[ 01 de abril, quarta-feira ]
Acho que todos estamos apreensivos enquanto esperamos o senhor Yang chegar — ao menos, eu estou. Não sei o que está rolando, mas senti um lance estranho quando nos disseram que o chefe queria nos ver. Não me lembro de termos feito nada errado para merecer uma bronca. Será que vão nos falar que as vendas do álbum não estão indo tão bem quanto o esperado? As visualizações nos videoclipes pararam de aumentar? O tal programa de TV de Atlanta não nos quer mais como convidados?
Rodo o piercing com a língua, ansioso. Jake batuca no braço da cadeira com os dedos, Mark bate o pé no chão sem parar, e Keith mastiga o lábio. Meio que seguramos a respiração quando o senhor Yang entra. Ele se senta do outro lado da mesa com uma expressão séria, olha para cada um de nós e passa as mãos no rosto, soltando o ar pela boca de um jeito ruim.
— Acho que não preciso dizer que as notícias não são boas — diz, enfim.
— Qual o problema? — pergunto. — O que houve?
— As vendas do primeiro álbum estão baixas, o acesso aos conteúdos de vocês nas redes estancou, entre outras coisas — nós olhamos uns para os outros, afetados. — A Moon Records não é uma gravadora muito grande, não podemos continuar investindo em projetos sem retorno lucrativo favorável. Não me entendam mal, acredito que todos podem ser muito famosos, mas não juntos e talvez em outra gravadora. Depois de uma longa reunião, porém, decidimos que queremos continuar com o Castiel. Você tem grande potencial para uma carreira solo. O que acha? Se aceitar, redigiremos um novo contrato. Se recusar, será dispensado com os outros. Está em suas mãos.
Meus pensamentos ficam confusos; não estou olhando para ninguém, mas posso sentir todos os olhos em mim. Não acredito que meu sonho, nosso sonho, está escorrendo entre nossos dedos assim, de repente.
— Não pode ser — Keith protesta. — Tudo estava indo bem, como pode ter desmoronado do nada? E que história é essa de nos dispensar? Temos um contrato! Têm que ficar conosco por um ano, pelo menos.
— Sinto muito, garoto, mas é como a indústria funciona. Já deveria saber disso.
— Não está certo!
— Não faço as regras, Keith. Castiel?
Levanto a cabeça. Estou quente e gelado, e meus pensamentos continuam uma bagunça. Vergonhosamente, só queria sair daqui e chorar em algum lugar onde ninguém possa me ver. O senhor Yang arqueia as sobrancelhas e me lembro de que preciso lhe dar uma resposta.
— Não — tento soar firme, mas minha voz está meio embargada. Engulo um nó na garganta. — Minha resposta é não. Somos um time. Se eles estão fora, então também estou.
— Tem certeza disso? Você tem muito potencial. Vai mesmo jogar isso fora?
— Esses caras me deram uma oportunidade, estamos nessa juntos. Não vou deixá-los para trás. Ou fica com todo mundo, ou com ninguém.
— É isso aí — Keith reforça. — Somos um time. T-I-M-E. E quer saber? Somos muito bons, somos bons pra caralho. Talvez os sem talento sejam vocês, é por isso que a Moon Records não é uma grande gravadora. Nós é que não queremos ficar aqui, valeu? Fiquem com seus microfones, estúdios e bebedouros que produzem gelo, não precisamos de nada disso. Keith Hartwell vai embora de cabeça erguida! Vamos, galera.
Todos nos levantamos e seguimos para a porta, fingindo estar muito mais determinados a abandonar tudo do que realmente estamos. É óbvio que iremos direto para um bar, encher a cara e nos lamentar, embora não seja nem meio dia.