Na Vila-Suspensa, as noticias espalharam-se rapidamente sobre um monstro nas redondezas, vinda de Claus, um dos Caçadores da vila.
Os moradores temendo pelo pior, rapidamente juntaram-se e fizeram uma reunião com os conselheiros da vila para intervir contra esse terrível ser, convocando assim os Caçadores para a casa central.
Uma sala ampla, com uma longa mesa de madeira de centro, na qual, as raízes que saiam por baixo da mesa formavam os seus pés. As janelas, assim como nas portas, envolviam-se aos finos e longos ramos que as contornavam e espalhavam-se por toda extensão das paredes.
Laie, o Sombra, uma das representantes do concelho, mãe de Gallyty. Não gostava nada da ideia da filha ter entrado para os Caçadores. Não bastava ter perdido o marido, agora a filha querendo cumprir perigosas tarefas, apesar dela já fazê-las, mas ainda sim, era muito forte para suportar.
A jovem arqueira aprendera muito cedo sobre os perigos, os riscos, os sacrifícios que a floresta exige. Ela não poderia recusar esse chamado, por mais perigoso que fosse.
Por isso que a mãe não interveio na escolha da filha, mesmo que alguns Caçadores não tenham gostado da ideia.
~~
O grupo de Caçadores já estava alguns dias embrenhados na mata seguindo essas criaturas.
Segundo a experiência do grupo e do líder Claus, essa fera é conhecida como: Urso-da-árvore-mãe, por morarem no meio das raízes dessa grandiosa árvore.
Ela é maior do que qualquer uma de sua espécie. Suas folhas, seus galhos, seus troncos... Tudo nela é imenso.
No acampamento, Gallyty amolava com uma pedra, uma de suas flechas. Em um formato circular sobre o chão, Sky acomodava-se sob suas asas ao lado de sua parceira.
"Só porque você é filha dela, não significa que terá tratamento especial, Gallyty." – disse um homem amolando sua grandiosa lança sentado sobre uma pedra envolta da fogueira.
"Eu não pedi tratamento especial." – ela comentou de cabeça baixa sob o capuz, pegando outra flecha para amolar.
"Você se acha a tal, né?" – retrucou o homem riscando sua lança.
Gallyty olhou-o sob seu capuz. O encarou-o por alguns segundos.
Por de trás da fogueira o homem inclinou-se a encara-la. Um sendo refletido aos olhos do outro. As mãos em movimentos lentos sobre as armas.
A fogueira no meio abafava o silêncio, deixando apenas os estalos da madeira.
A arqueira levantou-se, chamou pelo seu felino e subiram a uma árvore próxima.
"Você não é diferente de ninguém, viu?!" – disse o homem levantando-se e alterando um pouco seu tom de voz.
Com a lança em suas mãos e pronto para retornar a sua tenda, virou-se. Seus olhos ficaram perante uma ponta metálica que estava diante dele. Os dedos estavam leves, prontos para atirar. Gallyty encontrava-se na sua frente.
"Está tarde. Temos que dormir um pouco." – disse ela imóvel.
Ela ficou por alguns segundos perante ele, mas logo abaixou seu arco e direcionou-se novamente para a árvore que estava subindo, passando no meio da sua ilusão que rapidamente se desfez no ar.
O líder juntamente com um senhor de barba grisalha, estavam um pouco afastados, observaram a tudo.
O acampamento acordara bem cedo, antes mesmo de o Sol nascer. A fogueira permanecia acesa, mas descansava abaixo dos troncos, deixando apenas o calor das brasas em seu lugar.
Espadas, lanças, arcos, encontravam-se acordados.
"Ele não me escapa dessa vez." - disse Claus olhando para a parte que restou do seu braço esquerdo.
"Mas, será que ela pode ser um problema?" – questionou o senhor com seus braços cruzados.
"Por que acha isso, Holric?" – questionou Claus.
"Sei lá... Já faz alguns dias que ela se juntou a nós e não é muito de falar." – respondeu o senhor.
"Minha espada gosta de resolver problemas." – respondeu o líder descansando sua mão direita na espada em sua bainha e com um sorriso de canto de boca.
"Não sei por que a Vila a deixou vir, deveria ter ficado em casa com as outras mulheres." – comentou o senhor.
"Bom, não perca tempo com ela. Vá atrás de suprimentos para o acampamento." – ordenou o líder saindo de perto da fogueira.
Quando estavam prontos com um pequeno grupo para saírem do acampamento em busca de recursos, foram surpreendidos com as folhagens abrindo-se diante deles e do interior dela, a jovem arqueira retornando com um Javali-de-armadura de meio porte amarrado pelas patas e debruçado em suas costas. Sky, seu mascote, vinha trazendo inúmeras lebres por uma corda amarrada em sua boca.
"Se quer derrotar o inimigo, prepare-se antes dele." – ela comentou passando no meio deles e jogando o animal ao lado da fogueira que ainda ardia em brasa.
~~
Todos se encontravam atrás dos arbustos, Claus erguera seu punho direito, fechando-o logo em seguida. Ninguém se moveu.
Gallyty piscou seus olhos e destacou os ursos entre as folhagens, compartilhando sua visão com o restante do grupo.
Claus sinalizou com dois dedos: direita duas vezes e esquerda duas vezes.
"O restante, comigo." – disse ele em tom baixo.
Os passos sussurraram sobre o emaranhado de folhas.
Sobre a copa de uma árvore, em um ponto estratégico. Gallyty estava com seu arco armado. Seu mascote encontrava-se em outra árvore, apenas aguardando o sinal de comando.
Mas algo despertou os ursos, fazendo-os ficarem agitados, agressivos.
"Droga." – disse ela.
Rapidamente uma rede saiu do interior de algumas folhagens, cortando o ar, abraçando o mais forte deles, fazendo-o debater-se por dentro daquelas amarras.
A mãe com os filhotes conseguiu escapar
Flechas foram lançadas sobre aquele feroz urso, de coloração escura, longas presas e uma cicatriz em um dos olhos, mas não o paravam.
Num poderoso golpe, ele conseguiu escapar da rede e partiu pra cima dos caçadores como um trem desgovernado.
Gallyty atirou uma flecha sobre a criatura, na qual, a mesma ficou cravada nas costas da fera. Logo em seguida, usou de suas ilusões juntamente com seu parceiro para intervir sobre aquele urso, mas ele era um ser indomável.
Alguns homens tentaram com espadas e lanças, conseguindo rasgar aquela grossa pelagem, mas logo em seguida foram dilacerados pelas pesadas patas daquele animal que não se dava por vencido.
Mais uma vez a jovem arqueira usou de suas habilidades em prol dos caçadores, mas não estava sendo nada fácil.
Até que no meio de algumas ilusões a flecha encontrou seu alvo. Gallyty dera um tiro preciso. A fera veio a cair, mas não estava morta ainda, ela lutava contra seu destino.
Homens o cercaram, jogando-lhes duas, três redes por sobre o poderoso urso. Seus movimentos não eram mais ágeis, estavam lentos.
"Encontramo-nos de novo, velho amigo." – disse o líder colando o pé em cima da cabeça do urso e inclinando seu corpo sobre ele.
De repente, algo aconteceu.
O chão começou a estremecer. Os pássaros voaram aos gritos das copas das árvores. Os arbustos começaram a se abrir, e as pedras a pularem mais rápido por sobre as folhas do chão.
A terra se abalava.
Algo estava vindo e vinha depressa.
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The Guardians
FantasyO universo de "The Guardians" é repleto de fantasia, no qual, encontra-se bondade, maldade, companheirismo, individualismo. Por ironia, sorte ou azar, eles foram selecionados minuciosamente com habilidades distintas pelo destino. Explore esse unive...