[ 22 de novembro, terça-feira ]
Megan me encontra na escadaria do prédio, sentado, fumando. Eu não a via ou falava com ela desde a treta de sábado e temo que tenha aparecido para brigar mais, porque não estou com paciência para isso. Se rolar outra discussão, é possível que eu seja tão ou mais grosseiro quanto fui na última vez e, honestamente, não quero chateá-la mais. Eu gosto da Megan, mas ela não é tão íntima ou tão durona para suportar meu temperamento e minhas palavras. Por sorte, ela parece tranquila essa manhã.
- Oi...
- E aí - cumprimento, soltando fumaça. - O que está fazendo aqui? Achei que quisesse me fuzilar.
- Eu queria, mas pensei melhor. Posso me sentar?
- Pode. Quer um cigarro?
- Sim, obrigada - ela pesca um cigarro do maço que ofereço e espera enquanto aciono o isqueiro. - Falei com Jake e soube que só vão para o estúdio à tarde, então resolvi vir até aqui. Por que está sentado na escada?
- Queria um pouco de ar, estou com a cabeça cheia.
- Problemas?
- Tipo isso.
- Eu sei que tivemos um desentendimento, mas pode me contar, se quiser. Só não garanto que poderei ajudar.
Olho para Megan, considerando a oferta. Seria bom ter um ouvinte que não tenha nada a ver com a história, assim a opinião seria imparcial. O problema é que não posso desabafar sem falar sobre a gravidez. Por outro lado... Ariane não quer que ninguém saiba porque não está pronta para todas as perguntas e paparicos, só que a Megan não teria nenhuma razão para fazer essas coisas porque elas não são amigas, então não tem grilo.
- Está bem, eu vou contar, mas você tem que prometer que essa conversa só vai ficar entre nós - digo, enfatizando o ' prometer '. - É um lance sério e pessoal que não quero que se espalhe por ora.
- Nossa, está até me assustando!
- Prometa.
- Tá, tá, prometo. O que é?
- Ontem nos disseram que vamos fazer uma mini tour pelo país para promover o lançamento do álbum. Temos que partir no dia dez de dezembro e vai durar um mês, só que... bom... a Ariane está grávida e...
Megan começa a tossir desenfreadamente, como se tivesse se engasgado com a fumaça, e bate no peito para tentar se recuperar.
- Grávida?! - exclama com voz estrangulada. - Há quanto tempo?
- Pouco mais de duas semanas. A questão é que o primeiro ultrassom vai rolar no dia catorze e a Ariane não quer ir sozinha, então me pediu para tentar adiar a viagem.
- E você adiou?
- O senhor Wang não pareceu muito feliz, mas topou adiar - suspiro. - Eu não queria começar a bater de frente tão cedo, entende, mas não tive escolha. É um lance importante. Ariane disse que chamaria um amigo para ir com ela, mas eu não queria que outro homem visse meu filho antes de mim. Eu sou o pai. Agora estou com medo que a galera fique de ovo virado comigo e que as coisas acabem indo mal porque vou chegar muito em cima da hora.
- Perdão, mas ainda estou chocada com a notícia. Você vai ter um filho?
- Vou.
- E está feliz?
- No geral, sim. Foi inesperado, mas eu queria formar uma família, então tudo bem - dou uma tragada. - Enfim, estou uma pilha. Não sei o que vou fazer se as coisas forem mal por minha causa, saca? A Crowstorm é importante pra mim e pros caras, eu me odiaria se fodesse tudo logo no início.