Leigh esperou até o último minuto para chorar.
Com último minuto, quero dizer quando entramos no carro para deixar a rodoviária, onde Lysandre entrou num ônibus que o levará para o aeroporto da cidade vizinha para pegar um vôo para a Califórnia. E com chorar eu quero dizer chorar. Ele cobre o rosto com as mãos e seu corpo treme por conta dos soluços altos. Fico assustado. Isso é bem diferente das lágrimas silenciosas que caíram no fim de tarde daquele sábado, quando bebemos um pouco de vinho demais e o pôr-do-sol estava especialmente bonito.
Acaricio suas costas gentilmente e espero a intensidade do choro diminuir. Estou bem ciente do quanto Lysandre significa para ele, embora, sendo filho único, eu não entenda pra valer esse tipo de amor. Leigh tira as mãos do rosto quando se acalma, sendo acometido por um último soluço, e olha para mim com uma carinha que me faz ter vontade de pegá-lo como um bebê.
— De-desculpe por isso.
Sorrio, enxugando seu rosto com as mãos.
— Algumas pessoas te chamariam de louco por chorar de tristeza por um irmão ir embora.
— Eu amo o meu irmãozinho — ele funga, abre o porta-luvas, pega uma caixa de lenços e assoa o nariz. — Nós passamos um tempo separados quando me mudei para cá, mas nunca estivemos tão longe. Além do mais, aquela casa ficará grande demais sem ele. Já posso sentir a solidão.
— Qual é, não vai ficar solitário. Eu estou aqui.
— Não é a mesma coisa — sua voz ainda soa chorosa enquanto ele seca os olhos com outro lenço. O primeiro foi descartado no saquinho de pano preso à marcha.
— Minha companhia não é suficiente?
— Sua companhia é perfeita, Keith. No entanto, com a popularidade que a Crowstorm tem alcançado desde o verão com o vídeo do show e o lançamento do segundo clipe, você tem passado quase todo o tempo na gravadora.
— Eu sei — suspiro e afasto a franja dos olhos. — Peço desculpas por isso, mas não há nada que eu possa fazer. Temos que trabalhar duro se quisermos chegar a algum lugar. Não temos intenção de ficarmos conhecidos apenas na cidade, queremos alcançar o mundo.
— Não estou criticando vocês. Nada me deixaria mais feliz que vê-lo chegar tão longe quanto almeja, Keith, mas eu te amo e sinto sua falta.
Então Leigh percebe o que disse e seus olhos se arregalam de leve. Um sorriso involuntário de alegria e provocação surge em meus lábios.
— Você me ama — declaro. — Está caidinho por mim.
— Não é como se você já não soubesse — ele resmunga timidamente. — Eu nunca tentei esconder.
— Esse é o efeito Keith Hartwell, bebê. Eu não te culpo. Como poderia não amar um cara tão lindo, talentoso e carismático?
— Você está rindo de mim.
— De jeito nenhum — balanço a cabeça. — Eu também amo você, lindo. Somos uma fanfic ambulante, não acha? O CEO e o rockstar. Aposto que é assim que chamariam. Ou " O namorado baterista do CEO ”.
— Não sou um CEO.
— Tem razão, você é o dono da porra toda, o que é ainda mais sexy. Para um primeiro namorado acho que mandei muito bem.
Leigh sorri, balançando a cabeça, e liga o carro. São quase oito da manhã e o estacionamento está praticamente vazio.
— A que horas tem que estar na gravadora?
— Não vou para a gravadora hoje. Vou ligar e dizer que estou passando mal, aí vamos poder passar um tempo juntos.
— Não precisa fazer isso.
— É, mas eu quero — pesco o celular do bolso e entro na lista de contatos. — Você está triste porque seu irmão foi embora, não vou deixá-lo sozinho. Perder um dia não vai me prejudicar. Além do mais, os outros caras vão estar lá.
— O Castiel também veio se despedir do Lysandre. Ele sabe que você está bem.
— Não se preocupe com isso, lindo. Apenas dirija para algum lugar que tenha comida, meu estômago está rugindo.