[ 11 de novembro, sexta-feira ]
Quando vejo Ariane caída perto do sofá meu coração para por um segundo e logo começa a bater tão forte e rápido que tenho medo que vá estourar a caixa torácica. Largo a alça da capa de proteção, fazendo o violão cair no chão, e corro até ela. Caio ao seu lado com um baque que, com certeza, fará meus joelhos doerem depois. Keith me segue. Chamo Ariane por todos os nomes que costumo chamá-la, inclusive o seu próprio, enquanto viramos seu corpo cuidadosamente de barriga para cima.
— Greene, acorda — peço desesperadamente, batendo de leve em suas bochechas pálidas. — Por favor, garotinha, abra os olhos. Que diabos aconteceu? Vamos lá, amor, ou vou ter um infarto.
— Não fica sacudindo, ela bateu a cabeça, pode ser perigoso — Keith soa muito mais calmo que eu, embora haja preocupação em seus olhos. — Ela está respirando?
— É óbvio que está — esbravejo. — Não me deixe mais preocupado, pelo amor de Deus. Vamos colocá-la no sofá.
— É melhor chamarmos uma ambulância, não sabemos há quanto tempo a Ari está caída. E se for algo mais grave?
— Cala a boca, está me deixando nervoso!
— Não me manda calar a boca, só estou tentando ajudar!
— Então, vai buscar um copo d'água.
Keith bufa e vai para a cozinha. Eu enfio os braços sob os joelhos e o torso da Ariane e a levanto com cuidado, acomodando-a no sofá maior. Meu sangue está gelado de medo. Por favor, Deus, que não seja grave. Não saberei o que fazer se algo acontecer com essa criatura. Keith volta e dá o copo para mim. Molho os dedos e respingo um pouco da água fria no rosto da Ariane algumas vezes. Devagar seus olhos começam a se abrir e meus músculos amolecem de tanto alívio.
— Minha cabeça vai explodir — ela se queixa, levando a mão à testa. — O que aconteceu?
— Eu é que pergunto. Você estava desmaiada quando chegamos, com o rosto pálido como o de um fantasma. O que houve? Está doente? Ferida? Precisa ir ao hospital? Eu quase morri de preocupação, Greene.
— Eu tive um mal estar o dia todo, acho que minha pressão caiu.
— Por que não me disse que estava se sentindo mal?
— Porque era só um pouco de enjôo e dor de cabeça, nada mais. Não queria te preocupar à toa.
— À toa? Você podia ter batido a cabeça na quina de alguma coisa e ter sofrido uma concussão. Francamente, garotinha, estamos juntos na saúde e na doença. Se não estiver bem de saúde, você precisa me dizer.
— Hm... Pessoal — Keith interrompe nossa conversa. Ele está segurando algo nas mãos; parece um termômetro. — Acho que encontrei a razão do mal estar.
— Merda, eu tinha me esquecido disso — Ariane cobre o rosto com as mãos, fungando.
Franzo o cenho e me aproximo do meu amigo, que me entrega o que está segurando. Não é um termômetro, é um teste de gravidez.
— Eu vou ser tio! — Keith exclama alegremente. — E padrinho, espero, porque ninguém merece esse posto mais que eu.
Meus joelhos falham e praticamente caio sentado no sofá, quase sem ar. Tem dois traços na pequena tela — um bem fraco, mas está lá. Não sei o que pensar nem o que dizer. Acho que vou desmaiar também. Olho para Ariane, que está encarando o teto.
— Por que não estão felizes? É uma grande notícia!
— Porque é um choque! — ela se senta, ainda pálida. — Eu não posso estar grávida, a gente quase nunca transa sem camisinha e eu tomo remédio. Como isso foi acontecer?
— Desculpa, minha querida, mas há sempre o risco. Vocês não querem filhos, é isso?
— Não, nós queremos, mas não estava nos planos imediatos. Estou só no primeiro ano da faculdade e vocês, no início da carreira. Não temos nem vinte anos!
— Fica calma, Ari — Keith avança para abraçá-la. — Vai ficar tudo bem, estaremos todos aqui para ajudar. Eu, o Leigh, a Ana, o Jake, o Mark, seus pais...
— Meus pais vão ter o próprio bebê. Ai, meu Deus!
— Seu filho e seu irmão vão crescer juntos, não é legal?
É só quando a ouço chorar que saio do transe. Largo o teste e vou para o lado dela, fazendo o Keith sair. Puxo Ariane pro meu peito.
— Não chora, está tudo bem — tento consolá-la. — Tudo bem.
— Não está assustado? — ela pergunta, levantando a cabeça.
— Estou petrificado — confesso. — Mas não é uma notícia ruim, certo? Quer dizer, adiantamos alguns anos, mas vamos dar conta.
— Como? Como vou estudar com um bebê? Eu teria que abandonar a faculdade.
— Não, não, a gente dá um jeito, ok? Nós podemos... Sei lá. Porra, vamos ter um bebê, não consigo pensar em mais nada agora.
— Vocês sabiam que pessoas que têm gêmeos na família possuem mais chances de ter filhos gêmeos?
— Fecha essa boca — ordeno. — Agora não é hora para curiosidades gestacionais.
Keith ergue as mãos em rendição e se senta no sofá menor, pegando o teste que deixei lá.
— Quantos testes você fez, Ari?
— Só um.
— Então, como tem certeza de que está certo? Parece positivo, mas o outro traço está quase apagado, pode ser falso.
— Você acha? — Ariane pergunta esperançosamente, secando o rosto com as mãos. — Eu vi que é muito raro testes darem falsos positivos.
Keith dá de ombros.
— Faça outro e vamos ver. Faça dois, se possível.
Ariane morde o lábio e me olha em dúvida.
— Quer que eu vá com você? — pergunto e ela assente.
Confesso que estou tão ansioso quanto ela enquanto espero todo o processo ser feito, não sei se para o resultado ser positivo ou negativo. Um filho definitivamente não estava nos planos imediatos, mas não seria necessariamente uma coisa ruim. Seria complicado, é claro, mas ruim não. Ariane deposita os dois testes sobre a pia, aflita.
— E se for positivo?
— Independente do resultado, estamos juntos nessa — garanto. — Você não vai ter que largar os estudos, nem eu a banda.
— Eu teria que deixar a faculdade por um tempo, sim. Não quero dar à luz e jogar a criança aos cuidados de outra pessoa, quero poder ficar com meu bebê e não posso levá-lo para as aulas — suspira. — Pelo menos a licença maternidade me garante o salário.
— Greene, olha, não adianta pensar nessas coisas agora. Nem sabemos se está grávida mesmo.
— Você ficaria feliz se eu estivesse?
— É claro que sim. Você não?
— Acho que sim, depois que me acostumasse com a ideia. É que é assustador.
— Nem me fale — suspiro, a puxo para um abraço e beijo sua testa. — Veja o lado positivo; seríamos os pais mais bonitos e descolados nas reuniões escolares.
— Isso é — ela dá uma risadinha.
— Aí, galera, anda logo — Keith bate na porta. — Estou tão ansioso quanto vocês.
Depois de cinco minutos, desfazemos o abraço e chegamos mais perto da pia. Ambos os testes exibem apenas um traço. Nós dois soltamos um suspiro audível e trocamos um olhar aliviado. Ainda não chegou nossa hora de formar uma família.
— E então — pergunto. —, quer encher a cara?
— Minha nossa, sim. Obrigada.