[ 17 de julho, sexta-feira ]
Eu não chorava desde o falecimento do meu pai. Não chorei quando Keith recusou meu pedido de casamento, apesar de ter doído como uma facada, mas ouvi-lo dizer que se imagina casado com uma mulher foi mais do que posso suportar. Me faz perguntar o que estamos fazendo. Se não imagina um futuro ao meu lado, por que aceitou morar comigo? Por que quer continuar o namoro? Não entendo. Ele quer me manter por perto até encontrar a mulher certa, é isso?
Solto o ar pela boca, observando o céu estrelado enquanto as lágrimas escorrem livremente, depois tomo um gole do whisky. Optei por uma bebida mais forte essa noite, mas não está ajudando em nada a aliviar a angústia em meu coração.
— Leigh?
Limpo o rosto rapidamente, me levantando.
— Oi, Ari — me viro para a porta da sacada. — Tudo bem? Precisa de alguma coisa?
— Eu queria saber se pode cuidar do Kurt e da Hayley enquanto dou banho na Emily, mas... Tem algo errado?
— Não, não, nada. Cuidarei deles com prazer.
— Me conte qual é o problema, posso ver que está chorando. O que houve? — insiste. — É algo com o Keith? O clima parece ainda mais tenso esses dias.
— Bom, nós conversamos — boto as mãos no quadril, comprimindo os lábios. — Ele me disse que se imagina casado com uma mulher, tendo um cachorro e não sei o que mais. Basicamente, não temos futuro, Ari. Acho que nossos dias como casal estão contados.
— Não, qual é, não pode ser verdade. Vocês são perfeitos juntos!
— É o que eu achava, mas o que posso fazer? Se queremos coisas diferentes, estamos apenas...
As palavras ficam presas em minha garganta. Cubro os olhos com uma mão quando começo a chorar outra vez. Ariane avança e me envolve em um abraço apertado e confortador, que retribuo na mesma intensidade.
— Eu queria voltar no tempo e não ter feito o maldito pedido — confesso. — Tudo estaria bem agora.
— Não tinha como saber...
— Dez mil dólares — solto um riso amargurado. — O que farei com o anel? Talvez eu deva dar pro Keith, para que ele dê para a mulher dos sonhos dele quando encontrá-la.
— Não pode ser, Leigh — ela quebra o abraço, mas segura meus pulsos. — Você deve ter entendido mal, o Keith te ama.
— Mas não é comigo que planeja ficar. Eu o amo mais do que tudo, Ari, e não posso continuar com esse relacionamento sabendo o que vai acontecer. O problema é que só pensar em terminar com ele me faz perder o ar.
— Então, não termine! Tenho certeza de que tudo não passa de um mal entendido. Vocês precisam conversar outra vez e esclarecer bem as coisas.
Assinto, porque não quero mais ter essa conversa. Falar em voz alta deixa tudo muito pior. Ariane capta minha vontade de encerrar o assunto e não insiste mais. Fico de olho nas crianças como me foi pedido, depois volto para a sacada do meu quarto. Não consigo parar de pensar no fracasso iminente do melhor relacionamento que já tive na vida. Doeria menos ser pisoteado por uma manada de elefantes.
A garrafa de whisky está pela metade quando Castiel e Keith chegam em casa. Sinto o perfume dele antes de vê-lo, e o ouço se mover pelo quarto. Não sei que horas são; estou meio embriagado. Chegou a hora de fazer o que estive pensando em fazer nos últimos três dias. Se não for agora, nunca terei coragem.
Esfrego o rosto com as mãos e entro. Keith está parado no pé da cama, parecendo cansado e lindo na mesma medida. Seu cabelo foi cortado e repicado, e as pontas estão pretas. Ele olha para mim com seus olhos verdes brilhantes, que me deixam sem fôlego. Não posso fazer isso. Não posso abrir mão dele, mesmo sabendo que não ficaremos juntos para sempre. Mesmo sabendo que um dia ele pisará em meu coração sem piedade. Não dá.
— Leigh? — suas sobrancelhas se curvam com preocupação. — Estava chorando?
Avanço com passos determinados, seguro seu rosto e o beijo intensamente. É tão maravilhoso. Acho que começo a chorar novamente.
— O que aconteceu? — ele pergunta, as mãos apoiadas nas laterais do meu pescoço.
— Eu desejo que seja plenamente feliz, mesmo que com outra pessoa.
— O que? Não... Do que está falando?
Balanço a cabeça e o beijo outra vez. Quero aproveitar ao máximo enquanto posso.