"Mais uma vez. " – disse Epheus.
"Mas de novo? " – questionou Sophi.
"Sim! " – respondeu seu pai com a barba demonstrando algum tempo que não tinha mais o mesmo cuidado. A pele envelhecida mostrava a passagem dos anos, mas o espírito ainda permanecia firme, como um jovem.
"Não entendo esse treinamento. " – comentou Sophi andando em círculos com lança e escudo em mãos.
"Batalhas se findam, mas a guerra... É bem diferente. " – disse Epheus golpeando-a com sua lança.
Sophi conseguiu desviar-se.
Outro golpe veio em seguida, Sophi defendeu-se. Mais outro. Outra defesa.
"Mas o senhor não luta mais..."
"Tem razão, filha. Mas temos que estar sempre preparados. "
"Quer dizer que eu vou lutar também? " – questionou ela.
"Todos nós lutamos, Sophi. Sempre lutamos. " – rodeando-a. "As vezes com armas, outras não. Mas estamos sempre lutando. " – dando um golpe.
Sophi desviou-se e atacou. Seu pai conseguiu defender-se. Outro golpe veio em seguida, outra defesa.
"Meu pai e antes dele sempre carregaram este escudo. Sempre lutaram e esse é o legado que foi passado a mim nos meus anos defendendo Ahnatnom e eu quero passa-lo a você. " – derrubando a lança da filha.
Sophi avançou rapidamente com seu escudo, mas seu pai curvou-se derrubando-a.
"Em aprender a cair? " – questionou ela com um leve gemido por conta das costas ao chão.
"Nunca desistir. " – disse ele estendendo a mão para a filha.
"Valeu" – agradeceu ela olhando nos olhos dele.
Mas num rápido impulso, Sophi puxou o braço de seu pai derrubando-o e subindo sobre ele colocou o escudo em seu pescoço.
"Vejo que aprendeu. " – disse Epheus sorrindo.
"Aprendi com o melhor. " – ajudando-o a levantar.
A rotina não mudava, era sempre a mesma. Repetia, repetia. Mesmo não estando mais na ativa por causa da aposentadoria, Epheus não largava o trabalho. No meio desses dias de treinamento, ele escapava, ficava horas fora de casa sem dar notícias, voltando sempre tarde da noite.
Epheus sabia da reputação de Ahnatnom e sobre o ligamento que tinha com Nidon na fronteira com Mar-verde. Sabia o que rolava por de trás dos muros, no interior dos grandes palácios. A maneira como o povo era deixado de lado. A injustiça.
As fugidas eram em segredo. Bom, era o que ele acreditava.
"Quando essa luta vai acabar? " – questionou Sophi olhando para o pai amarrando as ataduras nos braços.
"Como eu disse: sempre lutamos, filha. " – respondeu ele de cabeça baixa.
"Mas, pai..."
"Soldados não foram feitos para despedidas. " – olhando nos olhos dela.
"Vai embora? De novo? Por favor, pai..." – abraçando-o. "Então vou junto. "
"Não. " – fazendo um pausa. "Alguém tem que continuar lutando por aqueles que não podem."
"Eu sei que você sai, mas não sei o que anda fazendo. Você sempre volta machucado, acha que não percebo? " – direcionando seu dedo para fora.
"Desculpa, querida. Mas não posso deixar que o povo de Ahnatnom seja oprimido."
"Mas pai, o senhor não tem mais idade para isso, eu entendo. Deixe que outros assumem esse fardo."
"Eu sei minha filha. " – olhando nos olhos dela. "Não posso deixar que outros façam aquilo que posso fazer. "
"Por favor, pai... Eu não tinha tempo com você, agora que tenho, parece que não terei mais. " – disse ela com os olhos rasos d'água.
"Escudos não foram feitos para ficarem caídos, Sophi. Você sabe melhor do que ninguém sobre isso. " – dando um beijo na testa dela.
Epheus nunca mais voltou para casa.
Daquele dia em diante, Sophi assumiu o legado: lutar por aqueles que não conseguem, defender os que são atacados e fazer justiça para os injustiçados.
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The Guardians
FantasyO universo de "The Guardians" é repleto de fantasia, no qual, encontra-se bondade, maldade, companheirismo, individualismo. Por ironia, sorte ou azar, eles foram selecionados minuciosamente com habilidades distintas pelo destino. Explore esse unive...