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[ 03 de maio, domingo ]





  São nove e pouco da manhã, e Castiel está sentado na poltrona do quarto de hóspedes com um bloco de notas e uma caneta nas mãos — provavelmente escrevendo uma música. Ele está tão concentrado, que não me nota parada na porta. Estou tomando coragem, tentando me convencer de que não há nada de constrangedor no que quero pedir. Respiro fundo algumas vezes, contorcendo os dedos.

  — Já te vi aí, meu bem — Castiel diz, de repente, sem tirar os olhos do caderninho. — Vai ficar aí, me admirando em silêncio?

  — Não, na verdade... Tenho algo a pedir — mordo o lábio nervosamente, dando um passo para dentro do quarto. — E você não pode dizer não, porque falou que passaríamos por todos os perrengues juntos quando descobrimos que eu estava grávida.

  — Não pode ir direto ao assunto? — pede, deixando o bloco de notas e a caneta de lado. — Está me assustando.

  — Tudo bem, olha — chego mais perto. — Eu não consigo ver nada abaixo da minha barriga, certo? O que significa que não consigo me depilar.

  — E...? — ele pergunta desconfiadamente.

  — Preciso que faça isso pra mim.

  — Quer que eu te depile?! — sua expressão é de puro espanto.

  — Se não for você, quem fará isso?

  — Pode ir numa depiladora.

  — Não vou me depilar com cera! Tem ideia de como dói? Já sinto dor o suficiente.

  — Qual é, Greene, por que isso? Você sabe que não me importo com pelos.

  — Mas eu me importo — boto as mãos na cintura. — Já cresceram demais. Passei a mão lá embaixo e está parecendo a mata atlântica! Quer que eu deixe crescer até parir? Os bebês vão se perder nesse matagal.

  — Greene, eu não...

  — Na saúde e na doença, lembra? — o interrompo. — Qual o problema? Você enfia a língua na minha vagina, mas não pode passar a gilete?

  — Não tenho argumentos contra isso.

  — Ótimo, então... Vamos.

  Aperto os olhos de vergonha assim que me viro.

  Castiel me segue até o banheiro, em silêncio. Tiro minhas roupas e entro no chuveiro. Tomo um banho rápido, então me preparo para, provavelmente, o momento mais constrangedor da minha vida. Apóio um pé na beira da banheira para facilitar o acesso. Castiel se ajoelha no chão com a gilete na mão, parecendo perdido.

  — Não tenho certeza, Greene. E se eu te machucar?

  — Você apara seus próprios pelos, é a mesma coisa.

  — Isso é estranho pra caralho.

  — Não é a melhor parte do meu dia, tá legal? — esbravejo. — Vai logo com isso, por favor. Não precisa deixar totalmente liso, só... tente tirar a maior parte dos pelos.

  — Eu devia ter lido as letras miúdas antes de assinar aquele contrato de casamento.

  — Não me estressa, Castiel. Já foi bem constrangedor te pedir isso.

  Comprimo os lábios quando sinto o toque gelado das lâminas. Taí uma coisa que ninguém te conta sobre a gravidez. Castiel passa a gilete com o maior cuidado do mundo; o que é ótimo, mas provavelmente vai prolongar o processo mais do que gostaríamos.

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