[ 06 de dezembro, segunda-feira ]
Ariana solta um daqueles gritos que assustam pássaros a quilômetros de distância quando dou a notícia. Estamos nos fundos da lanchonete, mas tenho certeza que todos os fregueses lá dentro a ouviram. Lysandre solta uma espécie de grito também, embora não tão alto, e me envolve num abraço de urso. Minha irmã me abraça também e, por um momento, me sinto como a mortadela num sanduíche.
— Eu vou ser titia! Titia! Há quanto tempo descobriu que está grávida? Por que não contou antes? Quem mais sabe?
— Há algumas semanas, porque não estava preparada para contar e Keith e Leigh — tento responder todas as perguntas em ordem. — Por favor, não façam uma tempestade, ok? Essa gravidez ainda me deixa mais preocupada que empolgada. A verdade é que nem pretendia contar para mais ninguém agora, mas, não sei, achei que seria injusto não deixar pelo menos vocês dois saberem. Pensei nisso a noite toda.
— Ari, é uma notícia maravilhosa! — Lysandre sorri. — Caramba, você e Castiel vão ser pais! Isso supera todas as minhas aventuras na faculdade.
— É, é ótimo, mas é assustador também. Castiel nem vai comigo no primeiro ultrassom porque vai passar um mês fora.
— Vamos fazer um chá revelação? Chá de bebê? Eu planejarei tudo, não precisa se preocupar com nada. Vai ficar incrível, prometo. A mamãe pode fazer o bolo.
— Ana, a criança não tem nem um mês — balanço a cabeça. — Além do mais, não quero que nossos pais saibam por enquanto. A mamãe também está grávida, lembra? É... estranho.
— Então, é um segredo? Castiel está de acordo com o fato de nós sabermos? Melhor ainda, ele está de acordo com o fato de eu saber? — Lysandre arqueia as sobrancelhas.
— Castiel não pode opinar, já que ele contou pra Megan sem minha permissão.
— Titia! — Ana coloca a mão na minha barriga, se curvando um pouco. — Será que vai ser uma menininha ou um menininho? Que loucura, seu filho será apenas alguns meses mais novo que nosso irmão. Vou vomitar arco-íris com tantos bebês ao meu redor.
— Está fazendo tempestade — digo.
— Desculpa, é que estou tão feliz. Você está noiva, vai ser mãe... As coisas mudaram tanto em um ano. Ai, acho que vou chorar — ela abana as mãos na frente dos olhos e busca refúgio nos braços do Lysandre. — Vamos ser os padrinhos, certo?
— Sinceramente, estou mais preocupada com onde vamos enfiar um berço do que com essa história de padrinhos. E o Keith já está na fila.
Ariana segura minhas mãos.
— Não se preocupe, irmãzinha, vamos dar um jeito em tudo. Tenho certeza que podemos encontrar coisas que se adaptem bem ao espaço do seu apartamento. Quanto ao ultrassom, eu te acompanho.
— Também posso ir, se quiser — Lysandre se oferece. — Isto é, se não achar muito invasivo.
— Pode ser — sorrio. — Eu ia sozinha, mas...
— Não, não pode ir sozinha! É seu primeiro filho, precisa de apoio emocional. Estaremos lá. Vai ser como uma excursão ao seu útero, super divertido.
Quase engasgo com a saliva.
— Ora, não fique tímida, Lysandre já está acostumado com essas coisas. Ele me acompanhou na minha última ida ao ginecologista. Foi meu primeiro transvaginal com plateia.
Dessa vez, tanto eu quanto Lysandre temos um ataque de tosse. Para quem queria ir com calma, Ariana ficou a vontade bem rápido. O que me assusta mais é o uso da palavra " primeiro ", que implica na intenção dela de levar o Lys para mais exames ginecológicos. Essa é uma ideia peculiar de encontros. Por sorte, sou poupada de mais constrangimento pelo Toby, que aparece para pedir ajuda.