Alimentar Os Famintos

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Um pequeno grupo arrumava-se para sair a porta da tribo. Espadas, machados, lanças...mostravam-se na roda. Mais alguns membros apareceram para juntar-se ao grupo, dentre eles, Morin. O grupo que estava para sair, logo hesitou. Não gostaram da presença do antigo líder deles.

"Vê se não atrapalha" – disse Harold, comandante do grupo perante Morin.

Caminharam para longe da tribo, em direção ao interior dos pinheiros. Morin sabia que não seria fácil reconquistar a confiança, o respeito novamente. Por isso que ele precisava mostrar seu valor. Mostrar que ele não era só mais um membro, mas uma pessoa de valor, importante para a tribo.

A medida que foram andando, distanciaram-se uns dos outros em leque para cobrir uma área maior.

Morin congelou suas mãos, que semelharam-se a diamantes, até quase seus cotovelos, preparado para qualquer movimento suspeito.

Árvores e mais árvores. Gelo e mais gelo. O barulho dos companheiros deu lugar ao profundo e gélido silêncio. Morin colocou mais alguns passos à frente. Pulou um tronco caído. Desceu uma ladeira. Contornou algumas pedras. A luz do gelado sol deu lugar ao prateado da lua. Então, o som veio. Rapidamente atentou-se ao barulho. Acelerou seus passos, mas tomando cuidado para não afastar a possível preza. Sim, estava perto. Ele sentia isso.

Duas, três árvores. Mais algumas pedras devido a irregularidade do terreno.

Um rosnado.

Morin diminuiu sua velocidade de movimento. O som estava perto. Aproximou-se ainda mais. Ficou em posição de ataque. Mais passos. Então, seus olhos viram o mover de uma sombra a poucos metros adiante. Procurou uma melhor posição. Abriu a mão direita congelada para atacar. A sombra moveu-se mais uma vez. Mas quando trouxe seu corpo para fora dos pinheiros, aos olhos da lua, Morin surpreendeu-se.

"Não é possível" – abaixou suas mãos. Escondeu-se. "O Espírito da Noite" – recuou lentamente e quando percebeu que já estava a uma distância segura, voltou para tribo.

O grupo de guerreiros conversavam na entrada da tribo aquecidos por uma fogueira.

"Onde estava?" – perguntou um dos membros para Morin que tinha acabado de chegar. "A gente te procurou..."

"Eu nem perdi o meu tempo" – disse outro.

"O Espírito da Noite" – falou Morin.

"O que?" – questionou um guerreiro ali próximo.

"Todo esse tempo fora" – argumentou Harold, sentado diante o fogo. "Agora deu pra ver coisas" – finalizou.

Todos riram.

"É verdade" – afirmou Morin.

"Todos sabem que isso não passa de uma história antiga, uma lenda" – comentou Harold com os olhos brilhando por conta das chamas. "O Espírito da Noite não existe" – levantou-se.

"Eu vi" – disse Morin.

"Você viu o que queria ver" – foi em direção a ele. "Em vez de se preocupar com a caça para alimentar o povo" – apontou Harold. "Virou as costas. Decidiu pensar só em si mesmo e em sentar-se na Cadeira-de-carvalho"

"Eu sei o que vi" – fixou seus olhos nos olhos do guerreiro. "E se não fizermos nada, todos da tribo correrão perigo"

Um velho conhecido de Morin aproximou-se dele e colocou a mão em seu ombro.

"Morin, acho que..."

"Eu sei o que vi" – repetiu novamente com os olhos nos olhos de Harold e deixou o grupo.

Segundo depois, o guerreiro olhou para todos ali no círculo.

"Assim como os desertos" – começou Harold. "As terras pálidas também podem iludir, e ele caiu. Vamos! Temos muito o que fazer. Muitas bocas para alimentar" - finalizou o comandante.

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