A Renegada

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Aldeht Dodlay procurou no quarto da filha, mas nada. Foi até o celeiro, mas ela não estava lá. Procurou em volta da casa, no riacho... e nada também. Seus olhos começaram a escorrer as lágrimas sobre suas bochechas. Quando foi enxuga-las, ouviu um som por entre as árvores. Aproximou-se.

"Você..." – disse Aldeht.

"Senhora Dodlay" – falou a Ypui com sua lança-dupla em mãos. "Eu sou...."

"Thiisa" – adiantou-se. "Eu sei quem você é. Minha filha..."

"Somos amigas" – aproximou-se. "Estou aqui atrás dela"

"Ela sumiu" – abaixou os olhos. "Sabe o que pode ter acontecido? "

Thiisa entendendo toda a situação, tentou achar as palavras...

"Nossa aldeia foi atacada..."

"Quem? Foi Nidon? Foi Nidon que atacou vocês? "

"Eu não sabia o que fazer" – começou a chorar. "A gente fugiu para as montanhas... perdemos tudo... ela... me desculpa" – escondeu o rosto. "Foi tudo culpa minha. Eu que a chamei... eu que pedi ajuda" – mais e mais lágrimas.

Aldeht sentiu sua dor e abraçou-a.

"Vamos encontra-la"

"Mas eu não sei para onde a levaram"

"Acho que eu sei" – afirmou Aldeht.

Depois de um tempo caminhando entre as árvores, circularam os muros da grande capital nidoniana e chegaram a um túnel.

"É aqui" – disse Aldeht ao lado de Thiisa.

O túnel subterraneo ligava a um complexo de corredores que encontravam-se a uma ampla câmara, quase que no centro da cidade.

Entraram. As tochas nas paredes iluminavam o caminho. Mas não seria assim tão fácil. Guardas posicionados de forma estratégica, faziam a vigilância do local.

O confronto, claro, foi inevitável.

Aldeht reconhecendo cada milímetro daquelas passagens, diminuiu o tempo pela metade.

Um portão de grade colocou-se à frente delas, este, assim como os outros, estava acompanhado por dois guardas. Um de espada e escudo, enquanto que o outro empunhava duas lanças exatamente iguais. Mesmo sendo a única que não possuía armas, Aldeht surpreendeu seu oponente com seus anos de treinamentos que estavam guardados.

"Está tudo bem? " – questionou para a Ypui.

"Sim" – ela respondeu depois de derrubar o soldado. "Onde aprendeu a lutar assim? " – indagou.

"Eu nasci aqui" – respondeu Dodlay.

Com uma das lanças do soldado que derrubara, forçou o cadeado e abriu o portão. Seus olhos não acreditaram no que estavam mostrando: Cecília, sua filha, pendurada pelas mãos. E no lugar de suas lindas asas, dois rasgos profundos em sua pele. Toda coberta de sangue.

Rapidamente, Aldeht Dodlay e Thiisa, aproximaram-se dela. A Protetora da Floresta foi rompendo as correstes, enquanto que Dodlay segurava o corpo fragilizado de sua filha.

"Estou aqui queria. Estou aqui" – falou Aldeht. "A mãe está aqui, não se preocupa. Vai ficar tudo bem"

"O que? " – sua voz saiu fraca. "Mãe? "

"Sim, filha. Sou eu" - tirou a venda dos seus olhos

"Como que..." – tentou falar.

"Isso não importa agora. O importante é que estou aqui e vamos sair desse lugar. Vamos te levar pra casa" - comentou sua mãe depois de pegar da bolsa que carregara, pequenas flores com algumas petalas, e assopra-las sobre Cecília.

"O que é isso?" - questionou Thiisa.

"Flor-cicatriz" - respondeu Aldeht. "Vai ajudar nos ferimentos"

Mas nesse momento, sons de passos acelerados e palavras de ordens ecoaram entre os corredores.

"Temos que ir" – disse Thiisa. "Agora! "

Aldeht colocou Cecília na garupa de Thiisa depois de envolve-la a bandeira vermelha do reino de Nidon e amarrou-a junto a Protetora da Floresta com um pedaço de corda que estava próximo a elas.

"Segue reto por este corredor" – começou Aldeht.

"O que? Não! "

"Me escuta! " – chamou a atenção. "Na terceira abertura vire à direita e siga até o final" –completou.

"Mas, e você? " – questionou Thiisa em preocupação.

"Eu cuido deles" – respondeu Aldeht. "Só leve minha filha em segurança"

A Ypui ficou olhando para ela por alguns segundos, mas foram rompidas pelos passos e as vozes.

"Agora! " – gritou Aldeht. "Saiam daqui! "

"Promete que..."

"Eu estou logo atrás de você" – completou Dodlay.

Então, Thiisa saiu a todo galope. Aldeht Dodlay armou-se com as duas lanças que pegara do soldado no corredor e esperou por todos eles.

~~

Thiisa galopou, galopou... contornou inúmeras árvores e atravessou vários riachos, chegando assim, na casa de Cecília. Colocou-a sobre o sofá da sala, e esperou.

Tempo depois, olhou para fora, para além das copas das árvores, mas nada. Nada de Aldeht chegar. Com um olhar de preocupação, voltou a ficar com Cecília.

"Cadê você? Apareça..." – falou em sussurro consigo mesma.

Segundos depois, um som se fez presente. Thiisa rapidamente pegou sua lança-dupla e olhou para a porta.

"Eu disse que estaria logo atrás de você" – falou Aldeht toda machucada ao lado da porta. A Ypui alegrou-se e prontamente ajudou-a a entrar. Colocou-a sentada na cadeira ao lado da filha.

"Como que..." – iniciou Thiisa.

"Eu disse que dava conta deles" – tossiu em meio a um sorriso. "Mas muito obrigada por ajudar a salvar a minha filha" – segurou na mão da Protetora da Floresta. "Agora... eles precisam de você"

"Mas, e a senhora? "

"Eu estou bem" – tranquilizou-a. "Eu assumo daqui minha jovem"

"Mas eu..."

"Você me disse nas trilhas que Efil e várias outras pessoas ficaram doentes. E que Golanor, Munabi e muitos outros caíram devido aos ferimentos e.... como que chama a outra, mesmo? "

"Aruna"

"Isso, Aruna. E que ela estava fazendo o que podia para ajuda-los "

Thiisa olhou para ela com profunda tristeza.

"O seu povo precisa de você"

Thiisa agradeceu, desejou melhoras e foi para a porta.

"E lembre-se: " – Aldeht olhou para ela. "Você nunca perde tudo"

Thiisa sorriu sob as lágrimas e partiu.

~~

Horas depois, Cecília acordou. Suas costelas estavam envolvidas a faixas e sua mãe sentada do seu lado.

"Mãe..."

"Sim, filha. Eu estou aqui"

Ela tentou levantar-se, mas estava muito fraca ainda.

"Não se esforce" – pediu sua mãe.

Cecília olhou para o lado e viu as armas encostadas na parede.

"As lanças..." – falou em sussurro.

"Não dá para esconder quem você é" – comentou sua mãe.

Cecília soltou um leve sorriso de canto de boca, e Aldeht acompanhou-a sorrindo também.

Cecília dormiu... dormiu sem suas asas.

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