[ 15 de agosto, sábado ]
Tenho falado bem do Jake sempre que cruzo com a Amelie pela empresa, mesmo que esteja só de passagem. Às vezes nem me dirijo diretamente a ela, só me certifico de que esteja sendo ouvido. Jake já a chamou pra sair mais de uma vez e Amelie aceitou, aparentemente estão se dando muito bem, mas todo cuidado é pouco. O inimigo é traiçoeiro.
Apesar da minha paranóia ( palavras do Mark ), Amelie e Ariane se entendem bem. Não são melhores amigas nem nada, mas conversam e riem juntas. Tenho certo receio em deixá-las sozinhas porque posso virar o foco do assunto, mas não posso estar sempre presente sem parecer suspeito. Com sorte, trivialidades e as crianças tiram toda a atenção de cima de mim.
Paro de andar porque a porta do armário de limpeza de abre e uma das zeladoras sai, carregando um carrinho cheio de produtos e vassouras e tudo mais. Nos cumprimentamos com um aceno de cabeça e um sorrisinho enquanto ela passa por mim. Estou prestes a continuar meu caminho, quando sou empurrado para dentro do armário aberto. Bato com tudo nas prateleiras e vassouras caem no chão.
— Que merda é essa? — esbravejo, esfregando o braço atingido.
Amelie está parada na minha frente com braços cruzados e cara fechada — a porta fechada atrás dela. Ai, droga.
— Qual é a sua, hein? — ela pergunta com irritação. — Botei o Jake contra a parede e ele me disse que você está morrendo de medo de eu contar sobre nós pra Ariane.
— Eu não quero que ela saiba, ok? Isso pode acabar em confusão.
— Escuta aqui, Castiel, eu não dou a mínima pro seu relacionamento. Acha que tem uma pica de ouro, por acaso? Eu morei fora, conheci gente, dormi com vários caras, estou saindo com o Jake agora. Acha que eu tentaria estragar seu casamento por causa de umas transas que rolaram há anos atrás? Me poupe! Você nem é tão bom assim.
— Ouch.
— É por isso que tem falado tão bem do Jake pra mim? Você não presta!
— Olha, já tentaram nos sabotar antes, eu só estou sendo cuidadoso — explico. — E você deu aquele sorriso estranho quando pedi pra não falar nada pra Ariane, pensei que...
— Sei o que pensou. Vê se para de me encher, senão vou contar tudo com detalhes pra sua esposa, entendeu? — ela ameaça, cutucando meu peito com raiva. — Francamente, era só o que me faltava. E pensar que fiquei feliz em te rever.
— Tá, ok, me desculpa — me rendo. — Vou parar.
— Ótimo. E não deveria mentir pra sua mulher.
— Não estou mentindo, estou omitindo. É diferente. Nosso lance era casual, não tem necessidade de estressá-la com isso.
— Faça o que quiser.
Eu a sigo para fora do armário com o braço dolorido. Assim que saímos no corredor, nos deparamos com a Greene. Ela não abre a boca, mas olha de mim para a Amelie e da Amelie para mim.
— Olha, não é o que parece — Amelie diz e se retira com passos raivosos.
— Não é mesmo — reforço.
— Eu espero que não. Só vim avisar que já estou indo. Vou me encontrar com a minha irmã e vamos levar as crianças pra dar uma volta no shopping.
Ariane se vira e começa a se afastar, mas corro para me posicionar em sua frente. Seguro seus ombros.
— Não é mesmo o que parece, Greene.