[ 29 de janeiro, domingo ]
— Oi. Estava te procurando.
Leigh olha para mim de onde está sentado, ao lado de uma pilha de feno no celeiro. Ele está usando pijamas — comuns, não os chiques que costuma vestir —, chinelos e o cabelo está bagunçado. Meu coração dói ao vê-lo assim, abatido e com olhos vermelhos. O funeral foi ontem à noite, e acho que ele não parou de chorar desde então, embora tente parecer firme perante a mãe e o irmão.
— Me encontrou — responde com um sorriso fraco.
— Trouxe chá — lhe ofereço a caneca enquanto me sento ao seu lado, também de pijama. — Como está se sentindo?
— Exaurido. Não dormi muito bem.
— Eu sei — suspiro, afastando uma mecha de cabelo de seu rosto. — Quer que eu te deixe sozinho?
— Não — ele balança a cabeça e se ajeita para se aconchegar sob meu braço. Leigh é maior que eu, mas parece pequeno e frágil agora. — Você é a única coisa capaz de fazer eu me sentir um pouco melhor agora. Graças a Deus, te deixaram vir comigo.
— Não deixaram, na verdade — confesso. Ele me olha com espanto. — Tive uma discussão meio feia com o senhor Yang e vim mesmo assim.
— Por que fez isso? Não quero que se encrenque por minha causa.
— O álbum já foi lançado. Tenho certeza de que podem se virar sem mim por dois ou três dias, enquanto ofereço apoio emocional ao meu namorado que acabou de perder o pai. Você teria feito o mesmo por mim.
— Mas eu não corro risco de ficar mal com o chefe.
— Não me interessa, Leigh. Por mais importante que a Crowstorm seja, minha vida não gira em torno apenas disso. Você também é muito importante para mim, e é por isso que estou aqui.
— Obrigado. Acho que nunca poderia te agradecer o bastante.
— Ficarei feliz se tomar o chá e comer alguma coisa. Está com o estômago vazio desde ontem de manhã.
— Não tenho vontade de comer nada — ele funga, contornando a borda da caneca com a ponta do dedo. — Meu coração dói tanto, que preenche cada canto do meu corpo.
— Eu sei, lindo. Eu sei — comprimo os lábios, puxando-o para o meu peito. — Só que não pode ficar sem comer. Não quero que desmaie em algum canto por aí.
— Farei um esforço.
Não há muito o que ser dito nesse momento, então ficamos em silêncio. Leigh dá algumas goladas no chá enquanto faço cafuné em seu cabelo, mas abandona a caneca quase cheia. Não posso dizer que estou de luto porque, infelizmente, não pude conhecer meu sogro muito bem em vida, mas ver o Leigh assim me quebra. Leigh Frey, sempre tão doce, gentil e sorridente. Passo o dedo suavemente pelo lugar onde suas covinhas costumam aparecer quando sorri. Daria tudo para vê-las agora, em vez das lágrimas silenciosas.
— Por que não damos uma volta? — sugiro. — Soube que tem uma cachoeira por aqui. Pode me mostrar.
— Está frio demais para nadar...
— Não precisamos nadar. É apenas para espairecer.
— Talvez, mais tarde — ele tira um pelo da minha calça.
— Ok, então tente dormir um pouco. Eu fico com você, se quiser.
— Tudo bem.
A casa onde o Leigh cresceu é humilde, embora seja adorável e bem cuidada. Por mais que ele envie uma quantia em dinheiro todo mês, seus pais nunca quiseram se encher de luxos — toda a grana é usada para pagar reparos necessários aqui e ali, além de comprar comida, utensílios e rações para os animais. Apesar disso, construíram mais um quarto para que Leigh e Lysandre não precisassem mais dividir um quando viessem visitar.