[ 23 de novembro, terça-feira ]
Encontro Castiel no quinto andar, na academia, correndo na esteira com o cabelo amarrado, a camisa presa no cós da bermuda, fones nos ouvidos e cara fechada. Não há mais ninguém malhando a essa hora. Excelente. Me aproximo dele com passos determinados e desligo o equipamento, pegando-o de surpresa e fazendo-o cair de bunda no chão.
- Que porra é essa?! - esbraveja, tirando os fones.
- Quero falar com você.
- E não tinha uma forma melhor de dizer isso? - ele se levanta. - Caso não tenha notado, interrompeu minha corrida. Marque um horário com meu agente da próxima vez.
Respiro fundo e massageio as têmporas com os dedos. Castiel volta para a esteira e recoloca os fones, que eu puxo.
- Estou aqui como colega de banda e melhor amigo. Podemos conversar como dois adultos, por favor?
- Não é um pouco hipócrita me pedir isso depois de me derrubar de propósito?
- É, mas você mereceu.
- E por qual motivo, posso saber?
- Pode. Vista sua camiseta e vamos pro refeitório.
Não trocamos uma palavra sequer durante o caminho, o que por mim tá beleza. Alguns funcionários estão comendo, então escolho uma mesa mais afastada para que possamos ter tanta privacidade quanto é possível. Nos sentamos um de frente para o outro e, de praxe, Castiel parece contrariado.
- Eu gostaria de começar dizendo que queria te dar uns tapas, mas o Leigh me fez prometer que seria civilizado, então sugiro uma conversa tranquila.
- Você sabe que não pode comigo - ele rebate.
- Não vou discutir isso - abano a mão. - Quero falar sobre você, a Ariane e a Megan. Bico calado - ordeno quando ele ameaça interromper. - Vamos por partes. Primeiro: por que não foi atrás da Ari?
- Porque ela obviamente não quer me ver - resmunga.
- E daí? Antigamente ela não queria te ver e isso não te impedia de aparecer no Hummingbird todos os dias.
- É diferente. Ela passou a noite com vocês?
- Sim, no quarto de hóspedes. Sabia que ela pegou um ônibus e tomou uma chuva fodida? Pois é, garotão. Tudo isso tarde da noite. Podia ter acontecido algo terrível.
Um brilho preocupado passa por seus olhos, mas Castiel dá de ombros.
- Como isso é culpa minha? Ela podia ter pego a chave do carro.
- Ora, não seja cínico - reviro os olhos. - Você acusou a garota de manipulação, só por isso ela saiu de casa. Foi uma mancada das grandes, Castiel, não negue. Como pôde? E por envenenamento da Megan, uma garota que você mal conhece. Não acredito que está permitindo que alguém estrague um relacionamento que você brigou tanto para manter, principalmente agora.
- E o que a Megan tem a ver com isso? Foi uma puta sacanagem ela ter aberto a boca pro Nathaniel depois de eu pedir segredo, mas não acho que ela seja a culpada de todos os problemas.
- É, foi sacanagem. Tanta sacanagem quanto você contar sobre a gravidez pra ela.
Castiel solta um riso nada contente.
- É claro que sou o vilão da história de novo. Na boa, vocês se esquecem de que esse filho também é meu, de que minha vida também vai virar de cabeça para baixo. Se a Ariane não quer falar sobre a gravidez, tudo bem, mas por que eu não posso falar? Também estou preocupado, caralho. Também preciso desabafar às vezes. Até parece que saí contando pra Deus e o mundo.