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[ 13 de novembro, domingo ]




Noto, entre uma garfada de macarronada e outra, que Leigh está nervoso. Ele fica mordendo a bochecha, suspirando, batucando na mesa com a ponta dos dedos e já passou tanto a mão no cabelo, que formou uma espécie de topete charmoso. Solto o garfo e tomo um gole do suco de maçã antes de começar a falar.

— Primeiro as flores, depois um almoço romântico no jardim — limpo a boca com um guardanapo. — Achei que estivesse tentando me levar pra cama, apesar de ser meio dia e pouco, mas agora acho que está preparando o terreno para dar uma notícia ruim. O que foi? Me traiu?

— É claro que não! — ele nega imediatamente, horrorizado.

— Relaxa, lindo, é brincadeira. Eu sei que seria incapaz de me trair, você nem assiste House Of Dragon sem mim — sorrio. — Então, por que está tão nervoso? Se tiver algo te perturbando, pode me contar.

— Não... Vamos terminar o almoço primeiro.

— Já comi o suficiente.

— Ainda tem comida no seu prato.

— Leigh, qual é — insisto. — Você quase nem tocou na comida. Anda, fala comigo. Qual é o problema?

Ele morde o lábio e se recosta na cadeira, balançando a perna.

— Não... Não é um problema. É que estive pensando ultimamente e, bom, você sabe que a casa tem estado muito vazia desde que Lysandre foi embora e me sinto um tanto quanto solitário. E você também sabe que te amo. Talvez ache que é precipitado e não esteja pronto para isso, não quero que se sinta pressionado a aceitar, nossa relação não vai ficar abalada caso recuse, porém serei o homem mais feliz do mundo se disser que sim.

— Leigh, está fazendo minha cabeça rodar. Está me pedindo em casamento, é isso?

— Você não é nada romântico — ele ri. — Não, ainda não estou te pedindo em casamento. No entanto, estou te pedindo para morar comigo. Pense, não seria formidável? Você já dorme aqui várias noites por semana, de qualquer maneira.

— Hm, é uma proposta interessante. Eu ficaria com o quarto do seu irmão ou com o quarto de hóspedes?

— Acho que minha cama é grande o bastante para nós dois.

— Oh, sim, sabemos que é — balanço as sobrancelhas. — Tem certeza disso, Leigh? Passar umas noites aqui é uma coisa, viver juntos é outra. Acha que está preparado para ter Keith Hartwell em sua glória total? Não vai poder me despachar se ficar de saco cheio, minha mãe não aceita devolução.

— Sim, tenho absoluta certeza. Eu nunca vou querer te devolver, Keith, seria como abrir mão do pote de ouro no fim do arco-íris — ele pega minha mão. — Pode me dar uma resposta e acabar com minha agonia? Eu prometo que serei um excelente... colega de casa.

— Colega de casa? — solto uma gargalhada. — Que broxante, Leigh. Você é meu namorado, não meu amiguinho.

— Só tentei evitar a palavra " marido " — ele explica, meio sem jeito. — Então?

— Ok, me deixe analisar — me ajeito na cadeira e entrelaço os dedos sobre a mesa, como se estivesse refletindo numa super proposta de trabalho. — Se eu disser que sim, poderei viver nesse casarão, poderei te ver todas as manhãs, e você sabe que adoro te ver com a cara inchada e o cabelo bagunçado, poderei comer sua comida todos os dias e vamos passar mais tempo juntos. Sem contar o colchão de penas, a hidromassagem e a torneira que faz água com gás. É, me parece bastante vantajoso. Eu aceito.

Estendo a mão e Leigh a aperta, sorrindo.

— Às vezes, acho que está comigo só pelo dinheiro.

— Sou um artigo de luxo, bebê. Você sabe que só estou te provocando.

— Sim, eu sei. Quando pretende se mudar? Pode ser hoje mesmo, se quiser.

— Relaxa, está ansioso como se não fosse dormir comigo essa noite — pego sua mão e beijo o nó de seus dedos. — Vamos ficar de boa hoje, tá legal? Amanhã eu converso com a minha mãe e a gente vê o lance da mudança. Vou te dar um dia para garantir que não vai mudar de ideia.

— Keith, estou pensando nisso há um mês. Não vou mudar de ideia. Meu medo é que você mude.

— Rá, sem chance. Estarei morando aqui até o fim da semana e serei oficialmente problema seu.

— Não sabe o quanto isso me fará feliz.

Leigh abre um sorriso tão doce e carinhoso que me sinto tomado por emoções por um instante. Às vezes fico ciente demais do quanto ele gosta de mim e fico desconcertado, porque não sei se o mereço. Não sei como retribuir seu amor com palavras, então passo da cadeira para o seu colo e início um beijo lento que espero que transmita bem meus sentimentos.

— Escuta, por que não limpamos tudo e entramos? Está ficando meio frio — sugiro, passando os dedos por seu cabelo macio. — Podemos... comemorar... o início dessa nova etapa no nosso relacionamento. O que acha?

— Claro, e o que sugere? Uma taça de vinho e um pouco de música?

— Tá, tudo bem. Minha ideia é outra, mas podemos começar por aí.

Depois de recolher toda a louça e colocá-la no lava-louças, nós pegamos duas taças e vamos para a sala de estar. Aguardo enquanto Leigh pega uma garrafa de vinho na adega e observo com cobiça enquanto ele nos serve. Ele está tão sexy com essa calça branca de linho, o suéter bege e o relógio de pulso. Apenas Leigh Frey consegue ficar gostoso com roupas de mauricinho. Ele coloca jazz suave na vitrola e se senta ao meu lado.

— A nós — ele diz, oferecendo a taça para um brinde.

— Tintim — tomo um gole da bebida e coloco minhas pernas sobre a dele. — Vai ser ótimo poder ficar assim com você todos os dias. Você tem cheirinho de conforto, tipo o cachorro de pelúcia com quem eu dormia quando era criança. Quer transar?

Leigh quase engasga com o vinho.

— Uau, você vai de zero a cem muito rápido. Nós acabamos de almoçar, pode dar indigestão, é melhor esperar uma hora.

— Quem é você? Minha mãe?

— Espero que não, seria estranho.

— Lindo, não vai dar indigestão. Indigestão não existe, é só um mito criado pelas autoridades para nos proibir de fazer coisas maneiras. É uma coleira colocada ao redor do nosso pescoço pelo governo para nos manter sob controle.

— Você não diria isso se tivesse visto a indigestão terrível que acometeu meu irmão uma vez, quando éramos mais novos.

Faço cara de tédio.

— Aham. Vai ficar falando sobre o estômago disfuncional do seu irmão ou vai tirar minhas roupas?

Leigh emite um chiado, me analisando.

— Não sei, não... Você fica tão bonito com essa camiseta " vote Hillary Clinton ". Afinal, por que tem tantas camisetas de políticos?

— Comprei uma caixa cheia numa venda de garagem por um dólar.

— Por que?

— Porque eu tinha um dólar e estava chapado.

Leigh solta uma gargalhada, depois coloca ambas as nossas taças sobre a mesa de centro.

— Tá legal, agora me sinto estimulado — declara, me fazendo deitar enquanto avança sobre mim.

— Oh, yeah, meu velhinho sexy.

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