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[ 12 de novembro, sábado ]




Se ontem eu estava mal, hoje estou mil vezes pior. Foi burrice ter bebido quando já não estava num estado muito bom — eu estava ciente disso enquanto bebia uma cerveja atrás da outra —, mas precisava de um pouco de álcool depois daquele pico de estresse. Felizmente é sábado, então poderei ficar em casa e tentar me recuperar o melhor possível.

A primeira coisa que fiz ao abrir os olhos foi correr pro banheiro e botar os bofes pra fora outra vez. Castiel se ofereceu para ficar comigo, mas recusei. Seja lá o que tenho, não é grave o suficiente para fazê-lo perder um dia de trabalho. Recusar a companhia da minha irmã, no entanto, foi impossível. Quando soube que estou doente ela insistiu em vir cuidar de mim, embora não tenha realmente nada que ela possa fazer. O lado bom é que ela tirou o pó dos móveis e colocou as roupas para lavar.

— Você parece péssima — Ana diz sentando-se no sofá de dois lugares, já que estou ocupando o de três. — Nem comeu toda a sopa no almoço e colocou tudo pra fora. É estranho estar tão mal do estômago e não ter tido febre. Será que não está grávida? A mamãe vomitava assim no início da gestação.

— Não estou grávida — nego fracamente.

— Tem certeza?

— Tenho. Fiz três testes ontem; um deu positivo, mas dois deram negativo. A maioria vence.

— Testes de farmácia não são cem por cento confiáveis, irmãzinha. Se um deu positivo, você deveria verificar. Faz o exame de sangue, esse sim vai te dar uma resposta definitiva.

— Para quê? Seria dinheiro jogado fora. Não é possível que dois testes dêem a resposta errada, sendo totalmente confiáveis ou não.

— Ari, você está com sintomas — ela insiste. — Acho que tem medo de saber a verdade. Um resultado positivo não vai arruinar sua vida, sabia?

— Ana, hoje é só o segundo dia em que estou mal. Se persistir eu juro que faço o exame de sangue, tá legal? Mas, só para você saber, um feto em formação não é a única coisa que provoca ânsias de vômito.

Ela concorda a contra gosto. A verdade é que não deixei de pensar em gravidez desde ontem — a possibilidade foi muito real. Sei que minha reação fez parecer que eu odiaria ter um bebê agora, mas não é isso. Eu amaria ter um filho — até três, na verdade —, só não quero pular etapas. Quero me casar, quero me formar e aí, então, ter filhos. Acho que me sentirei mais segura com o lance da maternidade quando for, de fato, uma adulta.

Ana precisa ir embora por volta das quatro da tarde; ela arranjou um emprego de terça à sábado. Menos de vinte minutos depois que ela vai embora, Castiel chega — e não está sozinho. Megan o segue para dentro do apartamento, linda como sempre, enquanto eu pareço um zumbi. Me ajeito no sofá. Por que diabos eles estão aqui, juntos?

— Oi, amor — Castiel beija minha testa e se senta sobre a mesa de centro para ficarmos frente a frente. — Se sente melhor?

— Não muito, para falar a verdade.

— Me deram uma pausa, então trouxe um remédio para enjôo — ele me estende a sacolinha que está segurando. — A Megan se ofereceu para vir comigo.

— Legal — sorrio para a modelo. — Achei que seus compromissos na gravadora tivessem acabado...

— Bom, tecnicamente acabaram. Mas eu gosto dos meninos, então continuo indo para vê-los.

— É bom que esteja aqui, na verdade. Acabei de me lembrar que tenho algo pra te falar — me levanto, mas mantenho distância dela. — Eu tenho um amigo, você não conhece, que está interessado em você.

— Sério? — Megan parece confusa, mas sorri. — Quem é?

— É o Nathaniel, ele mora dez andares abaixo de nós.

— Ah, legal. Como ele me conhece?

— Pelo Castiel. Aparentemente, ele fala muito sobre você — mando um sorriso ácido pro meu noivo, que arqueia as sobrancelhas.

— Fala mesmo?

O sorriso da Megan aumenta quando ela olha pro Castiel. Isso aconteceu várias vezes no estúdio; notei quando fui visitá-los. Pressiono as unhas contra a palma da mão.

— É. Mesmo — respondo, tensa. — Ele deve estar em casa, caso queira conhecê-lo. Quinto andar. O Nate é um cara legal, divertido e, o mais importante de tudo, solteiro. Não é legal quando nos interessamos por um cara e ele é descompromissado?

— Huh... Acho que sim — Megan lança um olhar desconcertado de mim para o Castiel. — Então, ok, eu vou ver se o Nathaniel está em casa.

— Eu te chamo quando for voltar para a gravadora — Castiel diz, enquanto a menina sai do apartamento. Pego uma almofada e bato nele. — Ei, para! Que merda é essa? Eu te trago remédio e é assim que agradece?

— Pode me dizer por que trouxe a Megan? — esbravejo, largando a almofada.

— Ela quis vir!

— E?

— Vocês interagiram poucas vezes, achei que seria bom se conversassem mais. Se der uma chance, Greene, vai ver que a Megan é gente boa.

— Como vou me dar bem com uma garota que está a fim do meu noivo? Não dá, Castiel. Sempre que me encontrar com ela só vou conseguir pensar que uma garota super linda e bacana está a fim de você. Quer dizer, várias estão, mas a Megan está perto. Quem me garante que você não vai cair nos encantos dela?

— Ora, eu garanto — ele se levanta e me abraça. Mantenho os braços cruzados. — Para de bobagem, garotinha, pelo amor de Deus. A Megan não está a fim de mim, não viaja, ela só quer amigos. Essas paranóias vão sumir se se entender com ela.

— Sei, porque ela é super maravilhosa, não é isso? — rebato, me afastando de seus braços. — Eu tenho cara de boba, Castiel, mas não sou.

— Você é boba sim, Greene, por pensar essas coisas. Pega leve, ok? Vem, vou te dar o remédio de enjôo.

Castiel pega minha mão, a sacola e me puxa para a cozinha.

— Não preciso que você me dê nada, eu posso me cuidar sozinha.

— Não estou nem aí. Eu te amo e vou cuidar de você, goste disso ou não. Faça quanto drama quiser.

Ele me solta para pegar uma colher na gaveta da pia.

— Você é um abusado.

— E você é difícil, Greene, caralho. A sorte é que te amo tanto quanto você me dá nos nervos — Castiel se aproxima com a colher cheia de remédio. — Vamos lá, olha o aviãozinho. Se tomar tudo, ganha um beijo.

— Não pode me beijar, e se ficar doente também?

— Vou correr o risco. Agora, abra a boca.

Obedeço, ainda emburrada. O gosto não é nada agradável.

— Prontinho, viu só? — ele sorri, jogando a colher na pia, depois segura meu rosto. — Agora, o beijo. Logo vai ficar melhor, minha garotinha ciumenta. Eu tenho que voltar pro estúdio. Tenta comer alguma coisa, beba um suco e para de encher a cabeça com caraminholas. Nos vemos à noite.

Permaneço na cozinha até ele sair do apartamento, depois volto para o sofá.

— Isso, vai chamar a Megan — resmungo. — Pensa que eu sou boba.

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