[ 23 de outubro, sexta-feira ]
— Beije o anel — estendo a mão.
Castiel para de mastigar o cereal por um instante e olha para mim com cara feia. Mais feia que o normal por conta do curativo e do olho roxo.
— Escuta aqui, eu não consigo respirar pelo nariz e minha cara dói. Se não me deixar tomar o café da manhã em paz, vou arrancar esse anel do seu dedo e enfiar bem fundo no seu...
— Ei, ei, olha a boca — repreendo. — Não vai me parabenizar por estar noivo?
— Vou parabenizar o Leigh pela coragem de passar o resto da vida contigo. Ele ficou maluco?
— Eu tenho meus charmes.
— Por exemplo?
— Não posso contar até que seja maior de idade — sorrio, me servindo uma xícara de café. Castiel grunhe. — Esse lance foi acidental mesmo? Ou você fez alguma coisa que deixou a Ari irritada?
— Foi um acidente, é claro. A única agressão física que rola no meu relacionamento é durante o sexo. Ela curte uns tapas.
— Sério? Eu também.
— Por favor, eu imploro, me deixa comer o cereal em paz!
— Tá legal, vou te dar uma colher de chá — me levanto, pegando minha xícara de café. — Vou subir e mostrar o anel pra Ari. Ela, sim, ficará feliz por mim.
— Eu estou feliz por você, Keith, não seja imbecil.
— É, eu sinto o amor.
A porta do quarto está aberta, mas dou duas batidas antes de entrar. A Ari está sentada na cama, trocando a fralda da Hayley. Sei que é a Hayley porque ela não tem uma marca de nascença perto do olho e nem um pênis.
— Bom dia, senhoritas.
— Bom dia! O que te traz à minha creche particular?
— Nada, eu só queria te ver. Ai, minha mão está tão pesada! Deve ser esse anel de noivado super incrível no meu dedo.
Ari parece confusa por um momento, até eu mostrar o anel. Ela solta o grito empolgado mais estridente que já a ouvi dar, o que faz um dos bebês no berço começar a chorar, e corre até mim.
— Você aceitou?!
— Aceitei. De hoje em diante, pode me chamar de Keith Frey — sorrio. — Se bem que meu sobrenome é muito mais legal. Talvez ele deva se tornar Leigh Hartwell.
— Isso explica todo o agito de ontem à noite.
— Vocês ouviram?
— Sempre ouvimos — arqueia as sobrancelhas. — Mas não importa, estou tão feliz por vocês! Fui com o Leigh comprar essa aliança. Ficou perfeita.
— Minha mãe vai querer dar uma festa.
— Já marcaram a data? — ela vai até o berço e dá a chupeta pro neném que não para de chorar. Não consigo ver se é a Emily ou o Kurt.
— A gente acabou de noivar, não tem nem vinte e quatro horas.
— Podemos fazer uma cerimônia dupla no jardim!
— Mas é em dois meses.
— E daí? Por que esperar? A menos que vocês sonhem em fazer algo grande e espalhafatoso, com muitos convidados.
— Não, mas... Não seria rápido demais? Vou pensar na sua proposta e falar com o Leigh — me sento na cama, perto da Hayley, e a Ari termina de trocar a fralda e vesti-la. — Ele está feliz como se tivesse ganhado na loteria. Me acordou com um monte de beijos, não parou de sorrir nem por um minuto desde ontem. É maluquice alguém estar tão feliz só por estar comigo.
— Não tem nada de maluco, seu bobo. Maluquice seria ele não estar feliz. Vocês são o par perfeito.
— É, pode ser — deixo Hayley segurar meu dedo e ela tenta levá-lo direto para a boca. — A vida muda muito depois que você se casa?
— Hum... Não. Bom, a nossa mudou porque tivemos filhos. Vocês já moram juntos, não vai ser muito diferente. As coisas vão se ajustando.
— E quanto tempo será que levará para começarmos a transar só três vezes por mês?
Ela ri.
— Se os sons que ouvimos são algum indicativo, isso nunca vai rolar. Não se preocupe demais, ok? Será maravilhoso, tenho certeza. Anda, me dá um abraço — Ari dá a volta na cama e me envolve em seus braços. Apóio o queixo em seu ombro. — Do Hummingbird até aqui... Tem sido muito legal compartilhar a vida contigo, Keith Hartwell, e eu desejo que seja muito feliz nesse novo capítulo.
Sorrio e beijo sua mão.
— Obrigado, Arianinha. Você é a minha garota preferida do mundo todo, sabia? É como a irmã que nunca tive. Tudo ficou muito mais divertido depois que você passou pela porta do Hummingbird, há três anos.
— Não me faça chorar — ela finge secar uma lágrima. — Ei, o que acha de irmos almoçar no Hummingbird hoje? Pelos velhos tempos. Faz tanto tempo que não pisamos lá e é um lugar especial. Foi onde te conheci, onde você e o Leigh se conheceram e onde Castiel e eu passamos tanto tempo juntos.
— Brigando.
— Ainda conta — dá de ombros. — Então, você topa?
— Cem por cento, meu bem — sorrio. — Em nome dos velhos tempos. Estou começando a ficar sentimental.