O Coreto

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A mulher na sua frente andava de um lado para o outro. Um livro aberto ocupando a mão esquerda, enquanto que a direita mantinha-se livre, gesticulando.

Lívia olhava para a mulher, para os livros em sua frente sobre a mesa, e tudo era muito tedioso. Sim, era importante saber sobre as coisas do reino, os povos que os cercam, seus costumes, tradições, histórias...Mas fazer o que? Seu pai a obrigou mais uma vez a participar dessas aulas, mesmo sobre suas relutâncias, prometendo-a que no final, valeria a pena.

Claro que valeria. Por que não? Era seu ultimo dia de castigo.

"Lívia" – uma voz soou. "Lívia" – mais uma vez. "Lívia! " – mais alto, despertando a jovem e trazendo para a realidade novamente.

"Ah, oi..."

"Você está prestando atenção? " – questionou a mulher, olhando-a fixamente.

"Claro" – respondeu.

"Então por que não está na página dez? "

"Ah, dez... Isso, isso mesmo... Página dez" – folheando as páginas com um sorriso sem graça no rosto. "Foi mal"

Lívia, então, abaixou a cabeça e começou a acompanhar na leitura, e a responder as perguntas quando era solicitada.

~~

Os soldados treinavam. Golpes de espadas ecoavam suas sonoridades pelo local. E claro, Saikon destacava-se entre eles, além também, de ensinar-lhes.

Vanrror passou por aqueles homens e direcionou-se para o estabulo.

Depois de caminhar na frente de vários cavalos, ficou de frente a baia de interesse.

"Chegou a sua hora"

~~

Antes mesmo daquela que lhe ensinava chegar ao final da matéria, Lívia não suportou mais ficar ali. Saiu correndo.

"Lívia! " – gritou a mulher.

Com seu vestido verde-água, correu entre alguns corredores, desceu algumas escadas, passou por um enorme salão, e foi em direção a Promessa. Pois, mesmo que seu pai a repreendeu sobre ela, não a tinha impedido de vê-la.

Chegando no pátio, direcionou-se seus calcanhares para o estabulo, próximo à área de treinamento.

Tendo a princesa em vista, alguns soldados começaram a questionar e a zombar dela.

"O que ela faz aqui? "

"Cuidado para não quebrar as unhas! " – um grupo dando risada, gritou mais ao fundo.

Lívia não deu ouvidos ao o que estavam falando sobre ela. Passou pelos vários cavalos, mas nada. Onde estava Promessa?

"Chegou tarde, princesa" – disse um jovem soldado com um sorriso de canto.

"O que? "

"Achou mesmo que se tornaria uma de nós? "

"Cadê ela? " – questionou Lívia, olhando serio para ele.

"Eu não sei" – escorando-se na divisória de madeira.

"Fala! " – gritou.

"Ele disse que sua hora tinha chegado"

"Que? " – dando alguns passos para trás. "Não..." – mas entendendo aquelas palavras.

O soldado soltou uma pequena risada para ela.

Lívia, então, saiu correndo desesperada. Voltou ao palácio e foi em direção a Sala-do-Trono. Abriu a imensa porta, mas não havia ninguém. Procurou nas outras salas, pelos pátios... Perguntou sobre ele, mas nada. Seu pai não estava em lugar nenhum.

Não sabendo mais o que fazer, foi para o seu canto. Porque todos nós temos um canto. Um lugar para se chamar de nosso. O dela era o Coreto no Bosque-de-Marfim, aos fundos do castelo.

Depois de passar pela ponte e estando a poucos metros do seu lugar preferido de todo o reino...Avistou...Muito mais do que o Coreto com suas imponentes colunas brancas...Seu pai.

Seus olhos enfureceram-se. Seus punhos fecharam-se de raiva.

Reconhecendo os passos acelerados, Casclan virou-se e recebeu a fúria da filha.

"Por que? " – questionou ela chorando, e batendo em seu peito. "Por que? " – subindo ainda mais o tom de sua voz toda tremula. "Por que fez isso? "

"Fez o que? " – envolvendo-a ainda mais dentro do seus braços.

"Por que matou ela? "

"Quem falou em matar? " – questionou.

"O que? " – levantando a cabeça e direcionando seus olhos molhados aos olhos castanho-escuro do seu pai. "Mas disseram..."

"Querida..." – olhando para ela. "Como rei, é meu dever proteger o reino. E você é meu bem mais precioso. Mas como pai, eu só quero que você seja feliz. " – continuou o rei. "Eu jamais faria isso. Sabe que eu te amo" – tirando a lágrima que escorreu no rosto da filha.

"Então..."

"Servo" – chamou o rei.

Em poucos segundos, o servo apareceu ao lado do Coreto, e não estava sozinho.

"Promessa! " – gritou Lívia.

Rapidamente, a jovem desceu os três degraus da estrutura e foi ter com seu animal.

Promessa pulou várias vezes entorno de Lívia, assim como, a jovem em volta dela. Relinchos e gargalhadas misturaram-se.

Minutos depois, as duas encostaram seus rostos, e ficaram nessa posição por alguns segundos.

O rei, juntamente com o servo que cuida dos cavalos, presenciaram a tudo, mais precisamente seu pai, que sentiu todo aquele sentimento envolvido.

Logo em seguida, Lívia subiu nas costas de Promessa, que num rápido movimento, ficou sobre suas patas traseiras relinchando diante aqueles senhores.

"Obrigada, pai"

Por fim, correram, e atravessaram o pequeno riacho a frente.

"Ela é indomável" – comentou Casclan, olhando a filha sumir no horizonte a todo galope e feliz.

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