[ 23 de outubro, domingo ]
Estou comendo um donut e tomando um copo de café na escadaria no prédio quando um carro para no acostamento. Nathaniel sai dele, usando a mesma roupa de ontem à noite, e se despede do motorista escandalosamente. Ele sobe os degraus em meio a um bocejo, mas para quando me vê.
— Bom dia — deseja, sorrindo.
— Bom dia, baladeiro — respondo. — Não acredito que só está voltando agora. Você sequer dormiu?
— Não mesmo. Que horas são?
Confiro as horas no celular. Nathaniel se senta ao meu lado, bocejando outra vez.
— Oito e dez.
— Por que está tomando café aqui fora?
— Porque Castiel e eu brigamos e não quero falar com ele agora.
— A noite não foi muito boa, então — ele constata, dando um gole no meu café. Não reclamo; sua cara está péssima. — O que houve? — conto-lhe a história. — É... Esses são os ossos de se relacionar com pessoas do meio artístico. Essa galera está sempre na correria.
— Você acha que eu exagerei?
— Oh, não, me deixe fora disso. Em briga de marido e mulher não se mete a colher.
— Eu te dou permissão para meter a colher.
Seu rosto assume uma expressão de quem está pensando seriamente em fazer uma gracinha, mas ele não faz.
— Não acho que nenhum dos dois esteja totalmente errado, para ser sincero. Vocês precisam ter paciência e aprender a administrar o tempo apertado, só isso.
— Não é tão simples quanto parece.
— O amor nunca é, né? — Nate sorri. — Não que eu entenda algo sobre o assunto. Sou um garanhão indomável.
— Quer dizer que nunca vai se amarrar? — arqueio as sobrancelhas.
— Não sei, me diz você — fecho a cara. — Desculpa, velhos hábitos são difíceis de eliminar.
Ouvimos passos e alguém para atrás de nós. Ambos erguemos a cabeça para encontrar o Castiel, que parece ter acabado de sair da cama. Nathaniel solta o ar pela boca e se levanta com um grunhido.
— Bom, essa é minha deixa. Estou louco para cair na cama — ele diz, se espreguiçando, então aperta o ombro do Castiel. — Boa sorte, cara. Se a coisa ficar feia e você precisar de outro lugar para dormir, é bem-vindo no meu sofá.
Castiel não oferece nenhuma resposta, além de um contato visual silencioso, e o Nate vai embora sem mais delongas. Não olho para o meu noivo enquanto ele se acomoda no mesmo lugar onde nosso vizinho estava há um minuto, apenas foco no meu donut. A verdade é que nem estou com muita fome; a rosquinha está praticamente inteira.
— Então, agora vai fugir de mim? — Castiel pergunta em um tom neutro.
— Se eu quisesse fugir iria para um lugar muito mais distante que a escadaria do prédio.
— Nós não fazemos isso, Greene. Se existe um problema, a gente resolve. Não vamos começar a agir como crianças a essa altura do campeonato.
— Como sabia que eu estaria aqui? — pergunto após um momento de silêncio.
— A linha vermelha do destino que nos une me guiou — não consigo evitar sorrir um pouco. — Eu não sabia que estaria aqui. Estava disposto a subir na moto e te procurar.