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[ 02 de novembro, quarta-feira ]



  Já é tarde da noite e, apesar do cansaço provocado pelas atividades do dia, não consigo pegar no sono. Keith, por outro lado, parece que morreu, com um braço sobre os olhos e o outro, jogado para fora da cama — que é pequena demais para o meu gosto. Liguei para a Ariane e conversamos por algumas horas, mas ela já foi dormir. Senti que havia algo a incomodando, embora ela tenha negado. No momento, estou matando o tempo trabalhando em uma música nova na qual estou empacado há uns dias.

  De repente, ouço batidas na porta. Confiro o horário; uma e quinze da manhã. Quem, diabos, está enchendo o saco a essa hora? Teremos que gravar uma cena de madrugada, porém não é hoje. Ignoro. Pouco tempo depois, mais batidas. Keith resmunga e se vira. Bufo, deixo o caderno e o lápis na mesa de cabeceira e saio da cama. Não me preocupo em vestir uma camiseta porque deve ser alguém da produção e eles já me viram assim um milhão de vezes.

  Não é ninguém da equipe, é a Megan. Nós conversamos mais depois do café da manhã, mas não o suficiente para eu entender o que ela está fazendo na porta do meu quarto a essa hora da madrugada. Seu cabelo cacheado está preso em um coque cheio e ela está usando pijama. Megan sorri.

  — Posso te ajudar? — pergunto, tentando não soar grosseiro.

  — Não te acordei, acordei?

  — Não. Eu estava trabalhando em uma música.

  — Ah... Desculpe incomodar a essa hora, mas não estou conseguindo dormir — ela morde o lábio. — Me revirei por horas e nada. Estava pensando se você não está a fim de dar uma volta.

  — Por que eu?

  — Porque gosto da sua companhia e, pelo que estou vendo, o Keith está no vigésimo sono — ela estica o pescoço para espionar o interior do quarto.

  — Jake e Mark...?

  — Dormindo.

  — Sei, então sou sua última opção — provoco.

  — A melhor opção, eu diria — sorri. — Então, você topa?

  — Hum... — coço a cabeça, meio desconfortável. — Não, acho que não. Está muito tarde e não conhecemos bem a cidade, pode dar merda.

  — Bom, e que tal um café? Nem precisamos sair, podemos usar as cafeteiras do saguão.

  — Tomar café a essa hora pode piorar a insônia.

  — Um chá, então — insiste. — Ou podemos só conversar até o sono bater. Por favor?

  Suspiro, esfregando a testa com o dedo, e deixo os ombros caírem. Megan não vai desistir. Posso tomar uma xícara de chá e depois fingir que estou morrendo de sono, assim ela fica satisfeita e eu não ganho fama de cuzão antipático. Não que eu dê a mínima para o que ela pense de mim, mas má fama se espalha rápido e, nesse ramo, é preferível que as pessoas pensem bem de você. Além disso, Keith pode acordar de mau humor se continuarmos conversando na porta, e a única coisa mais xarope que o Keith é o Keith de mau humor. Nem fodendo que vou aturá-lo a essa hora, obrigado.

  — Certo, eu só vou vestir uma camiseta. Pode me esperar lá embaixo.

  — Está brincando? De jeito nenhum vou andar de elevador sozinha de madrugada — ela ri. — Eu vejo filmes de terror. Te espero bem aqui.

  — Como quiser.

                                        •

  — Passou a madrugada com a Megan? — Keith pergunta, saindo do banheiro com uma toalha amarrada na cintura, e joga o celular na cama.

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