou de forma curiosa.

"O que está fazendo, Araau?" - questionou.

"Arte. Há Há..." - respondeu ele sorrindo.

Parte por parte, ele trabalhou o dia inteiro no seu projeto. Ombreira, bracelete, peitoral, calça, bota e por fim, seu escudo. Um pedaço de aço enorme, meio triangular, e claro, com um "A" no meio. O aço ajudava muito na produção de armamento, sem falar das várias horas observando seu pai no manuseio das ferramentas, na preparação da fornalha e no esfriamento de cada peça. Tudo isso lhe ajudou bastante a fazer sua primeira armadura e o seu escudo.

No dia seguinte, Araau levantou cedo, nem tomou café, foi direto para o barracão. Revestiu-se com sua nova armadura, movimentou os braços e deu alguns pulos.

"Nossa, ficou perfeita! Eu disse que tinha que ter volume." - batendo em seu corpo.

Olhou em volta e avistou um manequim que seu pai usava para expor as peças que ele fazia. Pegou o boneco de madeira e o arrastou para fora do barracão, no quintal. Aquele campo esverdeado era o palco perfeito para um teste. Colocou o boneco sobre o gramado e tomou certa distancia.

"Vem, vem! Pode vir! Não tenho medo de você." - andando de um lado para o outro. "Vamos, vamos! Ataque-me! Bunda mole..." - continuou ele.

Com todo aquele barulho, sua mãe levantou intrigada.

"Mas o que será que está acontecendo?" - disse ela meio sonolenta.

Abrindo a janela, ela deparou-se com um boneco de madeira no quintal e uma pequena bola prateada que estava pulando, rodando e gritando.

"Que isso, Araau? Uma hora dessas, está falando com quem meu filho?" - questionava ela.

"Não se preocupe, mulher. Eu a protegerei. Este meliante não lhe fara mal. Haaaa!" - respondeu ele.

Ela fechou a cara, mas estava se segurando para não rir.

"Pare já com isso, menino. Seu pai não vai gostar nada de você ter pegado as coisas dele para brincar" - ela respondeu com um tão mais firme na voz, pois percebera que Baldur, não se encontrava mais na cama.

"Isso não é uma brincadeira, mãe. Eu estou no meio de uma batalha. Somente um de nós ficara de pé." - exclamando olhando para ela. "Não se preocupa, não tem perigo. É rapidinho. Ele nem vai perceber." - disse ele.

O pequeno menino apontou seu escudo para o boneco.

"Você! Sim, você mesmo. Você cairá. Haaa!"

Com um movimento do seu braço direito, Araau lançou seu escudo na direção do manequim. Foi um ataque preciso, o escudo atravessou o boneco cortando-o ao meio e rapidamente voltando para seu ponto de origem.

"Eita, deu ruim." - disse ele levantando os ombros.

"Olha o que você fez! Está de castigo por uma semana. Quem mandou mexer nas minhas coisas? Trate logo de tirar essa armadura e já para o seu quarto, eu não vou falar de novo!" - disse seu pai perplexo ao ver tal cena.

O pequeno desviara o olhar para a sua mãe, mas o estrago já estava feito.

"Nari, nem tente amenizar, é pra ele aprender. Onde já se viu, uma hora dessas ficar gritando?" - continuou Baldur.

Mesmo tendo visto tudo aquilo e de ter tido orgulho do filho por ter feito uma armadura ainda naquela pouca idade, não podia fugir da responsabilidade de pai, até porque, não queria ver mais nada destruído.

O menino abaixou a cabeça e foi para o barracão, tirou a armadura ficando apenas de camiseta, short e chinelo. Voltou pra casa, subiu as escadas e entrou no seu quarto.

"Ah, mas foi legal, hein!" - disse Araau sorrindo e fechando a porta.

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