O Cobrador

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A noite estava sem lua, às nuvens cobriam o céu. Bebidas, vozes e jogos.

No povoado de Meekin, bem precisamente ao sul de Ahnatnom, encontrava-se um estabelecimento de médio pra grande porte, todo feito à madeira com duas repartições. Na parte superior alguns quartos para os viajantes e na parte inferior, vindo através de uma escada, um salão com varias mesas, algumas redondas e outras retangulares, um estreito balcão e por de traz dele, bebidas para os visitantes daquele recinto, que não eram visitantes comuns, eram mercenários, gente da pesada. A beleza passava longe daquele lugar, que ficava, claro, escondido.

O local estava repleto de gente. As garçonetes pulavam de mesa em mesa servindo os que adentravam ao local. Elas eram comandadas por um grande homem careca e gordo, que não se importava com nada além do próprio ego.

Um som de vidro ecoou por aquele recinto, foi imperceptível por entre as vozes, mas destacou-se nos ouvidos do dono que logo percebera o que havia ocorrido.

O homem que perdera a cerveja pelo descuido da garçonete, irritou-se e sem perda de tempo, logo desferiu um tapa na cara da pobre mulher, que com o peso da mão, veio ao chão. As outras olharam pasmadas, mas não fizeram nada, não podiam fazer nada.

"Desculpa senhor..." - disse a garçonete.

"Ah, desculpas não vai secar a minha roupa. Vá, saía daqui e traga-me outro copo." – disse o homem cuspindo no chão.

A garçonete levantou-se meio cambaleando e foi para os fundos do estabelecimento.

Voltando a sentar-se junto com os caras que estavam na mesa, um deles comentou com deboche: 

"Agora você tem uma divida." - todos riram. 

Sim, todos riram por causa da velha história que muitos contavam. 

A história de um homem chamado Bill que não acreditava muito nas leis, pois dizia que elas não cumpriam o papel que lhes fora dado. Então decidira fazer as leis com as próprias mãos. Muitos acreditam que ele esteja morto, outros não. Mas todos já ouviram falar de Bill, que muito tempo depois ficou conhecido como O Cobrador, àquele que cobra pelos injustiçados.

Pegando a cerveja dentro de uma sala com vários armários cheio de barris, o dono do estabelecimento foi ter com garçonete.

"Nunca mais faça isso..." – dando-lhe um tapa, derrubando mais uma vez o copo de cerveja no chão. "Agora limpe essa bagunça."

De repente um homem de chapéu, calça, bota, um pano cobrindo sua face até o nariz, que sucessivamente descia no seu ombro esquerdo parando na metade do seu corpo. Acompanhado de um revolver na mão direita e um rifle nas suas costas. Seus olhos não tinham a íris, eram brancos, contracenando com seu rosto que era totalmente sem forma e negro. 

Apareceu atrás da porta de duas folhas de madeira daquele local, ninguém deu a mínima importância pra ele, até porque, todo tipo de homem aparecia por ali, até que uma voz ecoou:

"Você tem uma divida, hora de pagar."

Mais uma vez ninguém deu importância...

"Mais um que acredita nessas besteiras..." – disse o rapaz que dera o tapa na cara da mulher.

"Você tem uma divida, hora de pagar." -  a voz ecoou novamente no recinto.

"Vá! Saia daqui antes que eu lhe mostre o caminho. Cadê minha cerveja, mulher!" – disse levantando da cadeira e batendo o punho sobre a mesa.

O homem atrás da porta entrou no estabelecimento como se fosse um vulto, uma sobra, repetindo a mesma frase: 

"Você tem uma divida, hora de pagar."

"Eu já..." – as palavras foram canceladas por uma bala, levando o homem ao chão.

Todos os outros empunharam suas armas e direcionaram diante daquele sujeito.

"Muita gente aqui deve e vão pagar."

E antes que eles pudessem fazer alguma coisa, o homem chutou uma mesa contra eles, derrubando alguns, transformando-se em vulto novamente.  Tiros foram disparados contra ele, mas em vão. As garçonetes saíram correndo para esconderem-se. O homem corria por trás do pilares de madeira, atirava, desviava-se... Seus movimentos eram ágeis ali dentro.  

Depois de um tempo, o barulho das balas deram lugar ao silencio e corpos ao chão.

O homem transformou-se no fantasma e foi em direção ao dono do estabelecimento, materializando-se novamente.

"Você tem uma divida, hora de pagar."

"O que? Não..." – mas suas palavras foram abafadas pela bala do revolver que o atingira.

Aquele rosto negro, sem forma e de olhos brancos, passou por cada mulher, todas estavam amedrontadas, seus corpos tremiam. Ele não disse nenhuma palavra, apenas colocou o revolver na cintura e abandonou aquele local.

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