Mesmo tendo o Campo dos Consolados, um lugar extremamente sagrado, os Ypui tinham um outro local de mesma equivalência, um santuário. O santuário de Ogan e Lasad. Os Primeiros de Nós. Um local que os sacerdotes conheciam muito bem, entre eles, os pais de Abigail, que eram muito devotos.
Abigail sempre era conduzida por seus pais ao santuário para seus treinamentos, pois ela estava sendo preparada para dar continuidade a este seguimento, mesmo contra sua vontade.
Todos ali tinham que fazer sua parte. Os Cascos Trovejantes, eram a parte mais brutal. Efil, o Ancião dos Ypui, era o conhecimento, a história, a parte cultural. Tinha também os Agricultores, Pescadores, Construtores... e por fim, os Sacerdotes, aqueles que zelavam pelo santuário, por Ogan e Lasad. Aqueles que faziam oferendas, cultos para o Pai e Mãe, ajudarem e protegerem os Ypui.
A jovem foi levada até uma parte do Vale-escondido, no qual, mostrou-se a frente deles duas colunas de pedras e uma deitada sobre elas. Raízes e folhagens entrelaçavam-se na superfície cinza.
Subiu inúmeros degraus cercados por um mural de bambus que estendia até o azul-celeste, como se fossem tocar o céu. Logo em seguida, chegou-se ao local sagrado.
Era um semicírculo de pedras, tanto no muro, quanto no chão. Salgueiros ao redor, ramos e raízes. No centro, uma pequena fonte de água cristalina. E atrás dela, estátuas de Ogan e Lasad. O Pai com as patas dianteiras levantadas e as traseiras sobre o piso. Na sua mão direita uma lança e uma coroa de penas no alto de sua cabeça. Do seu lado direito, a Mãe. Um colar de penas adornando seu pescoço, suas quatro patas sobre o chão e as mãos na altura de sua cintura, uma sobre a outra, semelhante a imagem de um círculo.
Os ensinamentos eram dobrar os joelhos sobre o piso, trazer incensos, repousar as mãos sobre as pernas e ao final, beber a água da fonte e distribui-la para o povo.
Abigail não gostava nada daqueles rituais, dos dias que tinha que ir para lá, de todo o tempo gasto... até ela ter o santuário inteiro destruído, seu povo refugiado nas montanhas e todos cometidos de uma grave doença.
Depois de se recuperar dos sintomas, juntou-se a Aruna, e começou a ajudar os outros enfermos com varias infusões e com tudo aquilo que conseguiam de ervas ao redor. Mas, foi nesse exato momento, vendo o sofrimento do povo, principalmente dos seus pais, que Abigail percebeu a única coisa que podia fazer; era usar aquilo que foi lhe ensinada, a crença.
"Não, mãe, não..." – disse em lágrimas ao lado da mãe.
"É preciso..." – afirmou o pai ainda fraco.
"Eu..." – tentou falar.
"Eu sei que você consegue" – falou sua mãe quase em sussurro.
Depois de sua mãe entregar-lhe dois totens de Ogan e Lasad, ela afastou-se.
Foi a um ponto isolado dos outros, no qual, todo o Vale, naquela altura, ampliava suas terras e abria seus horizontes diante dos seus olhos. Colocou os totens no chão, inclinou os joelhos, olhou para eles por alguns segundos e começou a chorar, pois, não tinha os incensos, não tinha a fonte... não tinha mais nada.
Ficou nessa posição por um bom tempo.
Chorou nessa posição por um bom tempo.
Depois de enchugar os olhos, desceu... voltou para os gemidos, para a dor, para todo o sofrimento.
Oito patas, quatro de cada lado a observaram descer a montanha.
No dia seguinte, repetiu o que fez no dia anterior: subiu aquele amontonado de pedras, colocou os totens no chão, dobrou os joelhos... e assim, se fez para todos os dias, numa clara tentativa de trazer algum alivio para o povo, mas não estava havendo melhora... nem sabia porque continuava a fazer aquilo... até aquele dia, quando foi trazida do seu momento por um membro de sua aldeia.
"Abigail" - chamou-a.
Com os olhos rasos d'água, virou-se.
"A febre..." - era Aruna.
Rapidamente desceu junto a Portadora das Mil Flechas para onde estavam escondidos...
Os Ypui afligidos pela grave doeça, mostraram melhora dos seus sintomas depois de muitos dias. Abigail foi tomada por uma grande alegria que seu coração parecia que ia saltar de seu peito.Porém, em meio aos vários curados, nem todos tiveram a mesma sorte.
E sobre o sorriso dos seus lábios, Abigail chorou... mais uma vez.

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The Guardians
FantasyO universo de "The Guardians" é repleto de fantasia, no qual, encontra-se bondade, maldade, companheirismo, individualismo. Por ironia, sorte ou azar, eles foram selecionados minuciosamente com habilidades distintas pelo destino. Explore esse unive...