A Predadora De Sanin

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O pai de Natasha servia bebidas aos navegantes e aos moradores de Sanin. Ele nunca colocou os pés na água. Dedicou-se sua vida sobre a terra, mais precisamente em sua taverna.

Uma pessoa até então, relativamente comum. Mas todos são comuns até que um momento os leva a fazer uma escolha; continuar a ser o que é, ou aceitar o chamado do destino? O dele tinha chegado quando bateram à porta da sua taverna. Daquele dia em diante, ele tornou-se muito mais do que um mero taverneiro. Tornou-se um defensor para toda aquela comunidade, depois das notícias de pessoas desaparecidas e de casas sendo invadidas.

Parte dos seus moradores não eram mais os mesmos, eram outra coisa. E esse grupo, envolvido aos boatos, não parava de crescer.

Mesmo ele nunca tendo navegado, ainda apreciava o mar e suas profundezas. E isso era claramente exposto perante aquelas "criaturas" que queriam espalhar o caos; suas mãos eram envolvidas por uma espécie de luva de ferro, na qual, traziam olhos e duas fileiras de dentes que lembravam navalhas. Assim, ele começou a ser chamado de O Predador de Sanin.

Sua filha tinha muito medo do mar. Tudo que habitava sob suas águas. Entretanto, ela tinha mais medo ainda quando ele saia. Não existia uma pessoa mais carinhosa e gentil como ele, mas quando retornava para a taverna, a expressão em seu rosto era irreconhecível.

Ela já tinha visto essas criaturas. Havia medo em seus olhares.

Inúmeras vezes discutiram sobre isso, dizendo que as coisas não poderiam ser resolvidas assim.

"Violência só gera mais violência" – disse ela.

"Mas essa é a única maneira deles entenderem" – falou seu pai. "Você não entenderia"

"Não? Claro que eu entendo! " - afirmou ela. "Eles comem, bebem, sentem dor, alegram-se...."

"Você não sabe o que está dizendo" – retrucou seu pai.

"O que nos difere deles? " – questionou ela quando apontou seu dedo para fora.

"Tudo" – ele respondeu.

"Nada, pai. " – rebateu ela. "Nada"

"Eles machucam as pessoas" – justificou seu pai.

"Porque nós..." – mostrou as luvas. "Machucamos eles também"

Até quando viveriam assim? Somente um ideal pode prevalecer.

Várias e várias vezes seu pai retornava... E várias e várias vezes as discussões impregnava aos fundos da taverna. Natasha não aceitava mais aquela situação, estava decidida sobre o que iria fazer. Porém, sua decisão teve que ser repensada. Seu pai não retornou mais. Nem nos dias seguintes. Temendo sobre o que poderia ter acontecido, um dos amigos do seu pai veio até ela e sua resposta estava com ele, mais precisamente em suas mãos: as luvas de ferro. O rapaz falou que tinha sido uma emboscada. Eles estavam em menor número, não deu para evitar.

Natasha chorou. Mandou o rapaz ir embora. Chorou mais ainda ajoelhada num canto. Mas depois de alguns minutos, o silencio pairou sobre ela. Seus olhos estavam fixos nas luvas.

Quando a necessidade fala mais alto, a humanidade deixa de existir.

Ela ficou de pé diante das luvas sobre a mesinha de centro cercada pelos sofás. Sim, sua mente estava clara em relação a decisão tomada. Ela não era mais simplesmente a filha do taverneiro. Seus medos sobre a profundidade do mar e as criaturas que o habitavam, não ficariam mais só para ela. Sentiriam o seu temor, e ela os levaria até eles em suas mãos. Assim, Natasha tornou-se...

A predadora de Sanin. 

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