Estranhos

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No mundo pálido e hostil onde viviam, os menores não tinham muito com o que brincar. Já os jovens, interagiam uns com os outros nos treinamentos e nas caçadas quando atingiam a idade para isso. E assim aconteceu com dois jovens; o filho da Líder e a filha do comandante. Eles eram bem próximos. Onde estava um, encontrava-se o outro.

Nas inúmeras caçadas, Empereur não aceitava o resultado e sempre arrumava confusão com os outros membros do grupo.

"Era minha!"

"Não! Eu vi primeiro!" – retrucava ele.

Empurrões, socos, chutes... A rodinha incentivando em vez de apartar, até um dos comandantes chegarem e acabar com o rolo.

Empereur afastava-se todo machucado e dolorido e lá estava Dara de cabelos ruivos, sardas e olhos verdes ao seu lado. Ela amarrava faixas em suas mãos, outrora tratava dos arranhões do seu rosto e ele ficava olhando para ela enquanto cuidava das suas feridas. Em alguns momentos ela direcionava seus olhos para ele e rapidamente desviava o olhar.

Nos treinamentos, Empereur se saía muito bem, ao contrário da amiga, que não recebia olhares agradáveis de seu pai. Então, ela fugia para a floresta numa tentativa de treinar sozinha e ficar livre da pressão que seu pai exercia sobre ela. Mas lá estava Empereur entre as árvores ajudando a amiga nos movimentos, tanto de ataque como de defesa.

Eles se encontravam quase todos os dias para treinarem, ali mesmo, em uma área próxima da tribo. Ele sempre orientando o movimento das mãos e a posição que ela tinha que colocar os pés. Ele gostava dela. O toque dela. O mundo onde morava era tudo muito bruto e áspero. Mas não ela. Ela era doce, gentil. Ele até que tentava explicar o que estava sentindo, mas não conseguia. Só conseguia sorrir. Sorrir sozinho.

Certo dia, quando estavam tentando quebrar a defesa um do outro, ela o derrubou, ficando por cima dele. Segundos depois, Empereur rolou-se e deixou ela de costas para o chão, segurando seus pulsos. Suas respirações estavam aceleradas. Tons Castanho-escuro e tons esverdeados olharam-se. Como se tudo tivesse desaparecido. Nada de futuro. Sem medo. Somente aquele momento. Pequenos flocos de neve começaram a cair entorno deles, mas estavam tão imersivos um no outro que tudo em volta parecia que estava em câmera lenta.

Ela gostava dele. Talvez era os olhos, de como ele a colocava dentro deles. A atenção que ele dava a ela. Isso a deixava feliz e diminuía a pressão que seu pai colocava sobre seus ombros, exigindo que ela fosse a melhor em tudo. A perfeita.

Gradativamente suas respirações foram voltando ao normal, assim como toda a realidade que os cercava.

Empereur levantou-se rapidamente e afastou-se dela.

"O que foi?" – questionou Dara sobre os cotovelos.

"Nada" – respondeu ele de costas para ela. "Está tarde. Temos que ir"

O laço que criaram entorno um do outro foi ficando mais longo, cada vez mais distante. Quando entrava em uma briga, Empereur procurava sarar sozinho e os treinamentos que passava com ela não eram mais os mesmos. Ficavam mais sérios e mais curtos.

Tudo isso deu-se depois que seu pai, Morin, deixou a tribo. Ele sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Viu-se como o homem da tenda e não podia mais perder o foco com distrações.

Dara tentou entender o que estava acontecendo, mas ele não era muito de falar. Por mais que ela se esforçasse, dentro do coração dele não havia espaço para ela.

O laço rompeu-se.

Ele até que a procurou depois de um tempo, mas não a encontrou mais. Em um determinado momento, ela foi atrás dele, mas ele tinha ficado ainda mais distante.

Tornaram-se estranhos. 

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