Particular

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Inúmeros homens começaram a trabalhar no terreno aos fundos do palácio. Pedras chegavam de todos os lados para serem lapidadas. Umas sobre as outras eram colocadas. Antes mesmo do sol rasgar os horizontes sobre aquelas terras áridas, os homens esbarravam uns nos outros nos carregamentos. E até depois que a estrela da manhã apagava sua luz através das dunas, pedras eram cortadas e amontoadas umas sobre as outras, dando forma a idealização do rei.

Carros e mais carros puxados por animais entravam pelos enormes portões do reino, mesmo com todos os perigos que o deserto proporcionava. Mas o rei não queria saber, seu desejo tinha que ser realizado, e ele estava pagando muito bem para isso.

Base sobre base, coluna ao lado de coluna. O horizonte começou a ganhar forma; uma grande pirâmide de degraus, onde, por sobre os terraços, eram plantadas uma enorme variedade de plantas, de inúmeras espécies, vindas de todos os lugares. Alguns desses terraços eram totalmente verdes, semelhantes a uma densa floresta. Já outros, exibiam suas cores através das copas de suas árvores; tons amarelados parecidos com ouro, tons de rosa, roxo, brancos semelhantes a neve. Algumas árvores traziam o azul que lembrava o infinito céu. E bem lá no alto, no último andar dessa monumental estrutura, o rei, juntamente com seus construtores, idealizaram a junção de todas as espécies de plantas e flores num único local.

Depois de muito suor, muito sangue, muitas horas e muitos dias, a obra estava completa. Os jardins estavam prontos.

O rei, então, chamou Nilla. Ela atendeu ao seu pedido e foi ter com ele.

Subiram os degraus. O rei mostrou cada andar; seus amplos espaços, a composição das plantas em seus lugares. Brincou com ela jogando um pouco de água vindo dos extensos canais que circulavam, regavam e escoavam de toda aquela estrutura. Nilla sorriu e brincou com o rei jogando-lhe um pouco de água também. Ela maravilhou-se com tudo aquilo.

"Esse é seu novo quarto" – disse o rei quando chegou ao último andar e abriu os braços.

A cama era cercada por quatro pilares, no qual, eram envolvidos a uma fina cortina. Ao lado, no amplo espaço, grandes almofadas e vários tapetes sobre uma área coberta.

Os olhos de Nilla não sabiam para onde olhar. Seus lábios expressaram falar alguma coisa, mas nada saiu. Ela caminhou e foi para perto de uma mesinha sobre um dos tapetes. Um livro estava sobre ela. Nilla abriu. Figuras de flores e plantas exibiram-se nas páginas juntamente com algumas anotações.

"Eu..." – começou o rei. "Não sabia do que poderia gostar, então pedi aos meus conselheiros trazerem de tudo, de todos os lugares. E num desses lugares, uma senhora muito gentil deu esse livro. Segundo o que ela informou a eles, tem tudo o que precisa saber"

"Por que tudo isso? " – questionou Nilla.

"Tudo para a minha amada" – pegou sua mão direita e beijou-a delicadamente.

"Aposto que fala isso para todas" – tirou a mão da mão dele.

"Não" – falou firme o rei, depois de pega-la pelo pulso. "Eu apenas gosto delas" – sorriu e soltou-a.

"Sei" – comentou Nilla perante os olhos dele, mas sem dar tanto interesse.

"Bom, vou deixa-la mais confortável. " – saiu.

Nilla Ayalla caminhou novamente pelo lugar e deitou sobre a cama. Seu teto, mesmo sem estrelas, era repleto de flores e perfumes. Abraçou um dos seus travesseiros e tentou entender toda aquela situação. Acreditou que haveria algo mais depois da conversa.

"Ele não me beijou" – sussurrou ela. "Depois que os olhos se encaram, normalmente tem-se um beijo. Mas não teve" – acariciou o travesseiro.

Ele não a beijou. Nem forçou, como ela era antes submetida. Ele simplesmente saiu. E seu único toque íntimo com ela, foi o carinho dos seus lábios nas costas de sua mão.

Nilla virou para o lado, abraçou mais forte o travesseiro e sorriu.

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