Hauuu Hauuu Hauuu

25 0 0
                                    

O vento ecoava entre as rochas. As dunas desfaziam-se no ar. A lua pairava no céu no meio das estrelas.

O deserto estava em silencio, menos os pensamentos da guerreira. Menos os pensamentos de Sophi. Esses estavam agitados, agitados sobre tudo. Tudo que tinha acontecido: os treinamentos com seu pai, a luta que tivera, a derrota que sofrera. Será que era digna do escudo? Digna de continuar o legado de gerações? Por que ela? Seus dedos movimentaram sobre areia. Tentou levantar seus braços, mas o cansaço era mais forte. Forte, ser forte não é fácil, é desgastante, cansativo.

Sophi olhava em volta, nada além de rochas, dunas de areia, o céu, a lua, as estrelas, o deserto, o silencio, ela e a imensidão. "Não posso deixar que outros façam aquilo que posso fazer. " Esse foi o pensamento que viera sobre ela. Sim, não pode. Ela não estava morta, estava viva. Ela podia.

"Eu posso. " – disse Sophi em sussurros sobre o chão.

Olhou novamente para o escudo jogado a poucos metros à frente. Esticou os braços, nada. A frieza do deserto queimava sobre a pele. Esticou o braço mais uma vez, mas nada.

"Por que? " – questionou Sophi.

Fixou seus olhos sobre o escudo mais uma vez, os desenhos sobre ele: as dunas, o sol, as lanças... O lar. Seu lar. Sua história. Sua vida.

"Eu posso! Eu vou! " – disse ela.

Firmou seus braços ao chão e arrastou seu corpo. O vento gelado, a dor no corpo... Barreiras... Possíveis de serem quebradas.

"Eu consigo! " – afirmou Sophi mais uma vez.

Tocou no escudo. Ergueu o joelho. A lança estava próxima. Logo em seguida o outro joelho. Trouxera o escudo mais para perto, amarrando em seu braço esquerdo. Estava pesado, sim. A responsabilidade é pesada, não é fácil. Mas Sophi lembrara-se de outro ensinamento do seu pai: "Escudos não foram feitos para ficarem caídos. " Seu corpo doía, seu braço doía, mas ela forçou-o, forçou-o, forçou-o... E o levantou.

Algumas casas de pedras mostravam suas luzes amarelas sob a noite estrelada. Tochas de fogo destacavam-se nas ruas. As várias tendas espalhadas na entrada do reino estavam em silencio, bem longe das vozes e agitação dos seus moradores que vinham para o comercio.

Os soldados andavam em seus cavalos, outros a pé e outros permaneciam parados, seus olhos faziam o trabalho.

Os rostos.... Ah, os rostos, a forma de caminhar... Sophi sabia muito bem deles. Suas dores não os fazia esquecer.

Perambulando por entre as tendas, chamou atenção de alguns soldados. Sim, seu alvo estava ali. Os soldados foram atrás dela, mas quando viraram em uma tenda, Sophi os pegou, furando um e batendo seu escudo na cabeça de outro. O próximo foi numa das várias torres que tem na cidade, pegando-o por trás, estrangulando. Outro estava sozinho no setor oeste.

"Fim da linha. " – disse Sophi em sussurros atrás de uma parede.

O soldado passou. Ela deu uma rasteira nele e antes que ele viesse a cair, Sophi o furou com sua lança no ar, fincando seu corpo no chão.

Os cabelos grisalhos e a barba por fazer não saiam de sua mente daquele que a enganara fora dos muros do reino. Continuou seguindo sorrateiramente pelas ruas, sob a noite, mas nada. Até que ouviu algo sobre "Epheus" e "General Jack", procurou chegar mais perto. Escondeu por de trás de uma parede. Dois soldados conversavam à porta da Arena.

"Meu pai. Meu pai deve estar lá. " – disse Sophi consigo mesma.

Direcionou seus olhos para fora da parede. Algumas carroças pararam. Pessoas de cabeças cobertas saíram conduzidas por soldados até dentro da arena. 

"As pessoas desaparecidas..." – disse Sophi.

Um dos soldados direcionou-se para aquele que estava em sua frente e pronunciou o nome "General Jack" apontando para o homem.

"Você. " – Sophi pronunciou as palavras em tons baixos.

Sophi deu a volta. Dois soldados cobriam o portão sul da arena. Sophi fez um som com a sua boca, os soldados foram averiguar. Sorrateiramente ela passou sem ser vista pelos guardas das torres. Entrou na arena. Direcionou-se até o centro. Pulou o muro que divide a plateia da área central. Foi até diante uma das celas. Escondeu a lança e o escudo sob areia. Saiu do local.

Os soldados a pegaram. Jack a pegou. Mais uma vez ela apanhou. Levaram-na para arena.

"Aquela..." – disse Sophi apontando.

"O que? " – indagou um soldado.

"Prendam-me naquela. " – respondeu ela.

O soldado sorriu.

Jogaram-na dentro da cela. Jack aproximou-se.

"Ah, Sophi... Não aprende. " – aproximando-se da cela. "O povo a julgara. "

Sophi olhou-o de cabeça baixa.

"Mata-los para viver ou morrer para ser livre? Decisões, decisões. " – mexendo na sua lança-dupla de costas para ela. "Não devia ter ficado no meu caminho. " – disse Jack saindo por um corredor.

"Você que está no meu caminho. " – disse Sophi em sussurros.

O dia nasceu. Dava para escutar os gritos nas arquibancadas. Os portões abriram-se. A poeira espalhava-se no ar. Pessoas lutavam por suas liberdades. Sophi agachou-se e pegou sua lança e logo em seguida o escudo, amarrando firmemente em seu braço.

"Hauuu! Hauuu! Hauuu! " – batendo duas vezes sobre ele com sua arma.

The GuardiansOnde histórias criam vida. Descubra agora