[ 17 de agosto, segunda-feira ]
— O que é isso?
— Oferta de paz.
— Um pacotinho de bolacha de água e sal? — Amelie arqueia as sobrancelhas, balançando a embalagem prateada. — Eles não dão essas coisas de graça na recepção?
— É simbólico — explico. — Minha mulher está puta comigo, então queria ver se você está de boa, pelo menos. Não quero duas mulheres me odiando ao mesmo tempo, vocês podem se unir pra me matar.
— Relaxa, são águas passadas — ela abana a mão. — Tive o domingo todo pra esfriar a cabeça. Jake me ajudou.
— É, imagino como.
— Mas seu fim de semana não foi tão bom, imagino.
— Não. Ariane me fez várias perguntas, não curtiu as respostas e agora está de ovo virado.
— Vai passar. Ela só deve estar enciumada.
— Provavelmente. Você é mulher, tem alguma dica do que eu posso fazer?
— Pode se ajoelhar aos pés dela, implorar por perdão e dizer que estava totalmente errado por ficar com outras garotas antes dela.
— Claro. Por que não a deixo colocar uma coleira no meu pescoço também?
— Pelo que eu soube, você já está na coleira — provoca. — Só dê um tempo pra ela, ok? Preciso ir, tenho cafézinhos para servir, coisas para imprimir, recados para anotar... Valeu pelos biscoitos.Enquanto Amelie se levanta, Ariane entra no refeitório e vai direto pro buffet. Não hesito antes de correr até ela. Hayley está em seu colo e solta um ruído supostamente empolgado quando me vê.
— Oi, gatinha — sorrio. — Vem com o papai.
Ariane deixa que eu pegue a neném, mas, ao contrário dela, não parece nem um pouco feliz em me ver. A acompanho em silêncio enquanto ela escolhe o que vai comer, depois quando ela se dirige a uma mesa vazia perto da janela.
— Minha bandeja está ali, por que não se sentou lá?
— Porque quero garantir que não vou comer onde você e a Amelie transaram. Já passei muito tempo fazendo isso.
— Você é muito difícil, sabia? — ela dá de ombros. — Posso me sentar aqui, então?
— Faça o que quiser, Castiel.
Ah, a resposta maldita. Mas, como disse David Guetta, eu sou feito de titânio. Pego minha bandeja e me sento com a minha esposa zangada, que sequer olha pra mim. Tudo bem.
— Onde estão os outros dois?
— Com o Mark.
— E por que trouxe a Hayley? Sei que não ia pedir pra eu ficar com ela enquanto você come, já que não quer falar comigo.
Ariane olha para cima e solta o ar com irritação, então volta a focar na comida.
— Você me faz querer bater a cabeça na parede até sangrar — digo.
— Ótimo, faça isso — ela sorri sem mostrar os dentes.
— O que quer de mim, hein? — sussurro para não assustar a neném. — Não vou me desculpar por ter um passado, Greene. Como já falei, naquela época eu nem sonhava que ficaríamos juntos. Queria que eu fosse celibatário?
— Queria que tivesse me avisado que outra mulher pelada deitou naquela porcaria de mesa, porque eu nunca teria tocado nela! — Ariane sussurra de volta.
— A mesa foi limpa várias vezes depois que Amelie e eu a usamos, cacete.
— Você não está se ajudando, Castiel.
— Olha, que diferença faz se transei com outras garotas na mesa? Minhas melhores e preferidas memórias são todas com você.
— Devia ter mandado plastificar aquele apartamento inteiro.
— Você nunca se incomodou de dormir na cama, e outras mulheres já estiveram lá também.
— Falta isso aqui pra eu te jogar pela janela — ela ameaça, gesticulando com os dedos.
— Porra, Greene, pega leve! Não pode me crucificar por ter transado com outras. Você teria feito o mesmo se o Lysandre tivesse te dado bola, nem adianta tentar negar.
Mal acabo de falar, um pum incrivelmente alto soa pelo espaço. Nós dois olhamos para a Hayley, que parece bem feliz depois de se aliviar.
— Caralho! — exclamo, impressionado. — Benza Deus, minha filha.
Quando olho pra Ariane, ela está tentando segurar o riso, o que me faz querer rir também. Nós gargalhamos juntos. Sei que isso não significa que ela não está mais brava, mas já é alguma coisa.
— Ela com certeza sujou a fralda. Essa é por sua conta, Chase. As bolsas estão com o Mark.
— Tá, mas esse papo não acabou, Greene.