[ 22 de outubro, sábado ]
Meus olhos queimam com lágrimas de decepção e raiva. Pisco para afastá-las, mas não adianta — elas continuam ali, embora não caiam. Ainda bem. Levar um bolo já é humilhante o bastante, não preciso acrescentar um choro público. Fungo, comprimindo os lábios, e olho pela janela. É sábado à noite e as ruas estão movimentadas, apesar do friozinho de outono. O próprio restaurante está um bocado cheio, o que me faz sentir mal por estar ocupando uma mesa inutilmente há mais de uma hora.
Eu realmente pensei que Castiel apareceria dessa vez — ele disse que viria. Sei que os rapazes têm estado cada vez mais ocupados com os assuntos da banda, por isso perdoei todos os atrasos e compromissos desmarcados nos últimos meses, mas hoje é nosso aniversário de um ano. É uma data importante! Entre nossos respectivos empregos e a faculdade, mal temos passado tempo juntos desde o verão, e nas vezes em que saímos tive que aturar fãs nos interrompendo o tempo todo. Eu só queria uma noite a sós; uma maldita noite só para nós dois.
O mesmo garçom retorna pela centésima vez para perguntar se quero fazer o pedido. Já disse quatro vezes que estou esperando alguém, mas dessa vez digo apenas que vou embora. Apesar de estar com o estômago roncando de fome, não quero mais ficar aqui. Confiro o telefone enquanto ando pela calçada; nenhuma ligação ou mensagem. Castiel foi para a gravadora às dez da manhã e agora são quase nove da noite.
As lágrimas voltam a queimar meus olhos e, dessa vez, escorrem silenciosamente por minhas bochechas. Ele podia ao menos ter avisado que não viria, em vez de me deixar esperando como uma idiota. Saio do estacionamento sem um plano a princípio, então decido passar pelo drive thru do Shake Shack e comprar comida. Hambúrguer, batata frita e milkshake não são o jantar que eu esperava ter hoje, mas serão ótimos para aliviar os sentimentos ruins que estou sentindo. Nada combate os maus de amor como comer porcaria.
Quando chego em casa, Nathaniel está saindo. Ele está todo arrumado, com uma gola alta branca e uma camisa xadrez por cima. Topamos um com o outro no saguão.
— E aí, vizinha, o que faz em casa tão cedo? Achei que você e o Castiel fossem curtir a noite toda. Não é seu aniversário de namoro ou algo assim?
— Castiel ficou preso no trabalho, então vou curtir sozinha com Shake Shack — balanço o saco de papel kraft.
— Sozinha com Shake Shack em um sábado à noite? Qual é, não pode fazer isso. Estou indo para uma festa, não quer vir comigo?
Nathaniel não teve nenhuma dificuldade em fazer amizades quando as aulas começaram. Eu ando com Tobi e a turma dele tanto quanto possível, mas não fiz nenhuma amizade significativa no meu curso e certamente não frequento as festas.
— Não, obrigada. Não sou muito de festas.
— Mas são só nove e vinte e dois — ele diz, conferindo as horas no celular. — e é sábado! Não pode ficar sozinha. Anda, vem comigo, vai ser legal. É uma festa da galera de medicina.
— Valeu, Nate, mas eu passo. Não estou com humor para festejar.
— Que pena — Nathaniel suspira. — Bom, eu tenho que ir. Nos vemos outra hora, gata.
Aceno em despedida.
Fico mais alguns minutos parada no mesmo lugar. O Nate tem razão, é sábado e está razoavelmente cedo. Não tenho que ir para uma festa, mas não preciso ficar sozinha em casa. Decido ir ver o Leigh; ele entende bem minha solidão, principalmente depois que o Lys foi para Stanford. Keith também tem passado bastante tempo na gravadora.
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— Que bom que veio, Ari — Leigh diz, pegando uma batata frita. Ainda bem que optei pela porção grande. Estamos sentados no carpete da sala de TV, assistindo Orgulho e Preconceito. — Quer dizer, sinto muito por sua noite não estar sendo como esperava, mas fico feliz que esteja aqui. As coisas têm sido um tanto quanto solitárias nos últimos tempos.