O Senhor Da Neve

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Sentado sobre a cama, Morin de cabelos castanhos, barba , uma jaqueta de couro revestida por pele. Uma grande fivela destacava a sua frente em volto de um tecido que contornava sua cintura descendo por sobre uma grossa calça de couro e sapatos de couro também. Passava lentamente uma de suas mãos no cristal fincado na ponta do seu cajado de madeira. Seu olhar estava sobre aquela pedra prismática, mas sua mente estava longe, muito longe.

A casa toda revestida de pedra não suportava os ventos cortantes que vinham pelas pequenas fendas. Estavam acostumados com o inverno, mas aquele não era um inverno comum.

O pequeno vilarejo de Uren rodeado de montanhas os protegiam do frio, mesmo assim, sua localização não era uma das melhores. A cadeia de montanhas fazia um corredor, concentrando as rajadas de ventos, fazendo-as engolirem aquele pequeno povoado erguido à base de pedra.

Sua esposa de pele clara e cabelos Castanho-escuro, deitada ao seu lado, envolvia-se ainda mais no seu filho para tentar suportar aquela friagem. Mesmo com groças camadas de peles, ambos tremiam.

O olhar de Morin sobre eles foi de pesar o coração, não era pra ser assim.

~~

O sol brilhava, mas o céu permanecia branco. Todos estavam empenhados para mais um dia de caça. Morim reuniu os homens do seu povoado para embrenharem-se por entre os pinheiros atrás do sustento para suas famílias.

As florestas eram muito densas, mas eles aprofundavam-se nelas, espalhando-se para cobrirem uma área maior. Entretanto, permaneciam em uma distancia que não desfavorecia a comunicação.

Cada vez mais que eles embrenhavam-se dentro da floresta, a neve crescia por sobre os pés, chegando às canelas. O suavizar da brisa dava lugar para rajadas de ventos mais fortes e a visão embaralhava-se com os pinheiros à frente.

"Acho que encontrei alguma coisa, rapazes." - disse Morin.

Rapidamente acelerou seus passos por entre as moitas, arbustos. Não se escutava mais nada, apenas o assoviar do vento. Com suas mãos diante dos olhos, protegendo da neve que caia, Morim não viu onde estava pisando e acabou sendo engolido pelo chão. Seu corpo foi escorregando por um longo e estreito tubo revestido de gelo em toda sua parede. Morin foi ziguezagueando no interior da terra até cair e bater no chão. Ficou ali por alguns segundos, mas conseguiu se levantar, meio com dificuldades por conta de queda, mas conseguiu firmar as pernas até ficar de pé. Seus olhos percorreram todo o lugar. Era uma grandiosa câmara de baixo do chão com longas pontas finas que destacavam no teto. No centro desse lugar em cima de uma pequena pedra, encontrava-se um cristal todo azulado e de um brilho bem intenso. Colocando a mão sobre os olhos, Morin foi se aproximando da misteriosa pedra.

O cristal todo azulado flutuava no ar, além disso, a neve naquele local movia-se, circulava o cristal e sucessivamente ele também que estava perto da brilhante pedra.

Ao presenciar tal cena, Morin lembrara-se das fortes tempestades que sempre assolam o povoado, fazendo-os passarem por momentos difíceis, como às vezes não terem o que comer, por conta das fortes nevascas, impedindo-os de caçarem.

Seu povo nunca se envolveu com coisas místicas, com coisas que estavam além do conhecimento deles. Não poderia levar o cristal para casa, não poderia levar o cristal para sua família. Todos e inclusive ele tem grande respeito por forças que regem aquilo que está além dos olhos.

"Como eles reagiriam com aquilo? E por que ele e não outro na posse do cristal? Quais conflitos surgiriam a partir disso? Mas eles não poderiam sofrer mais todas as vezes que uma tempestade surgisse." - nessa hora seus pensamentos fervilhavam em sua mente, clareando, confundindo, deixando-o perdido.

Morin conseguiu achar uma saída, deixando as costas para aquele local. Ele retornou para com o seu grupo e voltaram todos para o povoado trazendo lebres, raposas e peixes.

Muitos dias se passaram e por esses dias muitas tempestades vieram, mas nenhuma trouxera grandes assolações. Entretanto, no verão, a neve que sempre derretia, não em sua totalidade por conta da região e dos picos das montanhas que eram sempre gelados, começara a não derreter mais. O chão ficava mais fundo e a neve mais alta. O sol mais opaco. O Dia mais curto e a noite mais longa. A comida mais escassa.

O povoado não estava entendo uma mudança tão repentina no clima e Morin por ser o representante daquele povo, recebia todas as preocupações e principalmente os questionamentos. Ele tentava resolver da melhor maneira possível, mas já estava ficando difícil controlar aquelas pessoas e em especial a sua mulher que o conhecia melhor do que qualquer um. Ela sabia que depois daquele dia que eles foram caçar, ele não era mais o mesmo, alguma coisa tinha mudado.

"Será que ela descobriu que eu sou a causa disso? Será que ela  me via sair mergulhando nas noites para acalmar a tempestade? Ela não pode pagar por aquilo que não fez. Ninguém tem que assumir os erros dos outros. Sei o que esse poder é e do que ele é capaz de fazer. Fugir? Ela não. Se ela ferir-se? Se eu a feri-la? Não posso correr esse risco." - Seus pensamentos não paravam em sua mente.

~~

Ainda com os olhos sobre sua mulher e seu filho, tremendo de frio. Morin decidiu fazer o que era certo. Segurou firmemente em seu cajado com o cristal, levantou da cama, olhou para sua família e foi para fora.

Nada podia ser visto diante daquela noite, apenas o sentir o vento cortante na face. Mesmo não tendo mais a posse do seu povo que desconfiava muito dele, por talvez não agir da maneira que deveria agir e também ocultando coisas que deveriam deixar a mostra. Morin sabia que não podia deixar as coisas assim, eles não podiam passar por isso.

Atravessando a profunda noite, a densa floresta e os cortantes ventos, Morin se fez presente num alto monte. Olhando para a cidade, para o povo, para sua família, levantou suas mãos com o cajado, bateu-o sobre o chão.

Uma cor azulada espalhou por toda a região. Seu corpo ficou num azul intenso e cristalizado, mas que logo foi amenizando seu brilho.

As fortes tempestades cessaram, as frias noites intermináveis não existiam mais, no verão... No verão a neve nunca mais voltou a crescer. A comida estava na casa das famílias. Tudo estava em equilíbrio.

Morin nunca mais foi visto.

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