Moedas Ao Mar

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Os cais de Sanin não paravam, embarcações indo e vindo, mas a movimentação não estava no trafego das velas, mas sim, nas mercadorias trazidas do mar. Toneladas de peixes e claro, criaturas das profundezas.

Alguns corajosos aventuravam-se em alto-mar, enfrentando as curvaturas das ondas e o açoitar das tempestades, mas outros preferiam a margem, limpando os peixes, separando as tripas dos filés, cabeça, calda... Os sangues dos animais misturavam-se a maré, mas mesmo ela enchendo e diminuindo, não o dissolvia completamente. O cheiro era insuportável.

Local onde Kahur trabalhava, tanto para ele, como também para seu pai, no qual, frequentou muito o mar em sua juventude, mas que agora esforçava-se apenas em passar um pé a frente do outro e ao final de cada dia dizer-se: "Mais um dia vencido. ", quando vai para cama auxiliado pelo seu filho.

Kahur sentia-se um vencedor, ele suportava o odor do cais e os cuidados para com seu pai, sozinho, e sempre ao final do dia dormia com aquela frase na cabeça: "Mais um dia vencido. ", mas sua verdadeira luta estava para chegar.

Kahur aceitou a oferta de aventurar-se no mar, as várias moedas valiam o risco.

Altas foram as ondas, longas as horas sob a noite e a recompensa mostrava-se dentro das fartas redes, entretanto, ao retornarem para Sanin, Kahur sofrera um acidente no cais, perdendo o seu braço direito quando foi içado ao levantar um grandioso peixe para ser limpo.

Kahur foi afastado para recuperar-se, mas quando retornou para seu posto, não o quiseram mais. Kahur tentou, mas nada, as respostas eram sempre negativas.

Não aceitando o que estavam fazendo com ele e principalmente com a situação do seu pai, decidiu então invadir um dos veleiros. Assim o fez. Mas quando discutiu com o capitão da embarcação sobre seu retorno como arpoeiro, uma onda bateu-se contra eles, fazendo Kahur perder o equilíbrio, não conseguindo agarrar-se a uma corda por causa da sua deficiência, caindo no mar.

O pai de Kahur não suportou a perda do filho, entregou-se ao cansaço.

Semanas depois, as pessoas começaram a murmurar entre as vielas e nas conversas ao fundo das tavernas, sobre a entidade dos mares e que ela estaria por trás das mortes dos pescadores que começaram a se suceder, e para voltarem a navegar novamente com segurança, moedas tinham que ser jogadas ao mar, para que sua ira não venha dentre a maré mais alta.

Não bastava o vai e vem das marés, a curvatura das ondas e as fortes chuvas, outra preocupação assolava Sanin e não era a natureza.

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