[ 28 de janeiro, sábado ]
Estico o braço para abraçar a Ariane, mas encontro a cama vazia. Coço os olhos e os abro; o quarto está levemente iluminado pela luz do sol que atravessa a fresta na janela. A garota desaparecida em questão se encontra na frente do espelho, usando apenas um conjunto de lingerie roxo escuro. Coloco os braços sob a cabeça e observo. Ela analisa o próprio reflexo de vários ângulos, acariciando a barriga e franzindo as sobrancelhas.
— O que está fazendo? — pergunto. Minha voz soa rouca e mais grave que o normal.
— Minha barriga está notável — ela responde sem se virar.
— E qual o problema? Já tem quase três meses, afinal.
— Parece uma pancinha de chopp — ela bota as mãos na cintura e se volta em minha direção. — Não parece?
— Não vou responder a essa pergunta.
Ariane torce os lábios.
— Eu vi algumas fotos de mulheres grávidas de trigêmeos, é assustador. Sabe o quão grande minha barriga vai ficar?
— Por que está preocupada com isso? — me sento na cama. — É o que acontece quando se engravida, Greene. Não devia ficar vendo fotos, só vai te deixar mais maluca do que já é.
— Dizer que sou louca não ajuda, sabia?
— Pare de esquentar a cabeça com bobagens. Sua barriga está fofinha, estou adorando vê-la crescer.
— Claro, diz isso até eu ficar maior que uma fêmea de hipopótamo.
— De jeito nenhum — balanço a cabeça. — Você está linda e vai continuar linda. Está gerando três vidas aí, Greene, é fantástico. Você é uma deusa. Eu não seria capaz de um feito desse.
Ela me olha como se não acreditasse no que acabei de dizer, o que me deixa meio louco. Queria que Ariane pudesse se ver como a vejo, ainda que apenas por alguns minutos; só assim entenderia. Ela volta a se analisar no espelho. Empurro o cobertor pro lado e me levanto, pegando a camiseta que deixei na escrivaninha.
— Veste — ordeno, já passando a camisa por sua cabeça. — Pode parar.
— Parar com o que? Não fiz nada — Ariane retruca, enfiando os braços nas mangas.
— Está pensando coisas ruins sobre si mesma, eu sei, e não vou deixar. Vem — a puxo gentilmente até a cama e a faço sentar. Fico em pé na frente dela. — Você é perfeita, ok? E está radiante. E se quer saber, eu me apaixono mais e mais a cada dia. Sua barriga está crescendo, e daí? Eu amo isso, porque me lembra de que estamos prestes a formar uma família. É uma coisa bonita, Greene.
— Tudo isso é muito lindo, Castiel, mas quanto tempo vai demorar para que pare de sentir atração por mim?
— Isso nunca acontecerá, é totalmente impossível. Você é um mulherão da porra e, para ser sincero, me sinto ainda mais atraído.
— Eu duvido — ela cruza os braços.
— Está me chamando de mentiroso? Porque eu não minto. Não pra você, pelo menos.
Ariane desvia o olhar.
— Tá legal, vou te mostrar uma coisa — pego meu celular na mesa de cabeceira e me sento ao seu lado. Ela me olha com curiosidade. — Aqui, veja.
Lhe entrego o telefone.
— São fotos aleatórias minhas. Por que? Nunca reparei que fica me fotografando.