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[ 28 de julho, terça-feira ]




  São quatro horas da manhã — se dormi duas horas essa noite, foi muito. Perdi a noção de quanto tempo faz que Hayley está chorando, e perdi a noção de quanto tempo faz que estou chorando com ela. A pobrezinha está com cólica e não há nada que eu possa fazer, além de balança-la suavemente até a dor ir embora. Odeio ver qualquer um deles com dor, e estou tão cansada.

  Saí do quarto para não acordar Emily e Kurt; estou na sala do piano. Tem uma janelona com uma bela vista do céu estrelado. Até botei uma música calminha no celular, mas não está funcionando como gostaria. Meus braços e pés doem, mas não posso me sentar porque isso só faria a neném chorar ainda mais.

  Viro assustada quando sinto uma mão no meu ombro. É o Castiel, e ele está segurando uma xícara de chá.

  — Devia ter me acordado — ele sussurra. — Me dá ela, vai se sentar e tomar o chá.

  Castiel coloca a xícara e a babá eletrônica — que não notei que ele havia trazido — sobre o piano, e pega a Hayley cuidadosamente. Pego o chá e me acomodo no assento da janela. Não me sinto mais relaxada porque o choro continua, mas me sinto muito grata pela pausa. Apesar de quente, bebo o chá em praticamente um gole só e deixo a xícara no chão.

  Acho que pego no sono sem querer porque, de repente, Castiel está chamando meu nome baixinho e Hayley não está em lugar nenhum. Me ajeito, sentindo meus braços doerem por ter dormido de mau jeito, e esfrego os olhos.

  — O que aconteceu? — pergunto, alarmada. — Hayley está bem?

  — Ela está dormindo, calma — ele me tranquiliza, segurando meus ombros. — E agora é sua vez de ir pra cama.

  — Ok — assinto com sonolência.

  — Não tem que passar por isso sozinha, Greene. Também fiz essas crianças.

  — Está tudo bem...

  — Não — balança a cabeça. — É horrível te ver chorar de exaustão. Se eu não acordar sozinho, me acorde. Você já passa o dia todo com eles.

  — E você trabalha o dia inteiro.

  — Não importa. Eles também são minha responsabilidade, e agora você também vai trabalhar.

  — Não todos os dias.

  — Se continuar teimando, serei obrigado a dar uns tapas nessa sua bunda.

  Rio preguiçosamente e apóio a cabeça em seu ombro. Começo a cochilar no mesmo segundo.

  — Pra cama, mamãe.

  Castiel passa um braço pelas minhas costas e outro sob minhas pernas, então se levanta comigo no colo. O abraço pelo pescoço e deito em seu ombro. É muito bom ser carregada.

   
                                   •

  Acordo em um sobressalto, meio perdida. Estou sozinha na cama e, apesar de o quarto estar escuro, sei que já está claro lá fora. Confiro a hora no celular, 12:30. Meu Deus! Me levanto depressa para checar os bebês, mas quem está no berço é o T'Challa. Onde estão meus filhos?! O gato não pode ter devorado eles. Alguma chance de terem escalado a grade e saído sozinhos?

  Corro para fora do quarto, pelo corredor e escada a baixo com o coração na boca. Não sei o que aconteceu — preciso achar meus filhos. Paro na porta da sala de tv. Castiel está sentado no tapete com as crianças, que estão nas cadeirinhas, assistindo Charlie e Lola. Fecho os olhos por um instante, expirando com alívio. Meus batimentos cardíacos ainda estão a mil quando checo. Castiel olha para mim e sorri.

  — Bom dia, mamãe. Dormiu bem?

  — O que faz aqui? — pergunto, me aproximando um pouco. — Por que não foi trabalhar?

  — Tirei um dia de folga como músico pra ter um dia puxado como pai — ele se levanta. — Dei mamadeira, troquei as fraldas, fiz todo mundo arrotar... Agora, estamos assistindo desenhos de pijama. Quer ver?

  Castiel vira as cadeirinhas, uma por uma, e me deparo com três nenéns de pijama ( macacões brancos ) e cabelo desgrenhado. Rio por causa da fofura. Meu marido se encontra na mesma situação.

  — Não está meio tarde pra usar pijama?

  — Não mesmo, vamos passar o dia todo assim — ele volta a virá-los para a televisão. — Está com fome? Senta aí, vou buscar o almoço para comermos juntos.

  — Preparou o almoço também?

  — Não, garotinha, eu comprei. Espero que esteja a fim de um burrito muito bem recheado.

  — Eu devoraria um elefante agora.

  Me sento no tapete — Castiel vai e volta rapidinho, carregando dois pratos com os maiores burritos que já vi na vida. Ele se senta ao meu lado. Sinto que vou pro céu quando dou a primeira mordida; não sei se porque a comida é muito boa ou porque estou muito faminta. Consigo engolir três grandes mordidas antes de o primeiro choro começar.

  — Não se mexa — Castiel ordena antes de eu sequer fazer alguma coisa. — Deixa comigo.

  — Tudo bem — deixo o prato no chão, ao meu lado. — Preciso amamentar, senão o leite empedra.

  Castiel assente, tira o Kurt da cadeirinha e me entrega. Assim que o pego, ele vomita em mim. Solto um suspiro derrotado.

  — Bom dia pra você também, filho — digo suavemente. Limpo minha camiseta e a boquinha dele com o paninho com estampa de pato, depois o acomodo para mamar. — Obrigada por ter ficado em casa hoje, é muito importante pra mim.

  — Tudo bem, amor — Castiel beija minha têmpora. — É bom aproveitar um tempo em família sem ser tarde da noite, quando estamos todos cansados — ele deita a cabeça na minha. — Quero que descanse o máximo que conseguir hoje. Não acho que vai dar pra colocar o sono em dia, mas vale a tentativa.

  — E quanto a você?

  — Não se preocupe comigo, tá legal? Quero que coma tranquilamente, tome um banho demorado, durma, leia, dê uma volta... O que quiser.

  — Ui, um dia de princesa — sorrio. — Obrigada. Gostaria de dizer que não conseguiria fazer nada sem minha família, mas tenho certeza de que vou pegar no sono facinho. Vai saber cuidar deles direitinho, não é?

  — Claro que sim, Greene. Essas crianças saíram do meu saco, vou tirar de letra.

  — Nojento — torço o nariz. — Não acredito que você é pai.

  — Loucura, né?

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