[ 01 de fevereiro, quarta-feira ]
Estou no meio de uma aula quando meu celular começa a tocar escandalosamente em cima da mesa, preenchendo o ambiente com uma música da Crowstorm. Pego o aparelho rapidamente e olho ao redor, abrindo um sorriso sem graça ao constatar que toda a atenção está em mim. Como se eu precisasse disso; as pessoas me param o tempo todo para especular sobre a gravidez ou falar do Castiel. Acho que sou até meio popular no campus — tudo bem que é porque tenho um namorado rumo à fama, e porque vou parir uma ninhada igual a um gato, mas conta. Peço desculpas e vôo para o corredor.
— Alô?
— Ariane, filha, preciso que me ajude — mamãe diz do outro lado. — Estou sozinha em casa, seu pai não atende o celular e acho que entrei em trabalho de parto.
— Ai, meu Deus — boto a mão na testa. — Fique tranquila, chego rapidinho.
Volto para a sala, recolho meus materiais apressadamente e saio correndo sem dar explicações. Já está ficando difícil correr com essa barriga. A universidade fica do outro lado da cidade, mas acelero o máximo possível e chego na casa dos meus pais em poucos minutos. Mamãe está sentada na varanda. Enfio as malas no banco traseiro e a ajudo a entrar no carro.
— Obrigada por vir, querida — mamãe agradece, respirando como um cachorro. — O celular do seu pai deve estar sem bateria.
— Tudo bem, mãe, não tem problema. Aguenta firme, vamos chegar rápido ao hospital, ok?
E chegamos mesmo, embora eu tenha que passar por uns três sinais vermelhos. Acho que estou tão desesperada quanto a mamãe. Uma enfermeira traz uma cadeira de rodas assim que informo o que está acontecendo, e eu assino a papelada no balcão. Uma médica já está no quarto quando entro; ela diz que o bebê provavelmente levará algumas horas para nascer e que cuidarão bem da minha mãe. Ela também pede que eu as deixe a sós por um momento.
Há um bebedouro no final do corredor. Encho um copo descartável com água gelada e me sento numa cadeira disponível. Pego o celular e disco o número do Castiel. Ele demora um pouco para atender.
— Oi, amor.
— Preciso que venha ao hospital, depressa — vou direto ao ponto.
— Por que? Você se machucou? Aconteceu algo com os bebês?
— Eu estou bem, mas preciso que venha, por favor. Rápido.
— Tá, tudo bem, chego em alguns minutos.
Desço até a sala de espera na frente da recepção para esperá-lo. Tento falar com o papai enquanto isso, mas todas as chamadas vão direto para a caixa postal. Que droga! Ariana também não atende. Ambos devem estar com o telefone desligado porque estão no trabalho. Castiel chega uns vinte minutos depois, parecendo desesperado, e me levanto para recebê-lo.
— O que aconteceu? — pergunta, passando os olhos por meu corpo para conferir se não tenho nenhum ferimento.
— Minha mãe entrou em trabalho de parto.
— Certo... Por que me tirou do trabalho? Não é seu pai quem deveria estar aqui?
— É, mas ele não está atendendo, e preciso que você fique com a minha mãe, caso o bebê nasça antes do que esperamos.
— O que?! Ficou maluca, criatura?
— Por favor, Castiel, não quero deixá-la sozinha — imploro.
— Então, fique com ela.
— Não posso!
— Por que não?